Crítica: “The Idol” avaliação do primeiro episódio

Matheus Martins

Depois de escândalos e um exposed vergonhoso envolvendo a produção da série, The Idol foi ao ar no último domingo (04) com o seu primeiro episódio. O drama tem sido aguardado e esperado pelo público por vários motivos, desde a sua vaiação em Cannes, passando de leve pelas críticas pesadas à produção, até o envolvimento do infame Sam Levinson na direção do projeto.

Levinson, para quem não sabe, é o responsável por outra série polêmica do catálogo da HBO Max: Euphoria. Apesar de ter sido um dos maiores sucessos do diretor até o momento, é também a fonte de vários dos comentários que circulam nas redes de como ele conduz seu trabalho: trabalho por horas a fio, punição a atores com o qual Sam tem desentendimento e relatos de favoritismo dentro do set.

Um dos maiores tópicos envolvendo o profissional no momento, é a nudez pesada. Sam, assim como qualquer outra pessoa que cuida do roteiro de produções da HBO, não poupa esforços em pincelar cenas onde a nudez é exacerbada e bastante explicíta. Embora nem de todo ruim, existem duas formas de usar esse recurso: de forma natural ou para responder à críticas de quem recorre a esse tipo de cena. The Idol é a última dessas duas categorias.

Antes de começarmos a crítica do primeiro episódio quanto para a série em si, vamos rebobinar fevereiro de 2022, quando a atriz Minka Kelly, que interpreta Samantha – uma espécie de patroa da adorável Maddy (Alexa Demie) – revelou se recusar a gravar uma cena de nudez para os episódios da segunda temporada, quando foi introduzida. Nas palavras de Kelly, a primeira cena em que a introduz quase foi ao ar com a personagem nua. Porém, Kelly reclamou com Levinson e ele cortou prontamente a cena. A notícia repercutiu e logo outra atriz, como Sydney Sweeney, revelou uma situação semelhante onde não viu necessidade em ver seus peitos de fora na cena.

Não que haja qualquer problema com a nudez. Quando usada de forma artística, ela pode dizer várias coisas. Quando ela é usada por Levinson para começar uma série sobre uma celebridade, depois de diversos escândalos envolvendo a produção, acusações do male gaze de tanto The Weeknd e Sam, ela também pode dizer várias coisas, e nenhuma delas é boa nesse caso. Sam está dizendo a sua audiência que Lily Rose Depp, que na série dá vida a Jocelyn, a estrela do show, escolheu estar nua e estar confortável com isso. O que ele quer dizer com isso? Que o desejo de uma mulher em mostrar seus seios provém ou dele?

A série escolhe começar com um estilo de recurso de escrita que é admirável. Diferente de Euphoria, não temos uma narrativa, mas uma conversa entre a staff e ume representante da Vanity Fair, que veio entrevistar Jocelyn enquanto a personagem ensaia para o videoclipe do seu novo single. Todos estão falando de Jocelyn, decidindo as coisas por Jocelyn, mantendo segredos dela e afastando de um acontecimento que irá afetá-la – ou ao menos deveria?

Nesse ponto, a série apresenta bem como Jocelyn se sente e teria sido ótimo começar a série apenas com isso. Mas a nuvem proporcionada por Sam e The Weeknd/Abel paira sobre todos os minutos restantes da série, visto que graças às críticas que saíram sobre a produção, temos mais do que razões para nos preocupar. Depois de um dia exausto e descobrir que teve uma foto íntima sua vazada, Jocelyn escolhe sair para uma boate Anis, uma dançarina profissional que estava no seu videoclipe.

Como Sam aborda o momento em que Jocelyn passa de afetada com o vazamento para uma foto para uma curtição em uma boate? Ele não aborda. A cena apenas acontece, enquanto todo o desenvolvimento das primeiras cenas morrem com toda a mensagem que o episódio tentou abordar. Dá para ter uma ideia do que Levinson está tentando fazer aqui, e ambas são como fazer um malabarismo entre dois pesos com medidas diferentes: a de apresentar uma série com uma proposta interessante (algo que tinha potencial para ser) e a de provar para o seu público que sua visão (o já citado olhar masculino) de uma mulher legal é totalmente válida.

Na verdade, nada mais é do que um esteriótipo: Jocelyn é sexualmente livre, mas apenas para uma pessoa do sexo oposto, geralmente um cara babaca; ela tem essa síndrome de “não ser como as outras garotas” que está tão em alta, algo que chega a ser verdade visto o holofote que é colocado nela, mas que é apenas um mecanismo para coloca-lá no caminho de Tedros (Abel); ela possui traumas e um passado triste, como a morte de sua mãe, porém não é tratada como vilã, a não ser que seja essa a mensagem que a série queira passar quando a coisa se intensificar nos próximos episódios.

É compreensível que a personagem ser famosa a difere de outras pessoas e seu senso de confiança é fraco correndo o risco de se quebrar muito facilmente, como é demonstrado quando sua amiga/assistente, Leila, demonstra preocupação por ela estar com um estranho. O que não é compreensível é ouvir que Tedros parece ser um estuprador em potencial e que Jocelyn gosta disso nele. Pegou muito mal.

Novamente, a sombra que paira em meio a tantas polêmicas envolvendo Levinson e Abel afasta qualquer tipo de potencial que a série tenha e até mesmo irrita até determinado ponto. No fim do episódio, o que deveria ser um climáx mais soa como uma revisitação a um diálogo de Cinquenta Tons de Cinza elevado a um nível um pouco além do moderado.

Com essa proposta, The Idol promete irritar bastante pessoas todos os domingos explorando uma história que talvez fosse já fosse boa antes de Sam descartar todo o trabalho da showrunner anterior para pincelar no roteiro o que ele chama de “arte”.

Série: The Idol

Direção: Sam Levinson

Elenco: Lily-Rose Depp, Jennie, Troye Sivan, Rachel Sennot, Da’Vine Joy Randolph, Daniel Levy, Hari Nef, The Weeknd, Mike Dean, Eli Roth

Nota: 2,0

The Idol estreia novos episódios todos os domingos na HBO e está disponível na HBO Max.

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