O que é Queerbaiting?

Matheus Martins

Nos últimos anos, a representatividade LGBTQIA+ tem ganhado mais espaço e visibilidade na mídia e na cultura pop. No entanto, nem sempre essa representatividade é feita de forma autêntica e respeitosa.

Muitas vezes, os criadores de obras de ficção ou os próprios artistas se aproveitam da expectativa do público LGBTQIA+ por ver seus afetos e identidades retratados na tela ou no palco, mas não cumprem essa promessa. 

Essa prática é chamada de queerbaiting, que significa uma isca para atrair o público queer sem comprometer a audiência heterossexual.

Quando o termo foi inventado?

Não há uma data exata de quando o termo queerbaiting foi inventado, mas ele surgiu e foi popularizado por meio de discussões nos fandoms da Internet desde o início dos anos 2010. O termo une dois conceitos em inglês: queer, que significa “estranho, peculiar, excêntrico, esquisito”, e que é usado como um termo guarda-chuva para se referir a orientações sexuais e identidades de gênero que fogem da cisheteronormatividade, e bait, que significa “isca”, indicando uma forma de atrair o público LGBTQIA+ sem retratar de fato seus afetos e identidades.

Quando o queerbaiting acontece?

O queerbaiting pode se manifestar de diversas formas, como sugerir uma tensão sexual ou romântica entre personagens do mesmo sexo sem desenvolver ou tornar oficial o relacionamento, afirmar que um personagem é LGBTQIA+ fora da obra sem mostrar isso na narrativa, ou usar símbolos e gestos que remetem à comunidade sem assumir uma identidade ou orientação não normativa.

Como ele é prejudicial?

O queerbaiting é prejudicial porque explora a causa LGBTQIA+ para ter algum retorno financeiro ou de popularidade, mas não contribui para a inclusão e o respeito à diversidade. Neste artigo, vamos analisar alguns exemplos de queerbaiting na ficção e no meio artístico, e discutir como essa prática pode ser evitada ou combatida.

Exemplos de queerbaiting

Abaixo, acompanhe alguns exemplos de queerbaiting que impactaram audiências em séries de televisão e, até mesmo, na música.

Supernatural

Em Supernatural, a acusação de queerbaiting foi feita sobre a relação entre Dean e Castiel, conhecida popularmente como Destiel para o fandom na época de exibição da série. Alguns fãs viram essa relação como uma forma de explorar e lucrar com o desejo de representação LGBTQIAP+ sem realmente se comprometer com ela. 

Em contraste, outros fãs interpretaram a relação como uma forma de subverter as normas de gênero e sexualidade; por exemplo, se Castiel fosse uma mulher, o desenvolvimento entre os dois pesonagem já teria se inclinado para o lado romântico desde a primeira temporada em que o anjo foi desenvolvido.

Once Upon a Time

Em Once Upon a Time, muitos fãs perceberam uma forte química e uma evolução de relacionamento entre Emma Swan e Regina Mills, as protagonistas da série que são mãe biológica e adotiva do mesmo filho, Henry.

Exatamente como o caso com Destiel, as duas começam como inimigas, mas aos poucos se tornam aliadas, amigas e até co-mães. Elas compartilham muitos momentos de proximidade, olhares intensos, gestos carinhosos e diálogos emocionantes, que poderiam ser interpretados como indícios de um romance em potencial.

No entanto, a série nunca explorou essa possibilidade, e manteve as duas personagens como heterossexuais, envolvendo-as com outros homens ao longo das temporadas. Isso frustrou e decepcionou muitos fãs que torciam por SwanQueen, o nome do casal formado por Emma e Regina.

Essa é uma forma de queerbaiting, pois cria uma expectativa falsa na audiência LGBT de ver uma representação significativa e satisfatória de um casal lésbico entre as personagens principais da série, mas que nunca se realiza.

9-1-1

A quase não-percebida série 9-1-1, de Ryan Murphy também cometeu queerbaiting com os personagens Buck e Eddie, que têm uma forte química de irmãos e uma relação próxima com o filho de Eddie, Chris. Alguns fãs interpretaram algumas cenas como dicas de um possível romance entre eles, como quando Buck ofereceu para sair com TK, um personagem queer de 9-1-1: Lone Star, e TK pensou que Buck estava dando em cima dele. Além disso, a série lançou entrevistas e brincou diversas vezes em materiais de divulgação que poderia haver algo a ser desenvolvido entre os dois, algo que não foi visto bem pelos olhos do público.

A inserção de personagens realmente homossexuais no spin-off Lone Star, por exemplo, causou ainda mais alvoroço. Foi como se os produtores estivessem “dando o relacionamento” para o fadom de 9-1-1 como forma de surprir os desejos dos fãs de verem os personagens da série principal juntos.

A série ainda não definiu a sexualidade de Buck ou Eddie, então pode haver espaço para diferentes interpretações. No entanto, alguns espectadores podem se sentir frustrados ou decepcionados se a série não abordar esse assunto de forma clara e respeitosa nas temporadas futuras.

Billie Eilish

Nem só no mundo da televisão o queerbaiting acontece. A cantora Billie Eilish foi acusada de queerbaiting por conta de uma foto dos bastidores do clipe de “Lost Cause”, na qual ela aparece ao lado de outras mulheres com a legenda “eu amo garotas”. 

Alguns seguidores interpretaram a frase como uma insinuação de que Eilish se relaciona com mulheres, enquanto outros criticaram a atitude como uma forma de atrair a atenção do público LGBTQ+ sem representá-lo de verdade. 

No entanto, alguns fãs defenderam as acusações, argumentando que a publicação pode não ter nenhum significado oculto e que Eilish tem o direito de explorar sua sexualidade sem pressão.

Os exemplos de queerbaiting são vários nas mídias, e podem alcançar até a vida real. Um exemplo perfeito é o da série Teen Wolf, que promoveu um vídeo sobre Sterek para pedir que os fãs votassem no shipp como melhor duo romântico, enquanto na série em si, o casal nunca foi canon.

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