Folieu à Deux: Conheça o caso real que inspirou o título do filme coringa 2

Matheus Martins

O próximo filme do Coringa, protagonizado por Joaquin Phoenix e lançado em 2019, tem previsão de estreia para 2024. Intitulado Coringa – Loucura à Dois (tradução livre), a obra contará com a participação de Lady Gaga no papel de Arlequina – a companheira do Coringa nos quadrinhos e no cinema. O título é uma tradução de “Folie à Deux”, que é um transtorno delirante induzido que será compartilhado pelos protagonistas do filme

Folie à deux é uma síndrome psiquiátrica na qual sintomas de uma crença delirante, e às vezes alucinações, são transmitidos de uma pessoa para outra, geralmente da mesma família ou próximas. Também é conhecido por “delírio a dois”, transtorno delirante induzido ou perturbação delirante partilhada.

Essa transferência da ideia delirante é mais frequente em pessoas que mantêm uma relação próxima e acontece mais frequentemente em mulheres, havendo a transferência dos delírios de uma pessoa mais velha para uma mais nova, como de mãe para filha, por exemplo.

Um dos casos mais conhecidos de folie à deux é o das irmãs Papin, que trabalhavam como empregadas domésticas na França e cometeram um brutal assassinato de sua patroa e sua filha em 1933. As irmãs tinham uma relação de isolamento e dependência mútua, e compartilhavam delírios de perseguição e ódio contra as vítimas.

Elas mataram e mutilaram a patroa e a filha na casa onde trabalhavam, arrancando seus olhos e esmagando seus crânios. O caso chocou a França e se tornou objeto de estudo para a psicanálise, especialmente por Jacques Lacan. As irmãs Papin tinham uma história de sofrimento, abandono e abuso, e viviam isoladas e reclusas em seu quarto. 

Há suspeitas de que elas mantinham um relacionamento incestuoso. O crime foi motivado por uma briga com a patroa por causa de um ferro de passar que causou um curto-circuito na casa.

O que diz Jacques Lacan sobre o caso

Jacques Lacan foi um psiquiatra e psicanalista francês que se interessou pelo caso das irmãs Papin na época em que estava escrevendo sua tese de doutorado sobre a paranoia. Ele analisou o caso em um artigo publicado na revista Minotaure, em 1933. 

Lacan propôs que as irmãs Papin tinham uma relação especular, ou seja, uma identificação mútua que as fazia se ver como um espelho uma da outra. Essa relação especular teria impedido as irmãs de desenvolverem uma personalidade própria e de se relacionarem com o mundo exterior. 

Lacan também sugeriu que o crime foi motivado por um ódio inconsciente contra a mãe, que foi projetado nas vítimas, e por um desejo de libertação da opressão social e familiar. Lacan viu nas irmãs Papin um exemplo de como a psicose pode se manifestar em situações extremas de alienação e violência.

Como Coringa 2 pode abordar o folie a deux?

O filme Coringa 2 pode abordar esse tema se mostrar o Coringa influenciando outra pessoa a adotar sua visão distorcida da realidade e a participar de seus atos violentos. Por exemplo, ele poderia ter uma parceira romântica, um amigo, um familiar ou um seguidor que se identificasse com sua loucura e o acompanhasse em sua jornada de caos e anarquia. 

Essa pessoa poderia ser alguém que já tivesse uma predisposição para a psicose ou que fosse manipulada pelo Coringa a ponto de perder o senso crítico e a noção de certo e errado.

Essa pessoa pode ser a Arlequina?

É possível, mas não é certo.

A Arlequina é uma personagem que surgiu nos quadrinhos como uma psiquiatra que se apaixonou pelo Coringa e se tornou sua cúmplice e amante. Ela poderia se encaixar no perfil de alguém que sofre de folie à deux com o Coringa, pois ela adotou sua ideologia e seus métodos criminosos.

No entanto, nos filmes recentes da DC, a Arlequina tem sido retratada como uma anti-heroína que se separou do Coringa e seguiu seu próprio caminho. Além disso, o filme Coringa 2 pode ter uma abordagem diferente da dos quadrinhos e apresentar um novo personagem que se envolva com o Coringa.

Portanto, não há como saber se a Arlequina vai aparecer ou não na sequência.

Um correspondente principais da Warner Bros revelou ao Daily Mail sobre a performance de Lady Gaga no filme:

“Sem desrespeitar as aparições de Margot como Harley, esta é uma adaptação muito mais psicológica. A Harley de Gaga é um exame das provações da humanidade moderna. E além disso, Gaga também teve que equilibrar esse esforço enquanto cantava durante o filme. Como uma de nossas maiores artistas ao vivo, ela sempre apresentou performances musicais monumentais que ressoaram com o público. Esse papel leva essa habilidade a um novo nível, onde os espectadores captam a intensidade das lutas, do estresse e dos modos frequentemente ilusórios de Harley”.

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