Crítica | “Feriado Sangrento” abraça o slasher de forma bagunçada

Matheus Martins

A linha tênue entre o plágio e a inspiração é traçada quando se rouba a mesma fórmula para lucrar com novas franquias que entregam mais do mesmo. É o que o filme de Eli Roth, Feriado Sangrento vende com uma proposta parecida com a de Pânico.

Não por acaso, o longa é uma produção da Spyglass, mesma empresa que detém os direitos do longa criado por Wes Craven, e que agoram apostam em slashers focados também em feriados nacionais. Aqui, o Thanksgiving, “Feriado de Ação de Graças” ganha uma tonalidade mais sombria quando um assassino mascarado passa a mirar um grupo de pessoas de uma cidade em plena data festiva.

Protagonizado por Patrick Demspey (Grey’s Anatomy), o dia de abertura de uma loja em plena Black Friday causa uma série de acontecimentos desastrosos que prometem deixar a ceia de Ação de Graças de duas famílias inesquecível. Um ano após o acontecimento, o dono da loja pretende compensar a comunidade de Plymouth pelos eventos, mas é tarde demais quando um assassino mascarado passa a matar um a um os indivíduos que estavam na fatídica noite.

No cerne dessa narrativa, os jovens Jessica, Bobby, Ryan, Gabby, Evan, Amy e Scuba são alvos de um anônimo na rede social que sabe sua participação na noite do acontecimento e passa a ameaçá-los. Os pais e responsável também são alvos desta caçada sanguinária, como o ganancioso Thomas Wright, sua mulher e madrasta de Jessica, Kathleen, e o Xerife Eric Newton, uma vez que também tiveram envolvimento com tudo. Como todo filme slasher, as vítimas tentam de tudo para antecipar o movimento do assassino, mas ele mata com uma ferocidade ímpar e prepara uma culminância até o momento em que conseguirá sua vingança.

Embora o longa seja sim primoroso em alguns aspectos, a violência descarada, horrenda e cruel chega a ser mais ridícula do que a proposta gore que filmes com a mesma pegada deveriam ter. A liberdade em escrever um desastre de tamanho proporcional em plena Black Friday devia ser criativa, mas não tem qualquer fundo de verossimilhança – e nem deveria ter, já que apenas um policial segurando uma loja no dia mais importante de promoção do ano é tão impossível quanto aqui lá na China. Ainda assim, o roteiro tenta deixar muitas pontas soltas para o público explorar mais tarde, quando for necessário.

É tudo muito pretensioso, sem ter a menor pretensão de ser, com cenas de violência quebra-climáx que não deixam o público construir uma tensão. Parece que Eli Roth, que também já trabalha no roteiro de um segundo filme, deu uma volta em sessões de Terrifier e quis procurar algo que tivesse o mesmo valor de choque.

Um grande segredo de compor o slasher é trazer personagens com quem nos importamos, tudo para que as coisas trabalhem bem quando tivermos medo de perdê-los. Aqui, todo o elenco do filme é composto por uma galeria de clichês: a mocinha inocente que não apoia o pai rico, seu grupo de melhores amigas, o ex-namorado suspeito, o namorado atual que também é suspeito, os dois atletas sem nenhum neurônio no cérebro e suas namoradas que estão ali para servir de bandeja. Eu poderia continuar a lista falando da comunidade de Plymouth que é completamente esquecível, mas vou direto ao ponto: ninguém se importa com suas mortes quando elas acontecem. Não há um medo ou risco. É uma carnificina gratuita.

Para dizer que não tem um dilema, o filme tem alguns, como a relação de madrasta e enteada entre Jessica e Kathleen, a esposa de seu pai. Nunca vemos um confronto ou ponto de ruptura em que essa relação é trabalhada e o filme não se esforça nesse aspecto. Seu pai e ela podiam mudar de nome a qualquer momento e o roteiro ainda assim me deixaria com cara de paisagem.

Como se não bastasse, as atuações são risíveis. Isso que dá colocar profissionais de stand-up e personalidades do TikTok junto de um elenco com rostinhos familiares, fica aquela mistureba que nem mesmo uma boa metalinguagem como a de Pânico poderia salvar.

Embora seja legal entender que a violência gráfica seja algo que o diretor usa desde o seu clássico O Albergue, discordo de alguns comentários que dizem que cada frame do filme foi dedicado ao Dia de Ação de Graças – metade do longa está ocupado demais emulando o que há de melhor em um slasher ao invés de trabalhar com uma linguagem própria.

Apesar disso, tem alguns bons momentos em que o filme é bem inventivo, criativo, único e com a capacidade de agitar. Lá para a segunda metade, ele tem essa habilidade de nos entreter com a interação e o elemento de investigação que começa a nos deixar cada vez mais ávidos para descobrir quem é o assassino no final. É bom não esperar por dias ensolarados e policiais chegando com cobertores e chocolate quente já que a cena final faz um aceno para as clássicas cenas de slasher que faziam uma ponte para o próximo filme da sequência.

Se você for fã de sangue jorrando sem coesão de roteiro, sem cenas que se interligam a uma construção maior e uma metalinguagem visceral, Feriado Sangrento não é o filme mais adequado, mas ainda tem a capacidade de entreter se for acompanhado mais para a metade do seu tempo de duração.

Filme: Feriado Sangrento

Direção: Eli Roth

Elenco: Patirck Dempsey, Addison Rae, Milo Manheim, Jalen Thomas Brooks, Nell Velarque, Rick Hoffman, Gina Gershon, Karen Cliche.

Nota: 6,00

O longa chega no dia 7 de dezembro aos cinemas brasileiros.

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