Crítica | “Berlim” rouba todo o potencial de La Casa de Papel

Matheus Martins

Como uma das apostas de séries de fim de ano da Netflix, Berlim, o spin-off de uma das séries espanholas de grande sucesso está disponível no catálogo da vermelhinha, e traz uma última aventura para um dos personagens mais emblemáticos de La Casa de Papel.

Dessa vez, diferente de liderar um grupo de assaltantes para a Casa da Moeda, Berlim reúne um bando talentoso em Paris para uma missão impossível: roubar 44 milhões de euros em joias vindas de 34 cidades em apenas uma noite.

Já conferimos essa que é uma das últimas produções de 2023 da Netflix e temos a nossa opinião à respeito. Veja abaixo nossa crítica!

Quatro anos antes do roubo à Casa da Moeda da Espanha, Madrid, Berlim era um homem apaixonado com um legado e um nome a ser deixado para tantos outros criminosos, principalmente aqueles com quem faria história novamente: Tokyo, Rio, Denver, Nairóbi, Helsinque, Moscou e Oslo. Embora o roubo tenha sido um dos mais bem-sucedidos da história dentro da mitologia de Álex Pina, com cada assaltante tendo um futuro promissor pela frente, é de conhecimento público que Berlim (spoiler!) se sacrificou para dar a vida ao resto da gangue.

Em Berlim, os criminosos conduzem um roubo a uma das casas de leilões mais populares de Paris, planejando levar uma quantia milionária em joias. Assim como em La Casa de Papel, o crime precisa de muita atenção para que eles não sejam facilmente pegos pela polícia, o que resulta em uma série de artimanhas da parte de Berlim e seus aliados compostos por Keila (Michelle Jenner), uma espécie de nerd da tecnologia; Cameron (Begoña Vargas), um rapaz perigoso e volátil; Damián (Tristán Ulloa), o braço direito de Berlim; o devoto Roi (Julio Peña Fernández) e Bruce (Joel Sánchez), um homem que entende tudo sobre ação.

Apesar de ter uma premissa que lembra bastante a bem-sucedida La Casa de Papel, a grande verdade é que logo nos primeiros minutos, Berlim se revela uma série muito mais voltada para o romance, com o roubou ainda em evidência, mas com diversas sacadas mais leves; se acende o lado mais romântico de Berlim, que foi revelado nas temporadas finais da série originai, e do restante dos protagonistas, enquanto se também foca no aspecto do crime.

Porém, diferente da série com a qual tenta se equiparar, Berlim acaba abusando demais desse aspecto em particular, acabando assim abusando do melodrama e dando pouco tempo para o público conhecer os possíveis riscos de tentar roubar grandes artefatos enquanto as forças da lei tentam parar nossos assaltantes. Embora faça sentido que seus rostos não poderem ser conhecidos seja algo importante para a história, para o personagem principal, essa desculpa não cola de um jeito muito crível.

Berlim fala de amor e não é pouco, tanto que chega a ser enfadonho acompanhar pelos grande oito episódios um ator excelente como Pedro Alonso se arrastar dentro do cadáver do romântico incurável que, diga-se de passagem, foi só uma mera desculpa para se ter o personagem como o monstro ardil que ele se apresentou nas primeiras partes do assalto de estreia do grupo.

Não vemos um homem taciturno, vemos um homem insolente e aceitando riscos no lugar da missão como se fosse um adolescente bobo. O carimsa continua aqui, mas em doses altas de exagero, pretensão e um senso de grandiosidade que não é construído num minuto sequer; de repente, mesmo com todas as suas incoerências, Berlim é um homem pelo qual as outras pessoas têm respeito e com um canhão pronto para soltar os conselhos mais sem pé nem cabeça como aquele tio bêbado de natal do qual você quer correr desesperadamente.

É impossível também não olhar para os casais formados na série – todos lindos e belos, esbeltos modelos que poderiam estampar capas de revistas de nutrição – e não olhar para o quanto a série é mal produzida nesse aspecto. Mesmo a atriz Michelle Jenner tentando se esconder atrás de uma toca e um par de óculos escuros, a produção cheira a uma força explêndida de novela mexicana se movendo atrás do verdadeiro enredo pelo qual foi programada, que é o assalto e a capacidade das personagens de serem furtivas em torno da polícia algoz. Sem essa força matiz necessária, é impossível acreditar que esses ladrões corram algum risco de serem presos, o que automaticamente nos faz não se importar com eles.

É de se imaginar que essa falta que é sentida a todo momento tenha uma explicação das boas; a própria série está roubando tudo que tem de melhor, deixando o que poderia ser uma boa herança dos anos imperfeitos, porém modestos e dentro do padrão de uma história derivada de La Casa de Papel poderia entregar.

Por essa razão, foi uma experiência depecionante me carregar pelos oito episódios disponíveis sabendo que ao invés de uma produção que se esforce para ser boa, eu ficaria diante de uma coleção de obviedades previsíveis vendidas para fisgar o público emulando uma paixão que não existe e uma carisma que, assim como os ladrões, não é impossível de se pegar, mas que a essa altura é inalcançável.

Série: Berlim.

Direção:  Álex Pina.

Elenco: Pedro Alonso, Michelle Jenner, Tristán Ulloa, Julio Peña Fernández e Joel Sánchez.

Nota: 3,00

Berlim está disponível na Netflix.

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