Após meses de divulgação e de uma comparação com Barbie da qual não pode escapar, Oppenheimer, filme de drama biográfico sobre J. Robert Oppenheimer de Christopher Nolan chegou aos cinemas na semana passada e encantou há muitas pessoas pela genialidade.
Muitos julgam o longa como arrastado por suas 2h e 54 minutos, ou menos desinteressante com aquele que deve ser comparado pelo resto do ano, mas nós do Pixel Nerd já o conferimos e temos nossa opinião e olhar próprio sobre a obra inspirada na biografia do considerado “Pai da Bomba Atômica”.
Confira abaixo!
Oppenheimer abre em uma cena de tribunal, com o físico estando diante de um tribunal para atestar a sua lealdade aos Estados Unidos após os efeitos que a invenção da bomba bomba atômica causou na guerra e na humanidade. Em paralelo a isso, temos Lewis Strauss (Robert Downey Jr.), um funcionário governamental da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos (AEC) que é encurralado sobre o mesmo tribunal anos mais tarde.
Para quem for assistir ao filme, pode acabar sendo enganado pela atmosfera dramática, a paleta preta e branco. Não é uma produção densamente histórica como foi vendida, mas um drama que tece uma linha cada vez mais de suspense, cada vez mais imersiva quando finalmente denota suas cores. Antes de chegarmos a este ponto, no entanto, haverá um vai-e-vem que tentará unir essas duas linhas do tempo durante os primeiros quinze minutos do filme.
Somos introduzidos ao acadêmico de Oppenheimer antes de tudo. Alvo da insônia, Robert frustra professores com sua inadimplência e completo desinteresse pela matemática, o que o coloca mais perto do gênio Albert Einstein, que é colocado como um personagem nesta trama. O bom do filme é que ele não se apoia nessa época do físico, se afastando desses clichês que transformam gênios mal-compreendidos em martírios da sua época. Dito isso, o longa é rápido em ir até o que interessa: Robert tem ideias, ideias que podem o levar a algo grandioso e explosivo, e sempre soube disso.
Nolan apresenta efeitos sonoros e visuais que explodem nossos ouvidos e hipnotizam os nossos olhos, seja em uma mera coleção de moléculas que revelam átomos, seja nas estrelas; alvo de fascínio de Oppenheimer. Após ser mais introduzido no mundo acadêmico, Robert e uma equipe de cientistas caminham para um projeto que chama atenção de forças poderosas dos Estados Unidos, como as Forças Armadas. É uma época completamente envolta em política, e o roteiro é altamente preparado para tratar das problemáticas dessa década em particular, falando sem vergonha de nazistas, comunistas, espiões e espionados. O próprio Oppenheimer passa a ser alvo de vigias quando se torna descuidado em seus encontros com Jean Tatlock, vivida pela fabulosa Florence Pugh.
Apesar de sempre voltar para o tribunal como foco, o filme faz uma linha do tempo rápida para o caminho predestinado de uma personagem já conhecida. Existe uma sequência de cenas que faz tudo passar muito rápido e que pode incomodar quem gosta de um desenvolvimento, mas é tudo feito para preservar a história que realmente importa aqui. No entanto, uma direção mais cuidadosa de Nolan, que possui experiência com filmes de longa duração, poderia fácilmente ter encontrado uma forma de contornar essa covardia do roteiro.
Porém, o que não é feito, acaba sendo compensado quando o filme começa a “andar” de forma agradável e satisfatória. Começamos a colocar os pés no chão quando o oficial Leslie Groves, vivido por Matt Damon, responsável por das as credenciais necessárias para Oppenheimer, entra em cena. A dinâmica entre o ator e Cillian Murphy, aliadas a um roteiro rico em diálogo é super agradável, sobrando espaço para um humor sútil e uma dinâmica deslumbrante. O militar é autoritário, mas Robert entende de jogo de cintura, e essas duas forças se encontram com um enlaço histórico. Damon soube representar bem uma personagem preocupada com o destino do físico (pelo menos até a hora em que ele fosse importante para ele) e ficamos torcendo o tempo todo para que a confiança entre ambos não se quebre.
Outro elogio do elenco vai para Robert Downey Jr. Quando o ator disse que esse foi o melhor filme em que já participou na sua carreira, não estava brincando. É bom enxergar uma imagem da sua atuação que o desvencilha do Homem de Ferro para uma personagem com nuances definitivas que só passam a ter as camadas tiradas quando chegamos aos finalmentes do filme.
Outra grande surpresa vai para as participações especiais do filme. Oppenheimer é um longa bem escalado, não só pelos artistas principais, mas pelos atores de rostos conhecidos e familiares que aparecem de ponta em ponta entre vários momentos; Josh Peck de Drake & Josh; Jack Quaid de The Boys; Rami Malek de Mr. Robot; Dane DeHaan de Versos de um Crime; Bryce Johnson de Pretty Little Liars e muitos outros rostos familiares além do elenco principal.
É incrível como o filme já tão bem escalado consegue dar espaço a todos esses atores, mas é um pouco infeliz que a produção do filme não tenha encontrado o mesmo para trazer um elenco equilibrado e feminino. Ainda sobra espaço para um arco vilanesco, já que um dos pontos centrais após a primeira meia hora é tentar achar aquele que quer prejudicar Oppenheimer, o espião infiltrado que poderia colocar tudo a perder, e não menos importante: assim o quer.
Oppenheimer é um filme altamente político, totalmente próprio, mas que também fala sobre culpa e humanidade. A atuação de Cillian Murphy é o que torna tudo ainda mais bem-desenvolvido e apreciativo, quando deixamos a imagem do “frio e calculista” Thomas Shelby para o físico Robert. As nuances perfeitas do personagem mudam de uma forma leve, sem soar caricata, com simples gestos desde abrir a boca ou arregalar um pouco os olhos perturbados de uma mente criativa e perigosa que foi responsável pela criação de uma das armas mais mortais feitas pela humanidade.
É um filme que desde o seu começo fala sobre ser humano, sobre ter culpa e um rastro de humanidade durante o embate entre genialidade e falta de moralismo. Sobretudo, é um drama espetacular com fortes chances de concorrer a um Oscar.
Filme: Oppenheimer
Direção: Christopher Nolan
Elenco: Cillian Muryphy, Florence Pugh, Robert Downey Jr., Emily Blunt, Jack Quaid, Rami Malek, Matt Damon, Devon Bostick, Josh Peck, David Dastmalchian, Josh Hartnett, Matthias Schweighofer, Gary Oldman, Dane Deehan, Ben Safdie, Kenneth Branagh, Alden Ehrenreich, Tony Goldwin.
Nota: 10,00
Oppenheimer está em cartaz nos cinemas.