Crítica: “Com Carinho, Kitty” é um clichê honesto

Matheus Martins

Anunciado como um spin-off da adorada trilogia da Netflix, Para Todos os Garotos que Já Amei (2018-2021), Com Carinho, Kitty é uma das novidades de maio para o catálogo que se encaixa tanto na aba comédia romântica quanto no gênero teen. A trama se baseia em Kitty, irmã de Lara Jean, que acaba se aventurando em um intercâmbio na Coreia para ficar mais próxima de seu namorado e acaba embarcando em uma história cheia de segredos e intrigas.

A série possui 10 episódios curtos de ao menos 30 minutos de duração que apresentam novos personagens para a franquia já conhecida ao passo que se aproxima mais da caçula de Lara Jean, conforme a acompanhamos buscando saber sobre a origem de sua mãe, Eve Song, e mais sobre a cultura coreana que está em seu sangue.

Nós do PixelNerd já maratonamos a série completa e temos nossa opinião formada a respeito dela nesse artigo; confira abaixo nossa crítica:

Antes de embarcarmos na Coreia com Kitty, primeiro vamos revisitar rapidamente a história de Lara Jean, o papel de Kitty na história principal, e sua crença no amor verdadeiro. A personagem, com uma apresentação na televisão, explica para o pai, Dan, e para a madrasta o quanto faz sentido que ela vá parar na Kiss, uma escola internacional. Ela não enfrenta tanta resistência quanto a ideia e rapidamente a vemos chegar no local para surpreender seu namorado Dae, que já foi apresentado antes em alguns flashbacks no piloto da série.

Chegando lá, porém, as surpresas não param de acontecer: Dae, por exemplo, tem uma namorada, Yuri. Alguém que por acaso Kitty já havia conhecido antes e pedido uma carona até a Kiss. A partir daí, o mundo de Kitty desaba e a garota fica em conflito entre ficar ou conhecer melhor o legado de sua mãe.

Os motivos para Kitty não permanecer na Kiss são vários: ela cai num dormitório cheio de meninos, é péssima no desempenho escolar e todas as suas tentativas em se conectar com a suposta amiga de sua mãe são rejeitadas. Mesmo assim, Kitty é esperançosa e decide continuar com essa experiência.

A série tem muitos saldos positivos no que diz respeito a narrativa da história, diálogos e conflitos. O drama, apesar de ser clichê, batido e com desenvovilmentos bastante previsíveis, funciona muito bem respeitando as emoções e posicionamento da personagem Kitty, que é vulnerável, porém esperançosa. Ela não tenta sair por cima da situação e quando confrontada por seus medos, obstáculos e problemas, sua essência não se perde mesmo quando está confusa ou triste com algo que está acontecendo.

Algo que Com Carinho, Kitty surpreende por fazer bem é a separação dos dramas da série. Os núcleos do drama pulam da relação de Dae com o pai a Yuri e seu amor secreto por uma garota chamada Juliana sem ser de forma corrida. Há um momento mais para frente na série, onde acompanhamos Quincy discutindo com seu namorado durante uma apresentação no show de talentos, que é esperado que a câmera desviando dos personagens mude para outro núcleo da história, mas isso não acontece; a cena prossegue até que os diálogos entre as personagens se encarreguem de fechar aquele conflito logo.

Quanto ao romance em si, de forma surpreendemente, ele é o foco da história, mas não necessariamente o carrega por todos os episódios; o que até que é bom. A série está mais preocupada em apresentar as diferentes personagens que vão nos fazer rir, chorar, ter raiva e torcer para que tenha uma boa resolução no final. O humor também está em peso na série, de forma dosada e sútil, sem ser de forma pastelão ou batido.

Outro elogio a série vai para os diálogos, alguns deles totalmente coreanos que se alternam entre o inglês de forma balanceada e até um pouco realista em alguns momentos. Não dá para deixar de comentar que, em alguns momentos – como uma sequência romântica entre os casais da série – os cenários são completamente artificiais, mas isso é rápido e não incomoda em momento nenhum a experiência. A representatividade a questões LGBTQIAP, como a descoberta de Kitty também não é forçada ou conveniente e nem comete aquela gafe de tratar o assunto como uma piada – algo muito comum em obras norte-americanas.

A performance de Anna Cathcart é agradável e se une bem a personalidade da personagem que foi responsável por enviar as cartas de Lara Jean. Ela, como a própria Kitty diz durante vários momentos da série, é uma Cupido e não consegue resistir a se intrometer em questões de outros personagens na série, seja amoroso ou mais sério, como um teste de paternalidade.

Se a série tiver um bom desempenho, uma segunda temporada para ela é bem mais do que prevista e é muito bom perceber que isso não incomoda, visto que não passa de mais um clichê da plataforma, mas que pelo menos é honesto.

Série: Com Carinho, Kitty

Direção: Sascha Rothchild

Elenco: Anna Cathcart, Choi Min-young, Sang Heon Lee, Anthony Keyvan, Kim Yoo-Jin, Michael K. Lee, Peter Thurnwald

Nota: 7,0

Com Carinho, Kitty está disponível no catálogo da Netflix.

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