Crítica: “A Freira 2” tem violência, mas não tem história

Matheus Martins

Um dos problemas mais enfrentados pela franquia Invocação do Mal, bem como os seus derivados, é a de que os créditos dos filmes, com detalhes e gravuras e trilha sonora costumam dar mais medo que o filme em si, o que não chega a ser um empecilho, mas que incomoda.

Então, para compensar essa falta de substância nos filmes, o título da Warner Bros busca compensar com uma gama de universos que se tocam, o primeiro sendo o Invocação do Mal, sobre o casal especialista Warren, o segundo sendo a Annabelle, a boneca demoníaca, e o terceiro sendo A Freira, uma entidade antiga que tem seu passado abordado no filme de 2018.

Cico anos depois, o longa ganha uma continuação no formato de sequência, onde o demônio Valak volta a assombrar a irmã Irene.

Invocação do Mal nos ensinou que trazer uma temática como a possessão e o exorcismo no formato de filmes só funcionaria e daria certo – como certamente deu para a franquia original – se a cada novo título novos demônios fossem enfrentados pelo casal especialista em casos espirituais. E é exatamente por isso que, ao entar adaptar o velho mal para às telonas, tendo ele mesmo sido derrotado no antigo filme, não pega bem aqui em A Freira 2.

A tática não só diz que a Warner Bros desdenha da inteligência da sua audiência, como também demonstra uma preguiça do roteiro em desenvolver uma história que seja capaz de soar realística diante dos fatos: se o demônio é invencível, isso significa que os filmes nunca realmente terão um fim. Portanto, logo essa tentativa em 2023 perde rápido o sentido e é facilmente jogado às traças junto de tantos títulos non-sense que fazem parte do gênero do horror ao longo dos anos.

Se esse fosse um filme sério, a primeira coisa adequada a se fazer é estudar a origem e os motivos que levam a demônios, espirítos, fantasmas e aparições dentro de visões serem tão recorrentes a figuras católicas, tal como a freira Irene, e explicar ao seu público algo que faça sentido dentro do contexto. O que faz o mal seguir? Por que o mal persiste?

A Freira 2 obviamente não faz isso, sendo apenas mais uma entrada que está disposta a preencher às lacunas de um universo que só se constrói lá para frente, em Invocação do Mal 2, quando Maurice (Jonas Bloquet) aparecerá em um vídeo sendo exorcizado pelos Warren dentro da linha do tempo bagunçada da franquia.

Outra ponto a ser analisado aqui é o terror. Antes mesmo de sua estreia, A Freira 2 foi apontado como mais aterrorizante que o primeiro, o que é uma inverdade. Logo nos primeiros minutos, vemos que o filme é mais violento, sim, com direito a personagens pegando fogo e litros de sangue jorrando as vítimas feitas pela entidade aqui nessa massiva sequência. No entanto, a atmosfera que deveria fazer esse filme entrar na categoria terror, está ausente.

Quando o filme tem essa proposta e trabalha com essa expectativa, ele precisa entregar o que foi proposto. Ao invés disso, esse novo capítulo fica mais próximo de emular as características de um filme slasher. Temos as possíveis vítimas, temos a protagonista com um passado sombrio, e temos as mortes, que são dúbias, subestimadas e nada importam para o roteiro, já que não dão sequência e nem levam a um climáx condizente.

A falta de desenvolvimento das personagens novas (e antigas) trazidas para a trama, bem como a necessidade de enlaçar as suas histórias, tornam esse filme mais fraco que o seu antecessor, que era bem mais fechado, com uma trama mais bem trabalhada dentro da proposta que se propõe. Aqui, o terror tenta saltar para todo lugar só para não acabar em local nenhum, importunando ora um internato na França, ora uma rua convenientemente abandonada onde Valak faz sua aparição para Irene.

Apesar da genialidade dessa cena, o mesmo não se pode dizer sobre o filme, que é inconsequente em entregar até mesmo um elemento de mistério. Já sabemos quem é o vilão, já sabemos o que esperar dele, e nada disso impressiona.

A Freira 2 é um desperdicío com mais de uma hora e meia que mostra que alguns dos moldes do terror do último século estão sendo transformados em caça-níqueis visuais que desaponta e faz perder tempo de quem realmente quer sentir medo.

Filme: A Freira 2

Direção: Michael Chaves

Elenco: Taissa Farmiga, Bonnie Aarons, Storm Reid, Anna Popplewell, Jonas Boquet, Katelyn Rose Downey.

Nota: 6,00

O filme A Freira 2 está em cartaz nos cinemas.

Deixe um comentário