Crítica | Rainha Charlotte: conecta os pontos de Bridgerton

Matheus Martins

Atualizado em:

A série Bridgerton resolveu tomar um caminho diferente esse ano com o seu primeiro spin-off, intitulado Rainha Charlotte: Uma história Bridgerton. Inspirado nos livros da escritora Julia Quinn, a produção aborda um romance histórico entre os anos de 1813 a 1827.

Essa “nova” velha história foca na Rainha Charlotte, a matriarca decidida a tornar as moças da alta-sociedade em “diamantes” a cada nova temporada antes de elas escolherem seus pares. Nesta história, a personagem possui apenas dezessete anos e deve se preparar para casar com George III, o atual Rei.

Nós do Pixel Nerd já assistimos a série e temos nossa opinião formada sobre essa nova produção da Netflix. Confira abaixo:

Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton é uma série de drama da Netflix que se passa no universo de Bridgerton e conta a história do casamento da rainha Charlotte com o rei George III. Na série, os dois se apaixonam aos poucos, depois de um casamento arranjado e sem conhecerem um ao outro. Charlotte chega a fugir do palácio no dia do casamento, mas é encontrada por George, que se encanta por sua personalidade forte e inteligente.

De início, quando ouvi falar da série, confesso que fiquei com muito medo do que eles seriam capazes de fazer. Afinal de contas, a nova história adaptada não é citada nos livros e parecia mais uma tentativa da Netflix como tantas outras vezes de se aproveitar de uma história para ganhar ainda mais dinheiro em cima dos fãs. No entanto, enquanto assistia aos primeiros episódios, dá para sentir que Rainha Charlotte tem uma identidade própria, novos personagens, um enredo próprio e interessante que fascina e entretém ao mesmo tempo.

Os primeiros episódios da série são bem feitos em apresentar um mundo ainda mais clássico da monarquia em Bridgerton, principalmente em mostrar os trâmites que a realeza decide e faz para com que seus planos sejam feitos: mesmo que não seja por um amor, um casamento deve acontecer. Mesmo que não haja paixão, o matrimônio tem que ser mantido como uma obrigação. E é engraçado perceber como esse senso de dever continua não somente no passado, como também no tempo presente que é abordado diversas vezes durante a série.

A partir daí, acompanhamos as histórias de três personagens femininas: A Rainha, Lady Danbury (uma personagem chave na série principal) e a Lady Violet Bridgerton, mãe dos personagens encantadores que caíram em romances impossíveis nas duas primeiras temporadas. A luta de Charlotte é entender seu atual marido, quem aparentemente esconde algum segredo para mantê-la longe dele na noite de núpcias do casal. Já a luta de Danbury é mais complicada, visto que por não fazer parte da alta sociedade, a personagem está presa em um casamento que não gosta, com um homem mais velho que não ama e desesperada por algo que a ajude a se manter na Inglaterra. As duas rapidamente viram amigas, se auxiliando entre conselhos e favores que vão intercalar entre os episódios que separam as duas tramas.

É muito bom ver que, apesar de ser uma história sobre a Rainha, a série consegue também dar espaço para Danbury e não é pouco. Há também espaço para Brimsley, o fiel servo da Rainha, Augusta, a mãe do Rei George, e vários outros personagens que aprendemos a reconhecer tanto dessa nova série quanto da série principal.

Um elogio sobre o spin-off é que para fazer essas duas coisas acontecerem, ele não se acovarda da maneira usual em que séries brincam com flashbacks para fazer com que a ligação entre uma coisa e outra aconteça. Não há uma cena em que Charlotte encara a janela e se vê pega por devaneios do passado quando é interrompida por alguém falando. A série é o tempo todo presente, firme em manter o espectador nos dois tempos sem que fiquemos esperando por cada uma das duas metades temporais para entender o que está acontecendo nessa história.

A escolha de retratar a doença do Rei George é também um ponto bastante pertinente para o roteiro, visto que se agarra a algo já apresentado na segunda temporada de Bridgerton. Com isso, entendemos melhor a Rainha, uma personagem tão ameaçadora quanto interessante que passa a ganhar outros ângulos de personalidade. India Ria, atriz que faz a versão jovem da personagem vivida por Golda Rosheulvel, é perfeita em imitar os trejeitos, expressões, voz e postura de Charlotte e é algo que se sustenta por alguns episódios mais a frente

Não há nada a dizer sobre o romance entre George e Charlotte, visto que a fórmula enemies-to-lovers (de inimigos a amantes) se repete aqui, com ambos se odiando, depois se amando, depois se odiando, depois tendo os segredos um do outro como verdadeiro empecilhos para uma relação perfeita. Eu gostei como o roteiro soube esperar a hora certa para fazer com que as personagens cedessem seus próprios desejos e fiquei agoniado com tudo aquilo que impedia ambos de ficarem juntos. A mãe de George, como um conflito, no entanto, me deixou confuso, visto que a personagem parecia querer a felicidade do filho e repetir isso a todo custo, e continuar a cometer atos atrás de atos que eram completamente contraditórios a sua personagem. A minha opinião é que sua vilania dentro dessa história não foi abordada com tanto interesse pelos escritores da série que, apesar de tudo já apresentado na série, não queriam arriscar um romance aparentemente “perfeito”.

E por falar em correr riscos, por que não falar de algo que nem mesmo foi abordado o suficiente para ser considerado um risco? O romance entre Brimsley e Reynolds, o outro servo, dessa vez do rei, não teve qualquer explicação, apenas aconteceu. Não sei se é algo que foi nos apresentado de cara apenas para nos entreter ou se foi apenas mais uma tentativa de Bridgerton de mostrar algo que pretende abordar futuramente melhor em futuras temporadas da série original – assim espero.

Porém, até o momento, o romance dos dois servos da coroa não houve qualquer desenvolvimento. Não sabemos como começou, a extensão de seus sentimentos, e é por isso que ver o velho Brimsley dançando sozinho em um jardim não me comove. Sofrer por um romance onde eu sei que a Rainha quer o melhor para o seu Rei que possui sérios problemas me faz chorar. Ver Brimsley chorar por um homem que o roteiro não se preocupar em expor melhor sua personalidade? Não consigo. A única fagulha de algo parecido com isso é ver Reynolds preocupado com George o tempo todo quando esse usa métodos nada ortodoxos para tratar de sua doença. Parece que ele amava mais o rei mais do que seu, aparentemente, namorado.

Apesar de tudo, Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton até que consegue agradar e conectar alguns pontos da série principal. Há espaço para novos plots que serão abordardos nas futuras temporadas (dá para ver que Shonda possui um interesse nisso, não é?), mas seu final foi corrido e um pouco mal administrado por uma equipe tão preocupada em remontar a mitologia de uma série dentro de outra série.

Filme: Rainha Charlotte: Uma história Bridgerton

Direção: Tom Verica

Elenco: India Ria, Corey Mylchreest, Arsema Thomas, Sam Clemmett, Cyril Nri, Michelle Fairley, Golda Rosheuvel, Adjoa Andoh, Keir Charles

Nota: 8.0

A primeira temporada de Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton está disponível no catálogo da Netflix.

Onde Assistir:


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