Crítica: “A Pequena Sereia” é uma aventura emocionante

Matheus Martins

As palavras “Disney”, “Live” e “Action” na mesma frase não são novidade em lugar nenhum. Desde que a Disney descobriu que o gênero de filmes que reinventa os grandes clássicos gera rios de dinheiro no Box Office todo mês, o rato que ocupa o castelo não poderia estar mais do que interessado em sugar o quanto puder de seus produtos.

Apesar do filme A Pequena Sereia não ser um filme que foge desse fato, o longa que protagoniza a atriz Halle Bailey como uma das maiores princesas da Disney encanta e possui o dom de emocionar aqueles que decidirem dar uma oportunidade para essa mais nova revisitação.

O longa é dirigido Rob Marshall, que já tem o pé num gênero musical, e foca na primeira aventura de Ariel, filha do Rei Tritão, também conhecido como o Rei dos Mares. Diferente de suas seis irmãs, Ariel é curiosa e possui um fascínio pelo mundo dos humanos. Coisas corriqueiras para nós como andar, correr ou usar um garfo, para a garota são objetos de milagres e interesse e a personagem faz questão de demonstrar isso cada vez que protagoniza cada uma de suas canções no filme.

Quando essa curiosidade não se manifesta de maneira bem-humorada nas relações entre a jovem e seus animais-aliados Linguado, Sebastião e Sabidão, ela se apresenta de maneira emocionante em Parte do Seu Mundo onde vemos Halle cantar com toda sua voz e interpretação uma canção já amada pelos entusiastas de antigos musicais. E funciona. A inocência e paixão em sua voz são facilmente transpassadas pela atriz que já possui experiência no campo da música também.

O mar e os pontos mais escuros nunca são explorados a todo momento que o filme se passa lá embaixo. São elementos que incomodam, sim, mas nada de novo que qualquer outra animação da nossa Pequena Sereia já não tenha feito antes. As cenas passam o que precisam passar: uma história sobre Ariel e sua escolha importante sobre esbravejar ou não o mundo além das águas onde a princesa reside.

A apresentação de Úrsula à história em dois pontos do filme soa como uma repetição. Ficou parecendo que o filme pediu que Melissa McCarthy incorporasse a personagem apenas deitada e esse é um belo de um desperdício do potencial que a vilã poderia proporcionar. A recomendação é olhar a série Once Upon a Time da qual a Disney adquiriu seus direitos sobre e começar a fazer anotações.

Me arrisco em dizer que foi genial a ideia de colocar o garfo em uma cena repetida. Ver a cara de espanto de humanos com as reações de Ariel, que é ao mesmo tempo confusa e hilária, remeteu o filme a uma ideia original e própria que rapidamente pintou sua identidade.

A dose de espaço para o príncipe Eric é adequada. Depois de tantos filmes clichês de princesas onde o mocinho e a mocinha se bicam até dizerem um “Eu te amo” é um alívio poder ter um par romântico com sua própria história base sendo apresentada antes do primeiro encontro entre eles.

O ponto mais interessante do filme sem sombra de dúvidas é o acordo entre Ariel e Úrsula e é muito bom que a Disney não tenha mexido os pauzinhos nisso. É a partir desse ponto que o filme começa a andar (perdão o trocadilho) e vemos o desenrolar da história de personagens como a Rainha Selina e o Sir Grimsby possam brilhar.

Embora as irmãs pudessem ter um destaque maior, tendo suas próprias parcelas no combate confuso da cena final, Jéssica Alexander como a vilã temporária Vanessa compensa mesmo que de forma breve.

E por falar em confronto, a batalha final é outro ponto cego que ficou carente de sentido e desenvolvimento. Uma pergunta: apenas um mastro seria mesmo capaz de derrotar a vilã em posse de um objeto tão poderoso? E se ela não estiver de fato morta ou derrota, será que a coisa toda não perde o sentido então?

A Pequena Sereia não é uma decepção escabrosa porque no fim das contas vem a entregar exatamente o que prometeu. Nunca foi dito em momento nenhum que a obra daria uma virada de chave na história clássica que todos conheciam e é mais do que o suficiente.

É esperado que a Disney olhe com menos ganância para essas obras e se comprometa a não levar as críticas (pelo menos as válidas, e não as de cunho racista) como nada além de algo realmente construtivo.

Filme: A Pequena Sereia – Live Action

Direção: Rob Marshall

Elenco: Halle Bailey, Jonah Hauer-King, Melissa McCarthy, Simone Ashley, Jessica Alexander, Daveed Digs, Javier Bardem, Jacob Tremblay

Nota: 7,5

O live-action de A Pequena Sereia está em cartaz nos cinemas.

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