The Forbidden Arts mostra como games de potencial podem passar despercebidos no mar de indies

Redator Pixel

A Steam, maior e mais famosa loja de games para computador, tem jogos pra c#ralho. Só no ano passado, a plataforma da Valve recebeu cerca de 7600 novos títulos. Em 2018 os números continuam aquecidos e, só entre o fim de janeiro e começo de fevereiro, 177 produções chegaram ao catálogo da plataforma, desde jogos independentes como o brasileiro Dandara, até grandes blockbusters como Dragon Ball FighterZ.

Como dá pra imaginar, com toda essa onda de lançamentos, muitos jogos de pequeno porte acabam se afogando no mar de indies. Como aponta o analista de mercado Thomas Bidoux, que usa big data para fornecer informações sobre a Steam, dos quase 200 games que chegam na Steam, 69% tem menos de 10 análises de usuários, enquanto aproximadamente 20% nem chegam a ter uma review.

Recentemente, joguei uma boia nas tortuosas águas da loja do PC e encontrei The Forbidden Arts, game lançado no Acesso Antecipado da Steam que se encaixa nos dados acima e acabou perdido em meio a tantos lançamentos. Mas, assim como a maioria dos jogos independentes, tem seu valor como video game e traz uma história bem maneira para contar.

Tá pegando fogo, Bicho

Em The Forbidden Arts, você controla o pyromancer Phoenix, um guri que vive num universo cheio de magia e que consegue manipular o fogo. O objetivo do jogador é explorar as terras de Chora, aprender diversas técnicas envolvendo o poder das chamas e ser forte para combater perigos que vão desde aranhas e lobisomens mágicos até os terríveis necromancers. Se você assistia Avatar, com certeza vai curtir a ideia do game.

A jogabilidade mescla elementos de plataforma 2D e 3D que traz variações interessantes para o gameplay, incluindo várias sequências conhecidas no mundo dos games, desde pular obstáculos até escalar teias de aranha na parede. O combate é extremamente simples, mas pequenos erros (que quase sempre vem por causa da confiança do jogador) podem acabar tornando as lutas mais difíceis.

Tudo isso, junto com o estilo gráfico do game, tornou a experiência extremamente nostálgica para mim, lembrando os tempos em que jogava Maximo no PS2 (na locadora do meu tio), ou quando explorava Albyon no primeiro Fable.

Mesmo em acesso antecipado, o jogo possui um universo rico graças aos elementos mágicos da história e um gameplay que diverte, mesmo que inacabado e com alguns problemas técnicos, incluindo IA meio burra, pouca variação nas lutas, limitações nas fases 3D, movimentação imprecisa em alguns momentos e falhas na música. Ou seja, coisas que podem ser resolvidas com o tempo e polimentos.

O que torna a essência do jogo muito boa já está presente: o desenvolvedor e sua história.

The Forbidden Arts está sendo feito pela Stingbot Games, estúdio independente da Califórnia que fez o total de zero jogos para PC e consoles até o momento. Sim, este é o primeiro grande projeto da “equipe”, composta unicamente pelo desenvolvedor Sterling Selover. “Eu ocupo muitas cadeiras”.

Falando por e-mail com a gente (bem que eu queria poder ir para os Estados Unidos), o desenvolvedor contou que é responsável por quase tudo no game, incluindo design, programação, história, sonografia e diálogos. A principal parte que fica terceirizada é a arte: o desenvolvedor até idealiza as coisas, mas tem que contratar alguém com talento pra dar vida às suas ideias. “Minha esposa também ajuda no level design e vários outros aspectos do game”, ele completa.

“Eu queria fazer um game que eu amasse
e, quem sabe, alguma outra pessoa amasse também”

Selover trabalha com games desde 2012 e começou em projetos para smartphones. No fim de 2014, após uma conversa com um amigo (muitas coisas boas começam assim), ele resolveu arriscar e se jogar de cabeça em algo diferente, maior e único.

The Forbidden Arts acabou nascendo desse momento “La La Land”: ele sempre quis ser um dominador de fogo, então, criou a história de um pyromancer. “A história mistura experiências da vida real e coisas da minha imaginação”.

A ligação entre o desenvolvedor e sua obra é tão grande que, em certos momentos, parece que você está conversando com Selover sobre seus gostos e jogos preferidos. The Forbidden Arts traz referências ao gameplay de Zelda, Mario, Prince of Persia.

Apesar da Stingbot Games ter uma logomarca bem feita e uma cara bastante corporativa, The Forbidden Arts deixa claro, em sua história e jogabilidade, que foi feito por uma pessoa apaixonada pelo que fez. “Eu queria fazer um game que eu amasse e, quem sabe, alguma outra pessoa amasse também”, diz Selover.

Uma chance de sobreviver

Quem trabalha com arte, principalmente de forma independente, tem que lidar com a linha que separa a auto-confiança do apego emocional: às vezes, você gosta tanto do que fez que isso pode acabar prejudicando o seu projeto.

Para evitar esse erro em Forbidden Arts, o desenvolvedor lançou o game no Early Access da Steam para fazer o que muita empresa grande não faz: ouvir os jogadores. “Espero que as pessoas deem uma chance a The Forbidden Arts e me ajudem a torná-lo algo incrível”.

A versão do game disponível atualmente na Steam, que roda facilmente em um PC de entrada e custa R$ 20,69(o preço de um lanche em Florianópolis), possui 35% do conteúdo completo planejado para o game, o que já inclui coisa pra caramba, incluindo duas lutas contras Boss e seis levels.

Pra quem gosta de jogos de plataforma 2D, não se importa em enfrentar alguns bugs de acesso antecipado e está com vontade de ajudar um cara a realizar seu sonho, The Forbidden Arts é algo que deve ser considerado.

“Espero que as pessoas deem uma chance a
The Forbidden Arts e me ajudem a torná-lo algo incrível”

Os planos de Sterling Selover para o futuro do game são bastante ambiciosos e incluem versões para todos os consoles, incluindo o familiar Switch, que parece a casa perfeita para o game.

Agora, fica minha torcida para que o jogo receba apoio da comunidade e consiga atingir seu potencial máximo, pois eu adoraria ver seu universo mágico sendo explorado até o limite e sua jogabilidade mais polida.

Assim como The Forbidden Arts, diversos jogos indies enfrentam uma luta diária para serem vistos e simplesmente…jogados. Graças a programas de apoio como o ID@Xbox e EA Originals, algumas desenvolvedoras tem a sorte de receber uma grana e divulgação e, com isso, nós somos presenteados com Cupheads da vida. Porém, com quase 200 jogos entrando na Steam por semana, ainda tem muito jogo com potencial sendo esquecido na plataforma…

Confira mais informações sobre The Forbidden Arts nesta página.

 

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