Crítica: “Silêncio” nova série da Netflix é um falso thriller de suspense

Matheus Martins

Silêncio é a nova série espanhola de mistério da Netflix, estrelada por dois astros da produção Elite, Arón Piper e Manu Rios. A produção foca em Sérgio (Piper), um jovem acusado de atirar seus pais da janela do apartamento de onde eles viviam. Após seis anos preso, tem algo de sombrio e perturbador no rapaz: ele não diz uma palavra em anos.

Como forma de entender a natureza bizarra do seu silêncio (e do que pode ter levado à morte dos seus pais), uma força tarefa é montada, sob comando da policial Ana (Almudena Amor) que prentende abordar um estudo que o compreenda melhor.

A série é bastante semelhante com outra da Netflix que já tentou entregar um mistério com potencial para entregar revelação chocantes: O Inocente, mas caiu facilmente em um ciclo vicioso de plots mal resolvidos, diálogos e decisões criativas que nos levam para qualquer lugar, menos para o núcleo da produção. Com Silêncio, a história é a mesma.

Não dá para negar que tudo começa bastante interessante. Começamos a série com uma mulher andando pela rua quando um cadáver cai misteriosamente de um prédio. Em seguida, outro cadáver cai do céu e logo, antes que você perceba, entender o que está acontecendo é a única coisa que irá fazer sua mente descansar. Depois que sai da prisão, Sérgio diz suas primeiras palavras para o líder de uma igreja que o ressocializa colocando ele dentro de um emprego.

E então, tudo rapidamente começa a perder a graça quando Sérgio entra em contato com Greta (Aria Bedmar), uma garota que escreveu para o rapaz todos esses anos em que ele esteve preso, e que por acaso é a namorada do personagem de Rios, Eneko. A série bem que tenta fazer da personagem uma “tiete” de Sérgio, como aquelas da época de serial killers famosos, mas Greta é muito jovem e reclusa, além de ter um namorado a qual constantemente diz ser fiel.

Seu plot funcionaria bem melhor se ela aparecesse apenas uma vez, depois fosse deixada de lado para que a série abordasse esse tal mistério que tanto fala que está vendendo. Mas não, Greta continua ganhando protagonismo por vários capítulos, ganhando falas e atitudes que soam chatas, clichês e comportamentos mecânicos ao ponto de enjoar quem já sabe como a história termina. A partir do momento em que a personagem entra na tela, a série perde seu encanto e morre com ela todas as promessas que foram feitas ou vendidas ao seu respeito.

A série também tenta colocar Ana, que deveria ser o foco da investigação, em uma espécie de triângulo amoroso e obsessão, algo que incomoda por diversos motivos. Um deles é o fato de que Sérgio trata todos em quem não confia (o que é literalmente todo mundo) muito mal, e ele nunca viu Ana na vida. Mas quando a personagem decide aparecer em seu apartamento, Sérgio a trata imediatamente bem e de maneira forçada vai para a cama com ela.

Silêncio tenta nos dizer que Sérgio é volátil, perigoso e que não deveria conviver em sociedade. Porém, não explica em momento algum quando foi que em seu tempo na prisão a polícia achou que seria uma boa ideia que ele saísse por “bom comportamento”. Ao invés disso, a série foca mais nos ataques de raiva do rapaz, nas possíveis vítimas em potenciais que ele não mata, no perigo irrealista de alguém estar sozinho na mesma sala que ele e em seu desejo de reencontrar sua irmã mais nova, que estava lá na noite do ocorrido.

Quando uma série é divulgada como mistério, ela deve vender a sua ideia de forma que os espectadores se sintam desafiados o tempo todo a resolverem seu plot. Ele matou ou não matou alguém? Seus pais realmente eram bonzinhos? Você acha que sabe alguma coisa? Ao invés de trabalhar todas essas questões brincando com a expectativa do público, a série se arrasta por vilões e mocinhos temporários, desde Eneko que não gosta do rumo que a namorada está tomando, mas não tem a coragem de fazer nada, até o líder da igreja que se revela como um sádico sedento por poder um pouco tarde da hora.

A atuação de Piper é como ver uma tábua tentando atuar. O ator não fez grandes avanços do que lançou a fama de seu personagem Ander para o público, e não parece que fará qualquer progesso a partir daqui. Vê-lo tentar atuar entre a raiva para… de novo, a raiva, é uma tortura. Não tem nada que o torne atraente, nada que inspire uma simpatia para que as protagonistas, ou qualquer pessoa que veja motivo em acreditar na sua inocência.

No fim das contas, a série termina de uma maneira covarde, se atropelando em plots mal resolvidos e personagens nunca explorados que caminha em direção a cena final que é pura decepção e preguiça de um roteiro que poderia ser muito mais envolvente. Outro fracasso para a Netflix nessa.

Série: Silêncio

Direção: Gabe Ibáñez

Elenco: Arón Piper, Almudena Amor, Cristina Kovani, Manu Rios, Ramiro Blas, Aria Bedmar

Nota: 4,0

Silêncio está disponível no catálogo da Netflix.

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