Crítica | “O Mundo Depois de Nós” é suspense apocalíptico de ranger os dentes

Matheus Martins

Acaba de chegar na Netflix um thriller de suspense que junta tecnologia, apocalipse e um clima de suspense que promete ranger os dentes. O longa é O Mundo Depois de Nós, adaptação da obra de Rumaan Alam.

Estrelado por Julia Roberts, Mahershala Ali e Ethan Hawke, o suspense segue a vida do casal Clay e Amanda, que partem para uma viagem de supetão em uma casa de luxo dos Estados Unidos com o intuito de se afastar do agito da cidade. O que começa como uma alternativa, logo se torna um obstáculo quando o casal é surpreendido por G. H. e Ruth, pai e filha, e verdadeiros proprietários da casa. A dupla estava em um musical quando foi interrompida por um blecaute na cidade e se sentiram mais confortáveis em voltar para casa até entender o que está acontecendo.

O resto da noite não deixa de ficar mais esquisita, conforme Amanda não acredita na dupla de estranhos e pensa que eles podem estar guardando algum segredo. Não ajuda muito que a filha de G. H. crie uma inimizade, porém a outra família também têm seus problemas: a mãe deles, por exemplo, estava em um vôo quando o mundo começou a se desconectar e tem grandes chances de estar morta.

O clima de desconfiança é só um pano de fundo para a verdadeira trama que é trabalhada aqui. Hackers tomando conta de aparelhos eletrônicos, drones e navios se comportando de maneira estranha, além de uma fileira de carros desgovernados perigosa. O filme não apela para o tipo de desastres naturais que outros da temática “fim do mundo” tiram proveito, mas ainda assim consegue ser aflitivo de uma forma original.

Em uma cena, por exemplo, a barreira do som é quebrada diversas vezes, deixando todos surdos e desnorteados e ao invés de encontrar uma razão ilógica para o que está acontecendo lá fora, o filme é sincero nos motivos sem inventar desculpas mirabolantes. Também é uma cena original que não se vê em muitos filmes sobre desastres naturais.

É um filme que trabalha no psicológico, mas sem se apoiar na dúvida constante sobre o que está acontecendo. O que é uma pegadinha: você não sabe se os donos da casa estão realmente falando a verdade ou possuem algum envolvimento com o que está acontecendo no mundo real. Enquanto assistia, cheguei a desconfiar até mesmo das razões de Amanda em alugar a casa no meio do nada no mesmo dia em que o mundo teria suas conexões cortadas.

Felizmente, nenhuma das presuposições está correta e afirmam a mensagem que o filme quer passar sobre quem somos e como realmente pensamos quando confrontados com a incerteza do que está diante de nós. Para a filha Ruth, a família “carente” pode ser um problema quando as coisas ficarem feia. Para Amanda, tudo precisa estar exatamente como está sem alterações para que não se perca o controle ilusório de que tudo ficará bem; ambas sensações que são trazidas e sentidas por nós quando estamos presentes em nossas realidades.

E o que falar das “cutucadas” que Esmail faz? O diretor não é nenhum estranho em analisar o comportamento humano desde que fechou sua série Mr. Robot, de quatro temporadas, com primor e era de se esperar que isso fosse expandido para os filmes em que está envolvido também. Aqui, ele não critica apenas o capitalismo, mas a essa cultura de consumo que os streamings estão proporcionando.

Não é nada de novo que pessoas fiquem grudadas na televisão para terem um senso de escapismo, mas vemos em Rose como isso pode ficar. A garotinha gosta tanto de maratonar séries que não vê outra coisa interessante de se fazer com a própria vida. Quando o sinal é cortado, ela passa a se preocupar com a possibilidade de nunca saber o que irá acontecer com o enredo de Friends e isso de alguma forma é mais apavorante do que não saber a que fim terá sua própria vida. Vemos isso na forma como ela se preocupa com eles como se fossem pessoas reais ao invés de meros personagens de uma história inventada por um roteiro e um escritor.

Também é um filme que cutuca as implicações problemáticas que estão recheadas na situação atual dos Estados Unidos, com conspirações sobre uma política de agenda e desconfiança em diferentes políticas de diferentes países que desmascara o preconceito e extremismo que o movimento da extrema-direita na cultura norte-americana tanto exala em suas desilusões.

Apesar de ser um ótimo suspense, O Mundo Depois de Nós quebra um pouco a expectativa de ver mais desse apocalipse mundial quando acaba o filme “bem na metade”. Mesmo levando em conta os comentários do diretor e de Roberts sobre a mensagem do filme, é quase impossível não ficar um pouco mais do que apenas decepcionado que o terceiro ato não se comprometa em dar um fim devido aos personagens. Porém, não podemos esperar que todos sejamos uma Rose da vida, não é mesmo?

Filme: O Mundo Depois de Nós

Direção: Sam Esmail

Elenco: Julia Roberts, Mahershala Ali, Ethan Hawke, Myha’la Herrold, Farrah Mackenzie, Charlie Evans e Kevin Bacon.

Nota: 9,00

O Mundo Depois de Nós está disponível na Netflix.

Deixe um comentário