A Netflix é especialista em gerar polêmicas em cima de seus filmes.
Quem não estava vivendo debaixo de uma pedra nos últimos meses, sabe que com o lançamento de Blonde, filme baseado em uma biografia não-autorizada sobre a vida de Marilyn Monroe, a plataforma foi bastante criticada por “fetichizar” a dor e ainda desconstruir uma das figuras mais icônicas de Hollywood.
Porém, a polêmica da vez é uma bastante saudável e que promete até mesmo aguçar a curiosidade de alguns assinantes.
O filme As Linhas Tortas de Deus é o grande motivo para isso. Recém chegado na plataforma, a produção espanhola é um suspense que promete fazer com qualquer um dobre no sofá e queira prestar atenção em cada minuto passado na tela.
Mas qual será o motivo para tudo isso? O Pixel Nerd traz uma análise sobre tudo o que conseguimos reunir sobre o filme no momento.
Baseado na obra de Tocuato Luca de Tena, o filme conta com o roteiro original de Oriol Paulo, conhecido por Contratempo (2017) e Durante La Tormenta (2018) que também se encontram no catálogo extenso de filmes espanhóis da Netflix e que são tão hipnotizantes quanto.
Na trama, somos apresentados a história de Alice Gould (Bárbara Lennie), uma detetive particular que alega insanidade em um hospital psiquiátrico para investigar a morte de um dos pacientes.
Embora a premissa pareça bastante simples, o que está realmente gerando um burburinho em torno do filme são as reações de boa parte das pessoas que já viram o final dele e que ficaram chocadas com o desenrolar da trama.
Ao que tudo indica, a produção é tão cheia de plots twists e questionamentos que está sendo comparada bastante a Ilha do Medo, filme de suspense de 2010 protagonizado por Leonardo DiCaprio.
Uma vez lá, para passar despercebida, Alice conta com um grupo de médicos que defendem seu estado mental após suspeitarem que a moça esteja sendo alvo do próprio marido que quer nada mais, nada menos do que botar as mãos em seu dinheiro.
Mas isso é a verdade ou o que Alice quer que você pense?
Nos trazendo no dia a dia dos pacientes no hospital, começamos a acompanhar os comportamentos da detetive e a comparar cada ação sua às coisas ditas nos relatórios que a colocaram lá em primeiro lugar. Suas respostas prontas. Suar artimanhas para conseguir o que quer quando inunda um banheiro para entrar em uma sala. E sem falar que, embora em determinado momento explique o que está fazendo, é no mínimo suspeito o quanto Alice quer deixar o lugar… quase como se houvesse uma motivação real para ficar ali.
Sem dar muitos spoilers para quem quiser escolher a trama na hora de sentar no sofá, o final que está deixando muita gente encucada é bastante simples. Alice é pega em uma situação complicada quando o cliente que achava que encontraria no hospital acaba por se revelar o seu médico. Ele pergunta a ela o que fez dessa vez e na cena seguinte temos Alice encarando a câmera fixamente.
Muitos concluíram e vem concluindo que Alice nada mais é do que uma mulher enlouquecida, crente das próprias mentiras e disposta a ir contra qualquer um que negue a sua realidade alternativa. E exatamente por isso – o não saber se estamos certos em confiar nela ou não – que tem feito o filme repercutir tanto nos últimos dias.
O que há de tão explosivo em ‘As Linhas Tortas de Deus’?
A grande verdade é que ao invés de ser “explosivo”, “As Linhas Tortas de Deus” realmente acaba nos deixando com mais perguntas do que respostas.
Todo mundo sabe que algo melhor do que um final arrebatador (estou falando com você, Eu me Importo) é algo que possa ser interpretado de diversas formas, como a série Dark (2017) e a terceira temporada da aclamada série clássica Twin Peaks (2017).
E aqui, Oriol Paulo não faz diferente. Uma obra despreocupada em dar explicações e desfechos para sua audiência não é uma obra cínica ou que brinca de difícil para ser entendida, mas que na verdade busca ser algo artístico e filosófico deixando questionamentos que vão além do enredo e atravessam a psique humana.
Em poucas palavras, o fato de pensarmos se Alice é maluca ou não diz mais sobre nós mesmos do que sobre a personagem.
Mas, se você não for dado a reflexões do tipo, fique tranquilo!
O filme foi justamente criado para ser tão profundo quanto uma trama que te desafia a acreditar de um lado: quem estava certo, o marido que jogou Alice para o hospital psiquiátrico após ser envenenado ou Alice que possui mais do que motivações para desconfiar que seu algoz é o culpado por todo perrengue que ela passa durante o filme?
Atualmente, As Linhas Tortas de Deus lidera o ranking de filmes mais assistidos no Brasil, ficando à frente de produções como Natal Outra Vez? e Pinóquio de Guillermo del Toro.