Guerra dos cem anos, tensões religiosas, famílias nobres e grandes castelos.
Esses elementos são perfeitos para a criação de um jogo com batalhas tão grandiosas quanto as porradarias de Game of Thrones, mas esse não é o foco de A Plague Tale: Innocence.
Como o próprio nome indica, a produção da desenvolvedora francesa Asobo Studio, apoiada pela Focus Home, conta uma história sobre pragas e inocência.
E, felizmente, faz isso muito bem.
Neste game, os soldados da guerra entre França e Inglaterra não tem vez: o protagonismo fica com Amicia de Rune, uma adolescente de família nobre que tem uma grande treta em suas mãos: a inquisição matou seus pais e está tentando capturar seu irmão mais novo, Hugo, que possui uma rara doença em seu sangue.
Os dois jovens até conseguem escapar, mas veem que o mundo ao seu redor está caindo por causa de uma praga colossal: uma onda de ratos contaminados está tomando o país.
Com um ambiente de guerra, fanáticos religiosos te perseguindo e uma peste mortal tomando todo o interior da França, tudo que você pode utilizar para se defender no game é uma atiradeira e sua inteligência.
Afinal, não estamos falando de soldados treinados para matar, mas de duas crianças órfãs que só querem sobreviver. Como dá pra ver, A Plague Tale é um jogo bem diferentão, e isso é um ponto que o torna tão especial.
Gameplay diversificado
Mesmo sem ter o orçamento de um exclusivo de PS4, A Plague Tale: Innocence é uma das melhores experiências single-player que tive durante o ano de 2019, e boa parte disso acontece pelo foco dos desenvolvedores no que realmente importa.
A ênfase na história é tão grande que até mesmo os capítulos são divididos como livros, mas isso não quer dizer que o gameplay é deixado de lado.
O game vem com o objetivo de oferecer uma narrativa single-player e traz uma experiência linear, sem missões secundárias ou mundo aberto.
Mesmo que isso possa afastar quem gosta de mais ação, o jogo também oferece uns toques de exploração em mecânicas de gameplay e coisas mais simples, já que você Hugo passou boa parte de sua vida em seu quarto e está descobrindo um novo mundo ao seu redor.
A narrativa é linear e vai direto ao ponto, mas explorar seus arredores pode te dar vantagens
O principal ponto que incentiva a exploração do jogo é a alquimia e upgrades de equipamentos: as mecânicas são simples e garantem uma boa diversidade na hora de jogar, o que deixa a experiência de aproveitar a história mais agradável e longe de ser monótona.
Durante sua jornada, Amicia descobre que pode usar outros elementos além de pedras com sua atiradeira, e isso torna o gameplay bem interessante e variado.
Como Amicia não é um soldado, todo o combate é baseado em lutas à distância, mecânicas de stealth e formas de escapar do confronto direto.
Você não vai encontrar brigas de espada ao estilo Chivalry em A Plague Tale, mas a experiência de combate oferecida pelo jogo é muito boa, lembrando as partes sorrateiras de games como The Last of Us.
Outro fator importante da jogabilidade são os ratos, que, no final das contas, são os piores inimigos que o jogador vai enfrentar.
Os roedores contaminados aparecem durante a noite e só podem ser erradicados com luz, o que garante momentos de tensão e puzzles interessantes para passar pelas ameaças sem ser morto.
O uso da inteligência artificial também merece destaque.
Em A Plague Tale, o jogador só controla a protagonista, mas sempre está acompanhado de um ou mais personagens que devem ser levados em consideração durante a jogabilidade.
Mais do que simples fardos que precisam ser carregados, os companheiros de viagem oferecem auxílio durante a jogabilidade, o que também é utilizado pelos desenvolvedores como gatilho para as relações pessoais da história.
História cinemática
Falando do que mais importa, a história de A Plague Tale traz um brilho especial: se você está no clima de Game of Thrones ou simplesmente tem um irmão, com certeza vai se relacionar com a narrativa do game.
A Plague Tale: Innocence é uma das melhores experiências single-player que tive durante o ano até agora
Durante todo o caminho dos protagonistas, o roteiro se aproveita da ambientação e relação entre personagens para oferecer mais camadas para a história.
E mesmo com alguns pontos ficando em aberto, a experiência narrativa entregue pelo jogo é de alta qualidade.
A relação entre irmãos de Amicia e Hugo é cativante, principalmente pela naturalidade, já que nem sempre eles estão de boa um com o outro.
Os personagens que surgem durante o caminho também agregam valor ao propósito do game: mostrar as faces da inocência em um ambiente inóspito e desesperador.
A relação entre irmãos de Amicia e Hugo é cativante
É interessante notar, também, como os adultos são retratados nesse universo: graças ao ambiente de guerra e tensão religiosa, os principais monstros enfrentados pelas crianças são seres humanos, que, salvo raras exceções, não demonstram compaixão pelos jovens e os caçam sem peso no coração.
Toda o clima criado pela história ganha vida com os belos gráficos feitos pela equipe da Asobo Studio.
Mesmo sendo um jogo de médio porte, e que não exige muito de hardware no PC, os desenvolvedores fizeram um bom trabalho na parte visual do game.
Apesar de alguns bugs que ocorrem quando uma grande quantidade de ratos aparecem, no geral, o jogo fica dentro do esperado.
Na parte de trilha sonora, A Plague Tale também não decepciona e entrega uma experiência de áudio que ressalta momentos importantes e gera tensão quando necessário.
Em suma, A Plague Tale: Innocence faz o que promete e entrega uma história sobre pragas e inocência de qualidade.
O jogo deixa de aproveitar alguns aspectos dessa construção, como evoluir o psicológico de Amicia ao assassinar inimigos, mas oferece um single-player linear de qualidade e que garante boas horas de gameplay e exploração de um mundo medieval.
Além disso, graças ao seu preço mais acessível, fica impossível não indicar esse game para quem gosta de uma boa história.
Graças ao seu preço mais acessível, fica impossível não indicar esse game para quem gosta de uma boa história.
Mais do que um game de qualidade, A Plague Tale também merece atenção por ser mais um exemplar da evolução da indústria de games francesa.
Nos últimos anos, a divisão de games Focus Home tem apostado pesado em jogos focados em história e no single-player, e desde então fomos presenteados com IPs como Vampyr e Call of Cthulhu.
Sabe quem também é francês? O nosso querido e amado Life is Strange, feito pela Dontnod e a Square Enix.
Não podemos deixar de mencionar, também, a bem sucedida Ubisoft, que é uma das maiores empresas de games do mundo e tem os jogos single-player como principal frente (mesmo que alguns esbanjem em microtransações).
Em um mundo onde cada vez mais jogos são online ou se apoiam no nome de grandes franquias, é muito bom ver obras inéditas e que trazem narrativas originais.
Mesmo que os jogos não tenham a qualidade de um blockbuster, os títulos se encaixam no segmento “AA”, que, como definido pelo pessoal que fez Hellblade, visa entregar experiências de qualidade com um custo mais acessível.
A temática de A Plague Tale também me fez pensar sobre a própria indústria brasileira de games, que pode acabar seguindo um caminho assim futuramente, fazendo jogos que chamam a atenção pelos gráficos e ainda trazem um resgate histórico de acontecimentos do país. Atualmente, já temos projetos como Aritana 2 e Dandara que puxam o gameplay para esse lado, agora é torcer para que mais títulos do tipo cheguem ao mercado.
A Plague Tale: Innocence está disponível para compra no PC, PS4 e Xbox One. A versão da Steam, que foi testada aqui no Nacionais, sai por R$ 119,90. Confira mais informações no site oficial do game.