Crítica: “A Morte do Demônio: A Ascenção” é o terror em todo seu potencial

Matheus Martins

O quinto filme da franquia criada por Sam Raimi chegou aos cinemas recentemente na semana passada e já está sendo comentado por diversos veículos de mídia. Das reações, muitas delas foram bastante satisfatórias, com relatos de pessoas saindo enojadas do filme até dando gargalhadas durante a sessão.

Nós do Pixel Nerd já fomos conferir esse mais novo capítulo da saga “Evil Dead” e temos a nossa própria opinião sobre ele. Bora conferir:

Nos dias de hoje, para um filme ser considerado de terror, não basta ter esse gênero em sua premissa. Esse é um fato que acompanha a subversão do próprio gênero em si após o surgimento de bons diretores como Jordan Peele e Ari Aster, criadores de obras como Corra! e Hereditário que fogem do horror comum. O que não quer dizer que não sobra espaço para o terror que já conhecemos ter a sua própria chance de nos assombrar nos dias de hoje.

Dito isso, A Morte do Demônio – A Ascenção conseguiu atingir esse feito com gosto. O filme de Lee Cronin é assustador, sanguinário, horroroso e até mesmo intenso em cada aspecto que toca. Não tem nada de novo que você não tenha visto em um terror antes (diferentes das produções de outros diretores citadas acima), mas consegue cumprir a promessa de assombrar qualquer um que se proponha a encarar as suas 1 hora e quarenta minutos (que, aliás, passam super-rápido).

Tudo começa em uma cabana onde duas amigas e o namorado de uma delas – um bem idiota, por sinal – estão aproveitando o verão. A amiga da garota que tem um namorado fica cansada e tenta acorda-lá, só para acabar percebendo que a mesma está se comportando de maneira estranha. E com estranha quero dizer: ser capaz de ler um livro que está nas mãos da sua amiga sem nem ao menos precisar vê-lo, querendo devorar cérebros, voando em cima de um lago etc.

Essa sequência de cenas acontece de maneira super-rápida, e faz um grande número que reverencia o gênero, ao mesmo tempo em que apresenta o tom para o qual esse mais novo capítulo da saga está disposto a propor para a nova geração.

Depois dessa introdução, somos levados até a cidade, um prédio decadente onde Ellie, uma mãe de três filhos, sustenta sua família sozinha enquanto trabalha em seu estúdio de tatuagem. Bridget, Danny e Kassie parecem se dar bem, mas toda essa dinâmica está prestes a mudar com a chegada de sua tia, Beth, a irmã de Ellie que precisa de ajuda.

Aqui, o filme acertou em não demorar a entrelaçar as histórias de cada irmã e mostrar a personalidade de cada uma delas: Ellie é a irmã responsável e faz malabarismos para cuidar dos filhos que ama; Beth é aquela irmã que precisa de ajuda, mas se manteve afastada nos últimos anos com suas próprias motivações, o público entende isso muito rápido.

O terror também não demora a dar as caras no núcleo familiar. Logo de cara, ouvimos a gravação de um padre sobre um livro amaldiçoado que arrepia os pelos da nuca e a cena de possessão de Ellie é um momento tenso que me fez segurar na cadeira com medo do que iria acontecer a seguir.

Existe uma cena em particular envolvendo a banheira e Beth, onde achamos que algum Deadite agarrou sua mão que me enganou direitinho, então só tenho elogios a atuação de Lily Sullivan nesse quesito. Depois disso, ver cada familiar tentando conter uma força que é o próprio mal encarnado sem qualquer tipo de esperança é desolador e muito, muito satisfatório para quem sentou na cadeira esperando assistir um filme de terror.

Um grande elogio a Morte do Demônio é que ele não dificulta em despertar algo que toda audiência de filmes de horror precisa ter: a capacidade de torcer pelos personagens. A partir do momento em que a mãe é possuida, a esperança de que Ellie irá voltar ao normal, ou que qualquer um dos filhos não tenha o mesmo destino que ela cresce a cada minuto… só para ser despedaçada sem pena.

A cena mais comentada do filme no momento é a do olho-mágico, onde Ellie aparece matando outros moradores do prédio e ameaça seus filhos e Beth a abrirem a porta. O que impressiona nessa parte não são as mortes, mas sim as frases ditas pela personagem que são horrorosas demais para serem ditas por uma mãe, mas que fazem um paralelo a essa visão deturpada de que a maternidade solitária é uma coisa linda. A voz distorcida que a criatura possuída usa para falar com seus não é nada cringe; os elogios do Pixel vão a dublagem de Sylvia Salustti, que é perfeita e acerta na enotonação, e o texto do filme que está no tom certo sem soar ridículo em qualquer momento.

Em comparação com outras produções de terror, enquanto Invocação do Mal aposta em jump-scares e não sabe decidir se é um filme de horror ou investigação para concluir sua história, A Morte do Demônio segue um caminho direto em apresentar um mundo onde o mal não só existe, mas como pode ganhar a qualquer momento.

O único defeito e que já foi apontado por outros críticos, é a ingenuidade que coloca alguns dos personagens em perigo. Não incomoda que os filhos de Ellie fiquem paralisados enquanto presenciam cada investida do demônio, mas podemos parar de fingir que uma porta é capaz de impedir uma criatura invocada das trevas?

Em conclusão, A Morte do Demônio – A Ascenção fez uma ótima entrega, tem ótima direção, bastante sangue, uma história que soa crível e que aterroriza e serve como um material de entrada bem-convidativo para qualquer um que queira conhecer a franquia de Raimi.

Filme: A Morte do Demônio – A Ascenção

Direção: Lee Cronin

Elenco: Alyssa Sutherland, Lily Sullivan, Gabrielle Echols, Nell Fisher e Morgan Davies

Nota: 9,9

A Morte do Demônio: A Ascenção está em cartaz nos cinemas.