O pesadelo e o horror estão de volta no segundo episódio da décima segunda temporada de American Horror Story. A série, que agora bebe da fonte da obra A Delicate Condition (Uma Condição Delicada) de Danielle Valentine, traz requintes de um horror com ares de terror psicológico, onde a gestação de uma mulher se torna o seu maior pesadelo.
Embora esteja longe de abandonar o clichê genérico ao invés de subverter também uma temática que está tão em alta, o roteiro de Jennifer Lynch dá voltas em uma trama que já conhecemos, mas que ainda deve custar a se apresentar.
Esperamos que não demore. Ryan Murphy tem fama de estragar séries com ótimos potenciais promovendo tramas arrastadas ou insatisfatórias demais, e é só uma questão de tempo para que vejamos os fãs reclamarem de mais uma temporada mediana. Ainda dá tempo de concertar.
Ao menos para uma coisa o roteiro do episódio dois serviu: apresentar Ivy, a personagem de Cara Delevigne, que assim como Kim Kardashian e Emma Roberts, fez parte do material de divulgação da série. Mesmo que não se saiba quais são suas reais intenções, nem toda maquiagem do mundo conseguiu esconder que é ela a mulher quem segue Anna Alcott para todo lado desde o começo de Delicate, e a personagem de Emma confirma isso na breve conversa entre elas no consultório.
Apostas e teorias de lado, a atuação de Cara é uma das mais sóbrias presentes na série, já que sua personagem não usa aquela “calmaria estranha” que todos os personagens da série usam. A atmosfera acaba se tornando uma muleta de interpretação de boa parte do elenco, que não busca se reinventar nem um pouco.
Existem aqueles que ainda tentarão defender o ritmo da série. Que ritmo? As sequências abruptas e devaneios vividos por Anna cansam a visão porque já vimos isso antes no episódio passado, e é uma profunda decepção que essa é uma manobra da produção de esconder as lacunas de um roteiro que está em toda parte. Em uma cena que deveria ser aterrorizante onde a personagem de Emma e Kim cantam uma canção, há uma única cena onde o espelho é quebrado e a cena nunca mais é mencionada ou revisitada. Além de ser um corte grotesco, a cena fica mais parecendo um teste de filmagem para ver se a química entre Emma e Kim estava funcionando.
O personagem de Zachary Quinto é anunciado sem alarde, uma fã de Anna morre sem maiores conclusões, outra fã causa inveja nela. O roteiro deixa migalhas de plot twists e planos que planeja trabalhar futuramente sem a menor responsabilidade e com um desleixo que nem uma série realmente pretensiosa como Scream Queens, que é do mesmo criador, teria feito em seus gloriosos dias de exibição.
A qualidade da série está baixa, tudo parece siliconizado, mecânico, com cores muito claras e uma densa Nova York de fundo colocada de maneira grotesca ali apenas para dar a série um senso de locação. Era mais fácil investir numa soap novel do que em mais uma temporada que já deveria ter aprendido com os erros de suas temporadas antecessoras.
Como já dizemos, o roteiro está dando volta, protelando momentos que deveriam ser mais decisivos, ao invés de suprir às expectativas. Se move de um ponto A para o ponto B, e de um ponto B para um ponto A. Anna está louca, Anna não está bem. Anna age como uma pessoa normalizada, depois está esfaqueando alguém. Essa não é uma proposta da série – como alguns vão gostar de defender – é um desleixo do roteiro em desenvolver personagens femininas com frases e narrativas vazias que remetem a atualidade. E sinceramente, talvez American Horror Story tenha sempre sido isso, nós quem demoramos a perceber.
Delicate é uma forte candidata a uma temporada decepcionante, um espectro sem casca e vazio que tenta emular os ingredientes que tornavam a série fenômeno de Murphy um dos carros-chefes da televisão norte-americana.
Série: American Horror Story: Delicate
Direção: Ryan Murphy
Elenco: Emma Roberts, Cara Delevingne, Kim Kardashian, Denis O’hare, Matt Czuchry.
Nota: 6,00
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