Crítica: “The Witcher” traz metade de uma história leve e demorada

Matheus Martins

Depois de uma segunda temporada lançada apenas em 2021, o hiatos deixado por The Witcher certamente foi atendido nesses meses de ausência de uma das séries originais mais primorosas da Netflix.

Uma adaptação tanto dos livros e jogos de uma franquia já amada por fãs, a série se consolidou devido a sua fidelidade, mas ganhou ainda mais respeito aos torcedores de narizes de live-action quando esses descobriram que o ator Henry Cavill – um entusiasta do universo da história – estava envolvido na produção de The Witcher.

A estreia desse novo ano chega com sentimentos mistos; afinal de contas, além de ser uma temporada curta com apenas cinco episódios (os restantes chegando apenas no mês que vem), é a última temporada de Henry Cavill como Geralt, o que pode implicar em várias mudanças que podem tanto incomodar quanto impressionar quem acompanhar os próximos anos de The Witcher.

Retomamos a história da série exatamente de onde a segunda nos deixou: a relação de Yennefer, Geralt e Ciri está balanceada após a traição da maga-elfa que foi possuída pela ideia de ter seus poderes de volta. Em dívida com seu “amigo”, ela decide ajudar Ciri em seu treinamento para controlar seus poderes.

A série faz um começo bem divertido ali, escolhendo não só não deixar o conflito entre os dois adultos responsáveis de lado, mas trabalhar ele de uma forma divertida com Yennefer deixando pequenas notas na porta de Geralt. De início, é muito astuto usar esse recurso para brincar com os sentimentos dos três. Afinal de contas, temos um Geralt irritado, uma Yennefer que sente remorso, e uma Ciri que está perdida e tensa ao saber que toda a guerra que devasta diversas espécies pelo mundo envolve ela mesma.

Geralt, em particular, também está tenso e qualquer movimentação suspeita faz com que ele queira levantar barraca e garantir a proteção de sua criança prometida a todo custo. Aqui, seria bom usar um recurso diferente onde Geralt é o verdadeiro responsável pelas mudanças, o orquestrador das “ameaças” que a garota sente, fazendo assim um paralelo com a traição de Yennefer e demonstrando que essas personagens que conhecemos há tanto tempo são tão capazes de trair quanto a maga. Porém, isso não acontece e somos atravessados a com a decisão do roteiro de separar esse trio tão impetuoso e conectado como o desses três.

Não é uma temporada fraca por ter menos episódios. Na realidade, ela respeita o formato de antes com alguns episódios servindo como percursores da narrativa e outros como episódios fillers, onde podemos entender como essas personagens estão se sentindo em meio a ameaças que estão à sua volta. Sem se apressar em contar uma história apressada, reencontramos amigos bem diferentes que nos deixaram não muito tempo. Fringila (Mimi Ndiweni) está bebendo além da conta para checar se o vinho do reino está envenenado, Tissaia (MyAnna Buring) está apaixonada e Cahir (Eamon Farren) continua um frouxo tentando se provar a uma força àquem do seu conhecimento.

Também não é um ano onde as novidades são mínimas, já que descobrimos mais à respeito da sexualidade do parceiro de Geralt, Jaskier, que é algo já especulado pelos fãs da série há algum tempo, e que ganha ainda mais desenvolvimento no momento em que conhecemos seu primeiro interesse amoroso. Pela temporada vir cortada, o desfecho desse arco é um pouco abrupto, mas nada que já não estamos acostumado. Afinal de conta, essa é a The Witcher, com histórias que saltam em suas narrativas desde que começou.

Uma reclamação, no entanto, vai para as cenas de ação. Apesar de ainda serem de tirar o fôlego, as sequências não empolgam como aquela demonstrada no terceiro episódio da primeira temporada, onde o feiticeiro enfrenta Striga. São combates menos elaborados, feitos apenas para serem atravessados para que a história ande, algo que não faz muito jus a história. Isto vale também para a adição de Robbie Amell que aparece como um elfo irritado. Escolha interessante, mas burra com a conclusão que o personagem tem para o arco de um personagem tão mal usado desde o segundo ano da série.

Apesar dos defeitos, como não vimos a temporada planejada como um todo, talvez efeitos especiais mais admiráveis estejam nos esperando na reta final da temporada em si. Por enquanto, é difícil ter certeza.

A trama do pai de Ciri ser o responsável pela caça da filha anda devagar. O personagem não faz muito a série inteira, assim como tantas outras que já apareceram e tiveram o desenvolvimento maior, mas que são diluídos para que as tensões mágicas entre diferentes raças ganhe mais destaque. É uma temporada sobre guerra, confiança, armadilhas, confissões, flashbacks e flashes de visões como as de Ciri que não demoram a acontecer, também não são lá muito inventivos. Ciri, aliás, parece ser uma das poucas coisas que funciona na narrativa. Por ser parte elfa, ela entende criaturas, o que foi mostrado já na segunda temporada, e que é amplificado aqui em decisões inconsequentes tomadas pela personagem. Não é algo que faz grandes invenções também, mas pelo menos funciona.

Como é a metade de uma temporada, ainda não dá para ter uma palavra final sobre tudo, apenas sobre o que foi mostrado. E o que foi mostrado nos deixa a impressão de que a série sabe mostrar o que precisa quando necessário, sem se atrapalhar ou trair a si mesma, o que demonstra tanto competência das partes envolvidas, quanto da plataforma em si.

É tão triste quanto curioso (para a parcela de fãs que acompanhou esses episódios) imaginar como a série fará toda uma volta para tirar o Geralt de Cavill de circulação, e mal podemos esperar para ver como isso será aplicado na tela.

Série: The Witcher

Direção: Tomasz Bagiński, Alik Sakharov

Elenco: Henry Cavill, Anya Chalotra, Joey Batey, Freya Allan, MyAnna Buring, Mimi Ndiweni, Eamon Farren

Nota: 8,00

As três temporadas de The Witcher estão disponíveis na Netflix.

Deixe um comentário