Depis de um começo focado na vida conturbada da estrela pop Jocelyn, o segundo episódio de The Idol foi ao ar ontem (12) introduzindo mais uma camada da série criada por Sam Levinson e The Weeknd “Abel” Tesfaye, que entram em conjunto no projeto. Do mesmo universo de Euphoria, trocamos o subúrbio de East Highland envolto em drogas, dramas adolescentes pesados e vamos para o mundo do estrelato, onde tudo é ainda mais sério. E não, isso não é um eufemismo.
A série retoma o ponto onde exatamente começou no episódio da semana passada: Jocelyn está tentando se fazer ser ouvida por pessoas que trabalham com ela e não está obtendo sucesso. Depois de uma noite intensa com Tedros (Weeknd), a cantora se sente inspirada e tenta convencer sua equipe a alterar a composição do seu single. No entanto, é de Nikki (Jane Adams) a maior rejeição. Nikki é a executiva da gravadora e tem uma profunda parte decisiva nesse episódio, tanto para a história de Jocelyn, quanto para uma trama que ganha força lá para o meio do episódio.
Novamente, The Idol faz muito bem apresentando um universo que soa verossímil com o que ouvimos sobre celebridades na mídia. Vemos que além de não ter total controle sobre o seu próprio trabalho, um artista é tratado como a parte menos importante dele, mesmo embora se não fosse por ele nenhuma das pessoas ali estariam empregadas. Jocelyn é obrigada a trabalhar por horas, se atrasa, erra, briga, xinga, bate boca, chora e chega a alucinar com a mãe morta de tanto que o trabalho a está consumindo.
Toda essa ordenância em mostrar que a vida de Jocelyn não é fácil por ela estar sofrendo com um trauma cai completamente com terra quando a câmera insiste em voltar para o personagem de The Weeknd. Não tem nada a ver com o fato de que ele é claramente o vilão, alguém está jogando nessa história para ter um ganho próprio, mas por causa do que já vimos no final do episódio anterior: Weeknd não está aqui para fazer a personagem refletir e se abrir sobre momentos da sua vida que são comentados por assistentes de maneira brusca, mas para fazer BDSM, dizer coisas safadas e mostrar que entre os dois existe uma conexão sexual muito forte, porém danosa.
Saber que esses momentos estão vindo acompanhado do personagem de The Weeknd pesa toda atmosfera de quem assiste e da série em si, que poderia funcionar perfeitamente sem essa dinâmica, ou com ela feita de uma maneira diferente. No entanto, não. A série além de fetichizar o sofrimento de Jocelyn ainda introduz uma terceira personagem que está ali para ilustrar o quanto Tedros é desejável para o olhar feminino. De novo, esse é o olhar masculino de Sam e Weeknd falando.
Em determinado momento, The Idol até tenta colocar um fator investigativo onde temos que desconfiar da natureza de Tedros e seu histórico, mas aborda esse aspecto de maneira muito rasa e deixando tudo para o final, onde já é tarde demais; não queremos mais saber o que está acontecendo porque logo depois de algo interessante ser mostrado diante dos nossos olhos, diversas cenas de sexo ganham um foco supreendentemente desnecessário por vários minutos que se tornam cansativos.
A esse ponto, dá para entender porque a série sofreu com polêmicas desde o seu início. Na certa, a responsável pelo roteiro antes de Levinson e Weeknd estava focada em contar uma história sobre Jocelyn, seu trauma e a maneira como é tratada como uma criança pela equipe com o qual trabalha. Essa é a história que é interessante e que deveria estar sendo transmitida. E então, vemos as mãos de dois homens que se meteram em um projeto em meio a controvérsias. Esse elemento carrega a série deixando ela mais desconfortável, escala pelo roteiro entre diálogos fracos e atrapalha o telespectador em confiar em quem está contando toda a história.
Novamente, depois de um videoclipe que afetou fisicamente Jocelyn, ela está engajada em ver Tedros novamente, seu “raio de sol” em meio a todo caos. O que ela não sabe é que uma das dançarinas do seu clipe e Tedros estão armando para conseguir quitar uma dívida enorme que Tedros tem em Los Angeles. A série até que apresenta esse arco vilanesco de uma maneira interessante, mas também sem se aprofundar muito nisso. A personagem que é revelada como vilã apenas quer saber se Jocelyn é boa de cama, e parece desprezar completamente sua imagem.
Quando esse aspecto se volta para Nikki, a empresária da gravadora, a coisa fica mais interessante. Ao ver que Jocelyn está incapaz de continuar trabalhando por horas exaustivas, ela rapidamente arquiteta um plano que mostra para o público como é fácil uma pessoa, não importando quem seja, não importando seu status, ela é descartável para uma indústria sádica e nojenta. Muitos devem acreditar que Tedros é o maior vilão aqui, ou a personagem interpretada pela Jennie de BlackPink, mas na verdade Nikki é a única que substancialmente representa uma ameaça seja em falas, ações e interações que tem com Jocelyn, afetando ela desde o seu luto até profissionalmente.
Nesse ponto, parece que estamos acompanhando duas séries: a The Idol que se aprofunda nos bastidores sórdidos de uma indústria musical que é capaz de quebrar o espiríto de uma diva pop que precisa ganhar o amor dos seus fãs, e a The Idol de Levinson e The Weeknd, onde Jocelyn é uma escrava sexual de um homem com sex appeal que está sempre entregue ao ponto de precisar tirar a roupa na primeira baboseira que escuta de um desconhecido.
Querendo ou não, a história é um pouco condizente com a situação de Jocelyn que está sofrendo um trauma e é até mesmo interessante. Queremos saber se Jocelyn dará uma volta por cima, acabará falida ou presa a um esquema onde não se pode confiar em ninguém. No entanto, do jeito que Sam está envolvido no processo, a série está fadada a ter seu potencial sempre preso por uma visão que se apoia mais na fetichização do que de fato na história que quer contar.
Série: The Idol
Direção: Sam Levinson
Elenco: Lily-Rose Depp, Jennie, Troye Sivan, Rachel Sennot, Da’Vine Joy Randolph, Daniel Levy, Hari Nef, The Weeknd, Mike Dean, Eli Roth
Nota: 2,0
The Idol estreia novos episódios todos os domingos na HBO e está disponível na HBO Max.