Crítica: “Resgate 2” possui vários acertos

Matheus Martins

Resgate 2 é o novo filme de ação da Netflix que tem sido promovido a mais de um ano por Chris Hemsworth, ator mais comumente conhecido pelo papel de Thor na Marvel. A produção é a aguardada sequência do filme de 2020 e traz o mercenário Tyler Rake em uma nova missão que promete aventura e ação desenfreada.

Após seu final ambíguo no primeiro filme, muito era discutido sobre como a história iria abordar o retorno do personagem dado como morto. Acontece que Tyler não morreu de fato, apenas ficou com um trauma tremendo e desacordado por um período longínquo de tempo. Quando finalmente acorda, ele apenas pode contar com sua equipe, Nik Khan e Yaz, que é uma adição para lá de humorística e pisa no espectro do personagem de David Harbour no filme anterior. A apresentação desses primeiros momentos é rápida, sem muito foco, mas ajuda a estabelecer de onde a história parou e para que possamos continuar.

A história de resgate é sobre Tyler, que é praticamente um assassino profissional que escolheu dar um tempo após a perda de seu filho. Quando o filme retorna em seu segundo capítulo, é interessante observar a escolha de que Tyler não tenha de fato superado a morte ainda. Ele está tão arrasado quanto antes e continua encontrando dificuldades para lidar com isso, o que explica o retorno dos flashbacks na praia e todas as cenas em que Rake olha fixamente para o nada.

Esse elemento, no entanto, não é a única coisa a copiar a narrativa do primeiro filme. Se no primeiro filme, Tyler tinha que resgatar o importante filho de um homem, aqui ele precisa salvar uma família mantida em cárcere privado na cadeia pelo criminoso membro de uma máfia georgiana. A mãe sofre abusos, a filha mais nova é obrigada a ser criada na prisão e o filho mais velho de Ketevan, um adolescente preocupado, se acha parte dessa máfia, o que será um grande ponto de partida para uma história que irá se desenrolar.

Nada acontece após esses dois atos. Então, o filme traz a prometida sequência de 14 minutos de ação enquanto Tyler luta para tirar a família de forma sã e salva da cadeia. Todo o falatório em cima dessa informação meses antes da estreia de Resgate 2 valeu a pena. A partir do momento que a família começa a escapar da prisão cada minuto da tela é sem fôlego, com requintes de violência e cenas bem coreografadas. A câmera, que acompanha tanto a família quanto Tyler, nos representa como uma grande espectadora de cada luta que está acontecendo e da rebelião dos prisioneiros. Aqui, podemos perceber a mão dos Irmãos Russos na produção do longa e dá para sentir que eles gostam do que fazem e gostam especialmente do que estão fazendo aqui.

Enquanto a fuga na cadeia acontece, o filme faz questão de mostrar os sentimentos da família: a mãe, preocupada; a filha mais nova, chorosa; o adolescente, se pergunta o tempo inteiro o que está acontecendo e, não menos importante, o que houve com seu pai, um dos grandes antagonistas do novo filme e também um dos primeiros a serem mortos. Essa ação vai levar a uma consequência, já que o grande mafioso possui um irmão e uma legião de criminosos que se sentem parte da “família” e que querem uma vingança pelo que foram tirados deles. Em um piscar de olhos, o Resgate 2 logo se torna o primeiro filme novamente logo debaixo dos nossos narizes.

A atuação de Andro Japaridze é completamente a frente do jovem do filme anterior. Ele realmente soa assustado, furioso, irritado ou confuso em todas as cenas em que entra e deixa para trás o erro grotesco que o personagem Ovi deixou com sua atuação em uma cena onde encara fixamente o corpo morto de um homem que acabou de matar. Aliás, não passa despercebido o paralelo que a cena tenta fazer com o longa anterior; onde antes tínhamos um jovem ao lado de Tyler que queria escapar, aqui vemos um garoto que quer voltar para os braços do seu algoz, não importando se seu tio é tão tóxico quanto o seu pai.

Por falar nos vilões, a decisão de tornar a história daqueles que querem ver Tyler morto dessa vez em uma coisa mais pessoal é simplesmente sensacional, principalmente quando é revelado que esse não é só mais um caso para o mercenário e sim que ele possui conexões com as vítimas da vez. Também é um paralelo interessante com o fato de que a ex-mulher de Tyler (interpretada pela talentosa Olga Kurylenko) com quem ele não conversa e com quem ainda enfrenta grandes problemas em se manter próximo depois da morte do filho, ganha mais protagonismo nesse filme.

Embora seja fato de que o vilão não ganha tempo para ter um desenvolvimento decente. A partir do momento em que descobre que seu irmão morreu, Zurab entra em uma espiral de vingança sem que o roteiro consiga frear para que entendamos melhor suas motivações e forma de pensar. Quando essa mesma vingança perde a mão e Zurab chega a trair os seus e assustar seus sobrinhos, não demora até que o personagem faça uma completa bagunça e comece a escorregar sozinho no próprio sangue. Essa tática atrapalha e persiste até o final, onde o filme se arrasta para o confronto inevitável entre Tyler e ele.

Não dá para gostar de como o filme mata um dos personagens novos apresentados. Já deu para entender que Tyler está enfrentando um risco enorme ao tentar salvar essas crianças e brincar com o destino de personagens ligados a Tyler durante várias cenas de tensão é um pouco covarde, além de desnecessário. Ao invés de manter essas personagens para que elas possam ter um desenvolvimento que fale tanto sobre elas quanto sobre Rake, os diretores o cortam sem mais sem menos do roteiro. Pode ter sido mais um tentativa de fazer um comparativo com o longa anterior, mas não deixa de ser um desperdicío de um roteiro que poderia ter sido mais cuidadoso.

Em geral, o filme termina de maneira plenamente satisfatória e com vários acertos. É uma sequência tão alucinada quanto o primeiro e sabe ser ousado, inventivo e condizente com a história que está apresentado em vários pontos. É uma sucessão de acertos que agrada quem é fã do gênero da ação e quando rolam os créditos no final, é quase impossível não torcer para que o que já conhecemos sobre logo se torne uma das franquias mais ambiciosas que a Netflix pode ter.

Filme: Resgate 2

Direção: Sam Hargrave

Elenco: Chris Hemsworth, Golshifteh Farahani, Idris Elba, Olga Kurylenko, Tina Dalakishvili

Nota: 8,0

Resgate 2 disponível na Netflix.

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