Crítica: “Barbie” é uma viagem fantástica e importante

Matheus Martins

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Após meses de divulgação, trailers e curiosidades que iam aumentando cada vez mais a expectativa, Barbie finalmente chegou aos cinemas e arrastou uma multidão de “kens” e “barbies” para as milhares de diversas filas de bilheteria.

O longa é um dos mais aguardados do ano e tem a direção de Greta Gerwig, primorosa diretora de Hollywood responsável por filmes como Adoráveis Mulheres e Lady Bird: A Hora de Voar. Greta é bastante conhecida por trazer filmes com o olhar feminino e sacadas de humor de outro mundo.

Nós do Pixel Nerd já conferimos esse grande lançamento dos cinemas e temos a nossa crítica. Leia abaixo para saber o que achamos!

Quando foi anunciado a primeira vez, o que não faltou para Barbie foram especulações sobre o que o filme poderia ser. Estaria a Warner tentando revisitar um universo já conhecido e expandi-lo da mesma forma que a Disney vem fazendo com a Marvel há anos? Aproveitar um nome famoso, de marca, e lucrar em cima dele?

A resposta veio no formato dos trailers, que não só superaram às expectativas como aumentaram ainda mais aquelas já existentes. Barbie não seria apenas um filme sobre uma boneca, mas sim uma crítica social ferrenha. O filme vem sim embalado nesse estranho fenômeno que grandes corporações de estúdio adotaram de não parar de revisitar produtos já conhecidos, mas se agarra em uma história para contar, em uma diversão que pode ser repassada numa tela e numa aventura ambiciosa que promete impactar produções do mesmo nicho daqui algum tempo – ou pelo menos assim esperamos.

Sob a lente de Gerwig, conhecemos o mundo da Barbie pela sua origem. A boneca foi criada para que meninas da época dos nossos pais (ou dos pais dos nossos pais, dependendo de quem esteja assistindo) não se preocupassem em ser mães no futuro e tivessem sonhos mais ambiciosos como ser uma astronauta, uma presidenta, uma médica ou, até, tudo o que ela quiser. Após décadas de reinvenção, a Barbie Genérica (Margot Robbie) passa a dar “defeito’ quando começa a ter pensamentos que sente não serem dela, e ter sua rotina sempre perfeita alterada de uma maneira preocupante tanto para ela, quanto para as outras barbies que orbitam à sua volta.

Após se queixar, a solução se apresenta no cerne do que será a narrativa do filme. Barbie terá que visitar o mundo dos humanos (que pode tanto ser visto como o nosso mundo como o do universo em que o filme é passado em si) e descobrir com qual garotinha ela está telepaticamente conectada. Embora a missão de fazer com que tudo volte ao normal pareça fácil, no minuto em que a boneca adentra o nosso mundo, é começado o choque entre ideia x realidade.

Barbie poderia ser um daqueles filmes que gostaríamos de espalhar para um amigo ou uma irmã dizendo que ele possui várias referências. Porém, dizer que ele é apenas isso seria diminuir as diversas nuances que o filme é capaz de trazer consigo. Com um texto que alfineta de maneira nada leve os ramos de uma sociedade inerte a um problema como o machismo estrutural, é incrível observar um longa que não seja independente ou de nicho pequeno ser capaz de passar todas essas mensagens sem que seja de uma forma galhofa, clichê, básica ou – pasme – cansativa.

Não que ele não o seja assim. Mas o tempo do filme é bem usado para ter todas essas coisas, nutrindo em uma hora e meia uma narrativa que precisa ser contada, ao mesmo tempo uma aventura que é imersa e contagiante, um universo que é único e pitoresco e colorido, e munido de um talento e potencial que é invejável para qualquer diretor de cinema que esteja sendo desleixado com o seu próprio projeto.

Em meio a esse campo, ainda há espaço também para uma dualidade. Nesta jornada, Barbie tem a companhia de Ken (Ryan Gosling), que após uma aposta e um desejo de conquistar a boneca que todos acham que deve ser seu par perfeito, acaba embarcando com ela para o mundo real. Após confusões e trapalhadas (lembra da parte da galhofa?), é no toque que esses dois brinquedos têm com o nosso mundo que define o ponto chave para tudo. Enquanto Ken acha em nosso mundo tudo que identifica uma pessoa do sexo masculino, Barbie entra em toque com as emoções de um ser humano, seja chorando, rindo, sorrindo, elogiando alguém ou sendo profundamente magoada pelas palavras de uma jovem irritada.

São tantos elogios à Barbie que fica quase impossível não parafrasear uma das falas da personagem: Barbie é muito mais do que isso. Mas se for para apontar um feito adorável é o quanto ele se propõe em ser honesto. Quando afastamos o falso moralismo, o storytelling batido de que a jornada do herói tem todas as respostas, vamos ver que todos os outros filmes de grande porte assim como Barbie que tentaram fazer isso são cascas vazias de um mesmo assunto usando a mesma canção para boi dormir.

A Marvel tem do seu lado uma cronologia que precisa de um olhar minucioso para entender o que está sendo contado com seus personagens. Já para entendermos Barbie melhor, basta procurar uma música cantada no filme, uma referência a um boneco conhecido, um conceito que você já ouviu falar em alguma aula de Sociologia. São pontas que se agarram a um ponto real, e o realismo em filmes, por mais bobos ou rasos que eles sejam, é algo pelo qual muitos entusiastas do cinema estão pedindo nos últimos tempos.

Pensar que um filme seja capaz de ter mensagens tão importantes faz com que dê vontade de revisitá-lo ou ao menos torcer para que um fruto tão bom renda algo ainda mais primoroso no futuro. Mesmo com o medo do que franquias arrastadas podem fazer com um nome tão grande (Marvel, estou falando com você) fica a torcida para que Barbie tenha mais espaço no cinema e na televisão, assim como suas mensagens que impactaram quem assistiu.

Filme: Barbie

Direção: Greta Gerwig

Elenco: Margot Robbie, Ryan Gosling, Simu Liu, Issa Rae, Hari Nef, Alexandra Shipp, Emma Mackey, Michael Cera, Simu Liu, America Ferrera, Ariana Greenblatt, Ncuti Gatwa, Kingsley Ben-Adir, Connor Swindells.

Nota: 10,00

Barbie está em cartaz nos cinemas.

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