Crítica: “Vermelho Branco e Sangue Azul” é romance sobre herança e política

Matheus Martins

Anunciado como um dos grandes lançamentos do Prime Video, Vermelho, Branco e Sangue Azul é uma adaptação do livro homônimo de Casey McQuinston. A obra é mais um desses títulos voltados para o público young adult (jovens adultos) e conquistou milhares de fãs pelo mundo.

No ano passado, os atores Nicholas Galitzine e Taylor Zakhar-Perez foram anunciados como o duo-romântico Henry e Alex Claremont-Diaz, um dos herdeiros da Coroa Inglesa e o filho da Presidenta dos Estados Unidos, que são os protagonistas desse filme.

Nós do Pixel Nerd já assistimos a esse grande lançamento da Prime Video e temos a nossa crítica. Confira!

Na história do filme, começamos com as duas figuras midíaticas sendo introduzidas no casamento do Princípe Philip, que irá casar com o seu amor de infância. Apesar de ser um dia de celebração, Alex e Henry possuem uma rivalidade, com o primeiro sendo bastante comparado ao britânico, nutrindo assim um certo desgosto por quem seu rival é. Henry também compartilha desse sentimento.

Embora sejam parecidos em vários aspectos, Alex nem sempre teve uma vida assim até a eleição que elegeu sua mãe tornar suas vidas bastante importantes. Sendo um latino e um texano, ele reflete seu posicionamento político tentando ser mais ativo no trabalho de sua mãe,, estudando táticas, estratégias de eleição e trabalhando no âmbito democrático. Porém, após um desastre no casamento do Principe Philip, irmão de Henry, a imagem de sua mãe corre risco de levantar tensões entre a Inglaterra e os Estados Unidos, que precisa do aliado conterrâneo.

Para evitar mais problemas, a Presidenta então ordena que Alex faça parte de um “Controle de Danos” que limpará a imagem entre os dois rivais. Embora a amizade seja meramente de fachada, é neste momento que Alex e Henry começam a ficar próximos e se conhecerem melhor do que nunca.

Até aqui, o filme segue fielmente o livro ao adaptar a história de Alex. Afinal de contas, a obra é narrado inteiramente por ele em terceira pessoa, salvo por conteúdos extras onde vemos a história pela lente de Henry. Ainda assim, é Alex o carro-chefe dessa linda história de amor que irá estremecer as relações entre essas duas potências mundiais.

Ele é agitado, proativo, mulherengo, desinibido, um poço de caos controlado e é muito bom saber que o ator Taylor leu a obra ao menos sete vezes para poder fazer uma ótima interpretação desse interessante protagonista. Seu tom e seus movimentos tem o timing certo, sem mencionar no quanto ele foi bem escalado para dar vida a esse jovem arrogante, tenaz e chamativo que Alex é.

Como no livro somos capaz de entender o personagem melhor, sabemos que seu comportamento é um mero disfarce para cobrir as preocupações e a grande pressão em ser o Primeiro-Filho dos Estados Unidos que recai o tempo todo em seus ombros. O trabalho de Matthew Lopez, que sai do teatro para o formato de filme, consegue jogar uma luz nesses aspectos mesmo quando o romance toma uma parte maior das narrativas dessas personagens.

Já Nicholas Galitzine é uma grande surpresa. O ator pode ter passado por diversas comédias românticas de tempos em tempos, mas dá tanta emoção e vivacidade ao Henry dessa adaptação que nos faz perguntar onde ele escondeu tamanho talento. A resposta para essa pergunta é que, como um ídolo teen de filmes como Cinderela e Continência ao Amor, a beleza e a estética do ator costumam ser mais relevantes para o público desse tipo de produções.

O que é um desperdicío, porque Nicholas é ótimo em expressões faciais, em transportar o olhar pelas emoções que repassam pelo seu rosto. Seu controle de voz, tom, e as habilidades artísticas em geral são monstruosas e uma grande ameaça para qualquer trabalhador do ramo. É esperado que após esse grande lançamento os holofotes do dramaturgo apontem para esse talento, já que é um primor que não se pode perder.

Ter uma atriz tão consolidada quanto Uma Thurman no papel de Ellen Claremont foi uma jogada de mestre, já que a veterana empresta carisma sem deixar cair da balança a postura rigída que essa grande figura dos Estados Unidos precisa ter em um filme. É quase um reflexo do que a personagem de Olivia Colman faz na série Heartstopper da Netflix. As outras presenças do filme são mais ou menos, mas a química entre Sarah Shahi, que interpreta a líder de campanha de Ellen, e Taylor é boa, além de cômica.

É um filme que sabe usar bem seus elementos de comédia romântica e que o usa necessariamente para o bem. O humor alfineta o realismo democrático e anti-democrático norte-americano. Em uma cena focada em Nora (Rachel Hilson), por exemplo, vemos de relance uma brincadeira onde as pessoas bebem toda vez que um candidato republicano usa a palavra “progresso”, mencionando assim o falso discurso moralista de vertentes de centro-direita que usam deus, pátria e família em ladainhas carregadas para se promoverem em cima da população.

Esses pequenos toques dado por Matthew demonstram não só uma preocupação com a história que é contada, mas com a narrativa, já que o filme não é meramente uma comédia romântica, é um romance histórico-atual sobre política, identidade, progresso, preconceito. É fato que para o âmbito britânico, um relacionamento entre pessoas do mesmo sexo não passa de um tabu, coisa que é debatida tanto no livro, quanto agora nesta adaptação.

O diretor também não deixou de lado o aspecto sexual presente na obra, já que sendo uma história sobre descoberta, Alex é novo para tudo isso. Por essa razão, o filme não dá um show selvagem nas cenas de sexo. Ao invés disso trabalha os ângulos, os gestos, os toques e o tato íntimo entre essas duas figuras, que também é importante e muito amável de se ver.

Em algumas cenas onde eles enviam mensagens de texto e e-mails um para o outro (coisa adaptada dos livros) a tela brinca com imagens e formas que saltam pela tela. Nossa favorita é uma em que Alex e Henry estão se falando pelo celular e o princípe se materializa ao seu lado, embora os dois não possam se ver. É uma cena interessante com um toque delicado e sútil, além de dar o tom do filme.

A adaptação é uma história necessária e importante, tal como o livro, com personagens que várias pessoas podem se identificar e conhecer.

Filme: Vermelho, Branco e Sangue Azul

Direção: Matthew Lopez

Elenco: Taylor Zakhar-Perez, Nicholas Galitzine, Uma Thurman, Sarah Shahi, Rachel Hilson, Polo Morin, Ellie Bamber, Malcom Atobrah.

Nota: 10,00

A adaptação de Vermelho,Branco e Sangue Azul está disponível no Prime Video.

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