Desde que foi anunciado nos cinemas, Exorcista: O Devoto era um dos filmes de terror mais aguardados do segundo semestre de 2023. Carregando no nome uma das obras mais importantes do gênero dirigida por William Friedkin, a expectativa era que com a nova geração de efeitos especiais, o horror causado na época fosse elevado.
Só teve um nome no meio disso tudo que deixou muita gente com o pé atrás, e é David Gordon Green, diretor responsável pelo reboot da última trilogia de Halloween. Como pode ser observado, o diretor não é nada estranho a obras clássicas amplamente elogiadas – isso não quer dizer que faz isso bem.
O Exorcista: O Devoto é um filme que se arrasta em preparar um terror que já está lá para ser visto, e quando chega ao climáx na hora de apresentar para o que veio, não tem nada a acrescentar ou para desenvolver. As poucas 1hora e quarenta e oito minutos do filme se tornam um grande prelúdio que atropela momentos importantes de conexão entre os personagens e acaba se sabotando a si próprio na reta final. Tudo culpa de David Gordon Green, que apesar de ser ótimo em conceitos, peca bastante em execução.
Começamos o filme em uma viagem pelo Haiti, onde Tanner (Leslie Odom Jr.) e sua mulher grávida estão visitando o país e descobrindo mais sobre a cultura religiosa do local. A mulher de Tanner ganha um recado espiritual e de repente o lugar é acometido por um terremoto de magnitude violenta que acaba levando a vida da mulher de Tanner – mas não a criança.
13 anos depois, vemos que apesar da tragédia, Tanner cuida de Angela, sua filha, e ambos possuem uma dinâmica de respeito e amor. No entanto, um dia Angela sai para fazer um trabalho na casa de sua amiga, Katherine, e as duas somem por três dias.
Os pais, loucos e desesperados à procura das crianças, juntam forças para entender o que está acontecendo. É quando a dupla retorna mais diferente do que nunca e os adultos descobrem que ambas estão sofrendo de um caso de possessão demoníaca. Enquanto que nada disso é novidade para o clássico, a produção de Gordon Green é diferente, trazendo um horror gráfico que distorce os rostos dessas personagens ao ponto de elas não parecerem mais humanas, com direito a fios de cabelo respingando e alteração na voz.
O grande problema em O Exorcista: O Devoto é não dar um grande espaço para a possessão que complementa uma das partes mais importantes do filme. Aqui não tem apenas um único padre em ação, não existe um foco em um personagem que traz esse dilema que o novo filme tanto quer passar. O enredo fica preso nos familiares e numa comunidade secreta e estranhamente cristã que se une para uma causa comum de maneira nada convincente.
O roteiro do filme é bem expositivo, ao ponto de irritar quem gosta da sutileza com que o clássico abordou a gravidade da situação. Aqui, se fala demônio tantas vezes por um simples desejo do roteiro de nos fazer querer comprar a ideia o tanto de vezes que for possível. Personagens sabem de segredos e chaves importantes para desbloquear enredos, mas suas personalidades não tem casca, nem vida e servem unicamente a esse propósito.
As atuações não são lá de todo ruins, as falas que são. Exorcista: O Devoto tem um elenco com um potencial gigante e que é desperdiçado por cenas de ação incongruentes. Um exemplo é Leslie Odom Jr., onde num mesmo take repetitivo tem que se levantar e passar a mão na cabeça diversas vezes para mostrar o quanto está frustrado ao saber o que está acontecendo.
Sem falar na escalação de Ellen Burstyn, que era uma das maiores promessas para o filme e é simplesmente reduzida a um fanservice de última categoria. Se você está querendo ver o filme na busca por um desenvolvimenro da personagem, este realmente não é esse, e Chris ganha ainda um desfecho bem não satisfatório, tal como o filme.
David Gordon Green não pode continuar saindo impune em pegar obras tão importantes do cenário do terror apenas para fazer caça-níqueis disfarçados do horror que tanto prometem entregar.
Filme: Exorcista: O Devoto
Direção: David Gordon Green
Elenco: Leslie Odom Jr., Lidya Jewett, Olivia O’Neill, Ellen Burstyn, Jennifer Nettles, Ann Dowd, Raphael Sbarge, Nobert Leo Butz.
Nota: 4,00
O Exorcista: O Devoto está em cartaz nos cinemas.