Crítica: “The Flash” chega tarde demais para a festa

Matheus Martins

Depois de inúmeras polêmicas envolvendo Ezra Miller, The Flash finalmente estreou nos cinemas. O filme solo do herói da liga da justiça traz Barry Allen em uma aventura multiversal. O longa é um dos últimos antes da fase de reestruturação do DCEU nas mãos de James Gunn e Peter Safran, que deve iniciar com o aguardado Superman Legacy.

Enquanto a fase Deuses e Monstros não chega, resta a todo DCnauta assistir aos últimos filmes da fase anterior que focam nas histórias únicas desses heróis tão conhecidos. Em The Flash, após Barry descobrir que possui a capacidade de correr tão rápido a ponto de viajar no tempo (uma característica já introduzida na série de televisão, e que levou a várias incursões e crossovers entre outras séries), ele decide viajar para o passado e salvar sua mãe.

De cara, o filme começa com Flash, Batman e a Mulher-Maravilha em uma missão para salvar a cidade e vemos onde o grupo esteve nos últimos anos. Apesar de ser uma escolha clássica que busca demonstrar que essas personagens são pessoas podersas, capazes de voar, correr, usar um laço capaz de fazer com que as pessoas contem a verdade, é um começo misto que pode confundir e até incomodar um pouco quem não está no humor para os filmes de comédia pastelão que ecoam de forma sinuosa com aqueles da concorrente da DC, a Marvel.

No entanto, apesar de ser uma cena inicial com esse viés, seu começo não tem nada de clássico. Flash é um personagem alegre, carregado de humor e um carisma que Miller consegue transpassar pela tela através da sua atuação, muito embora o roteiro não esteja disposto a segui-lo sempre. Em uma determinada cena, enquanto o herói salva bebês, tem uma urgência onde você pensa que Flash está indeciso sobre quais bebês salvar de um hospital decadente, porém é uma maneira do roteiro pregar peças em quem assiste, algo que é admirável e contrasta com a personalidade de Barry.

Depois que colegas de trabalho e um interesse amoroso são apresentados, somos levados a um lado pessoal do personagem: Barry está tentando inocentar o pai de um crime e tendo problemas quanto a isso, complicação que o faz refletir sobre a sua vida e o que poderia ter dado certo se sua mãe não tivesse morrido. Não demora até que a “solução” para esses problemas seja apresentada e vejamos Flash tomar a escolha arriscada e perigosa de mexer com o tempo.

O filme não ganha muito nossa atenção até que o Batman de Michael Keaton apareça na tela, essa é a grande verdade. Embora seja essencial entendermos que agora existem duas versões do Flash; uma mais jovem e inconsequente, e outra preocupada em concertar sua linha do tempo bagunçada, a dinâmica copia a de outros filmes com outras problemáticas e faz um malabarismo que vai entre o humor e o caos. O humor não é o problema em si e não satura em nenhum momento, apenas não tem nada a acrescentar de maneira que filmes como Guardiões da Galáxia Vol. 3 saberia explorar de maneira melhor.

O Batman de Keaton rouba a cena e traz aquele clima de frescor que o filme está tentando trazer. Parece que o ator chegou para a audição do papel ontem e não em 1992, quando o longa realmente estreou nos cinemas. Após ter um encontro com o conhecedissímo personagem sábio da trindade da Liga da Justiça, somos apresentados ao vilão do filme, o General Zod, que está procurando pelo Clark Kent da realidade do jovem Barry. É então que somos apresentados a Supergirl ao invés.

Apesar de apreciar a atuação da personagem e sua apresentação, não há nada de inovador em trazê-la. Desde o começo do anúncio do filme desde trailers a imagens, já sabíamos que ela faria sua entrada e não há nada a acrescentar. O longa tenta trazer um arco de gentileza entre ela e Barry, mas tudo acontece de maneira tão rápida e numa ação desenfreada que focamos apenas em tudo que fará a trama correr mais rápido, como a decisão de enfrentar Zod.

The Flash não é um filme sobre o vilão do Superman e não tenta ser. É um filme onde o grande inimigo de Barry são suas ações, suas consequências e como elas podem afetar tanto a linha do tempo – algo que deve ser lidado com bastante cuidado – quanto ao Barry em si, e aqui falo de suas duas versões. Existe um vilão? Existe, mas ele é apresentado de forma abrupta na primeira vez e não é desenvolvido tanto na segunda, visto que o momento de revelação do longa toma conta da narrativa de forma completa, não dando espaço para que se crie uma caricatura vilanesca marcante. Se me perguntarem amanhã quem é o vilão de Flash, não vou acreditar no que sai dos meus próprios lábios.

Apesar disso, o filme tem uma característica que o coloca a frente de Doutor Estranho: Multiverso da Loucura. Ao invés de esbarrar em diversos universos de forma intencional, The Flash tem uma plataforma própria que brinca com o tempo, com cenas passadas de uma forma lindamente visual. É sabido que os efeitos não são lá essas coisas, mas num contexto geral essa ideia funciona e fica acima da importância de um espetáculo visual.

Não dá para negar que com a péssima recepção que DC tem enfrentado desde Adão Negro e Shazam: Fúria dos Deuses, um filme como The Flash que funciona tanto em roteiro quanto em atuação chegou muito atrasado para a festa. O longa já deveria estar pronto há mais de um ano atrás e poderia ter seguido a aclamação de The Batman que foi bem receptivo tanto para a crítica quanto para a aclamação do público. Mas, como todos sabemos, nem sempre o estúdio e suas composições corporativas estão dispostos a ajudar o cenário artístico e quando essas duas esferas não se encontram, é mais possível que estejamos diante de um projeto prejudicado do que qualquer outra coisa.

O longa não é o único a chegar atrasado. As aparições especiais, easter-eggs e possíveis cenas pós-crédito também não nos impressionam. Não é a hora de vermos atores que foram rejeitados para o papel de Superman fazer um cameo aqui, a Marvel já fez isso antes. É hora de inovação e artisticidade e cinema. Porém, é bom admitir que o final é uma bola curva que pode pegar qualquer um de surpresa.

Se você estiver procurando um filme que seja divertido e contagiante, The Flash atende a esses requisitos sem titubear.

Filme: The Flash

Direção: Andy Muschietti

Elenco: Ezra Miller, Michael Keaton, Ben Affleck, Sasha Calle, Kiersey Clemons, Michael Shannon

Nota: 8,0

The Flash está em cartaz nos cinemas.

Deixe um comentário