Crítica | “A Sociedade da Neve” é filme de desastre recheado de aflição

Matheus Martins

A Netflix adicionou em seu catálogo A Sociedade da Neve na última quinta-feira (04) e o filme rapidamente repercutiu nas redes sociais. O drama histórico espanhol fala sobre uma tragédia de 1972 envolvendo um avião com um time de rugby colide com uma geleira na Cordilheira dos Andes.

Lá, os 29 sobreviventes do acidente precisam se virar como podem para sobreviver diante do frio, da falta de recursos e da doença durante a longa espera para que sejam resgatados.

Grande indicado ao Golden Globe Awards na lista de Melhor Filme em Língua Não-Inglesa, nós do Pixel Nerd já conferimos o longa e temos a nossa crítica à respeito dele. Veja abaixo!

Filmes que retratam acidentes e acontecimentos reais sempre vêm comportados de uma delicadeza; são filmes capazes de tocar o telespectador que está acostumado a cenários fictícios e perigos que só vivem dentro da tela. Com o drama histórico, não há como se esconder dos “bichos-papões” já que a tragédia acometida a um pode também pode ser acontecer a qualquer outro. Assustadoramente realista, Sociedade da Neve fala de um acidente onde um time de rugby cheio de jovens ficaram mais de 70 dias presos na neve buscando sobreviver em meio às maiores adversidades que um ser humano pode enfrentar.

No longa, começamos com um cenário de joviedade e muita diversão envolvendo o time de rugby enquanto conhecemos seus nomes, suas piadas, e sobretudo suas perspectivas para o futuro antes do vôo. Nada muito apelativo, com um senso de realidade que irá se estender desde o começo do ponto de partida. Em meio a tantos jovens, a narração fica por conta de Numa Turcatti (Enzo Vogrincic), um jovem cuja crença em Deus será o gás para que ele tente entender pelo que ambos irão passar e o que ele internamente irá passar quando se ver em conflito contra os ideias que sua religião prega.

Mas não fique pensando que esté um filme religioso, não. Em seus primeiros trinta minutos, o longa mostra logo para o que veio, adaptando o senso de urgência ao texto, às cenas e a super-produção de efeitos especiais. Da parte textual, o elogio vai para o ponto direto com que as coisas percorrem. Sim, são jovens soterrados, mas munidos de estudo e eficiência, tornando os meros sobreviventes em diferentes setores diferenciados de sobrevivência para combater o frio, a fome e até mesmo a sanidade mental de alguns. É um filme cheio de picos, onde o ponto alto nunca para, mas que também sabe dosar seus momentos de crise de uma maneira balanceada.

A atuação àquem de todo o elenco quando unida aos efeitos práticos torna toda a experiência aflitiva. O telespectador talvez nunca sinta como será passar mais de dois meses lutando para se livrar do frio, mas a cada maneira de lidar com a morte, a cada novo pensamento que se desdobra enquanto um problema atrás do outro afunda uma situação que já estava pior, as seguintes perguntas rodam nossa cabeça: “o que faríamos se estivéssemos no lugar deles?” ou, até mesmo, “será que sobreviveríamos?”.

Enquanto não podemos responder, o aspecto humano é algo que pode ser levado em conta a todo momento – não existe uma fala em A Sociedade da Neve que não faça referência ao dilema com o qual debate, o que certamente o torna mais imersivo do que um mero filme histórico de algo ruim que acometeu a humanidade. Mesmo alejados em meio a montanha que traz cada vez mais desafios e a sensação inerente da morte, os jovens mantém seu humor, sua tristeza, sua felicidade, sua dor e seu senso de urgência. É o impossível do que é dito logo no começo do filme por Numa “Essa montanha não foi feita para existirmos nela” que é rebatido não por um milagre, mas por um trabalho árduo e duro dos dezesseis jovens; o que por si só, é um milagre em si.

Como já dito anteriormente, o filme não tem apenas um ponto alto, mas quando mata um personagem que já imaginávamos seu destino é demonstrado o quanto ele é realista em sua proposta, sem contar a mensagem que quer passar: é um filme sobre as vítimas da tragédia de 1972, não sobre o que as pessoas acham ou pensam das vítimas, muito menos sobre aqueles que irão pesquisar “o que aconteceu com os sobreviventes…” depois de terminarem de assistir o longa. Em filmes do tipo, seria fácil de se perder na proposta deixando um final aberto ou algo que quebra a expectativa, mas no fim das contas, tudo é tratado com uma solidez dolorosa, no entanto prazerosa por se manter fiel à verossimilhança.

Se formos falar de atuação, o que mais assombra neste filme é a atuação de Augustin Pardella, que toma a frente da lente em momentos chaves, uma vez pintado com uma maquiagem assustadora ao redor dos olhos, outra quando esse assombro acompanha seu personagem que é obstinado e, sem sombra de dúvidas, um ponto de foco para o desfecho do título.

Assistir ao filme A Sociedade da Neve foi uma experiência que pode facilmente ser assemelhada com Nada de Novo no Front, um filme de guerra da Netflix com proposta diferente, mas tão sórdido nos seus propósitos como o longa de Juan Antonio Bayona.

Filme: A Sociedade da Neve.

Direção: Juan Antonio Bayona,

Elenco: Enzo Vogrincic, Matías Recalt, Carlos Páez Rodriguez, Augustín Pardella, Felipe Gonzalez Otaño, Esteban Bigliardi.

Nota: 10,00

A Sociedade da Neve está disponível na Netflix.

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