Crítica: “Velozes e Furiosos 10” é o novo Guerra Infinita

Matheus Martins

Quando foi alertado que o filme Velozes e Furiosos 10 lançando na sexta-feira passada (19), teria algumas frases que soariam como tiradas de um livro de auto-ajuda, nosso primeiro pensamento foi que o décimo filme da franquia carregada por Brian O’Connor e Dominic Toretto seria mais um desses melodramáticos com alguns clichês. A surpresa foi grande ao ver que não só a maioria dessas frases nem seram feitos pelo personagem de Vin Diesel, que a essa altura é o rosto de Velozes, como também não incorporou nada do que foi esperado dele – tanto no sentido bom, quanto no ruim.

No novo filme da Universal Studios, começamos com a cena final de Velozes e Furiosos: Operação Rio (2011). Mais precisamente, em um confronto que se deu entre Dom, Hernan, Luke Hobbs em uma cena de perseguição na Ponte Rio-Niterói. Nesse ponto de vista, o filme apresenta uma nova visão para essa cena tão icônica. Ou melhor, um novo personagem: Dante Reyes, vivido por ninguém menos que Jason Momoa.

A partir daí, o filme apresenta a história de origem de mais um vilão que procura vingança contra Dom e a famigerada família. Mas Reyes não é como qualquer outro. Ele passou anos planejando se vingar. Enlouqueceu. Parte do seu trauma está atrelado aos minutos que passou sem vida, e desde que voltou, é Dominic que ele vem estudando nos últimos anos. Isso não é pouca coisa, e o filme deixa isso bem explicíto na hora de implementar essa narrativa dentro da história, seja pela apresentação do personagem em si, as falas, ações e planos. Está andando na terra de Velozes e Furiosos o primeiro vilão crível que uma franquia como essa poderia ter.

Enquanto tudo isso era planejado aos fundos de uma história que parece que conhecemos, Dom, Letty (Michelle Rodriguez) e Little Brian (Leo Abelo Perry) junto dos antigos membros do grupo: Tej (Ludacris), Roman Pearce (Tyrese Gibson), a mais recente adição, Megan (Nathalie Emmanuel) e, o retornado dos mortos, Han (Sung Kung), estão tentando remontar os cacos do estrago feito pelos últimos vilões. E, ao que tudo indica, tudo vai bem. Até que Cipher, interpretada pela impecável Charlize Theron, surge no meio da noite. Ela tem um aviso a fazer: existe um novo inimigo na área.

E se para Cipher isso é razão para ter medo, Dom deve ter o mesmo sentido dobrado porque seus amigos não estão em uma missão em Roma, mas sim em uma emboscada criada por Reyes, que finalmente se apresenta para Dom da pior maneira possível: explodindo a cidade e quase colocando seus amigos em perigo.

A partir daí, o filme já conseguiu apresentar vários elementos interessantes e uma história que intriga e atiça o telespectador. O que vai acontecer? O que esse novo vilão quer? E mesmo que já saibamos disso tudo, é muito natural e divertido ver as engrenagens rodando diante dos nossos olhos. Reyes não quer matar Dom, quer vê-lo sofrer, e de quebra, nos coloca no papel do protagonista, sentindo medo por seus amigos e família. E, até certo ponto, até por ele mesmo. O humor, um traço bastante natural da saga, está em toda parte, quando não nas interações entre Roman com qualquer pessoa num raio de 1km, como em Reyes, que é sádico de uma maneira caricata.

É óbvio que o exagero não passa despercebido. Para um filme com temáticas tão “pé no chão”, chega uma hora que fica impossível não revirar os olhos. Em uma sequência, já mais para o final, por exemplo, um carro consegue fugir de uma explosão (ou era enchente?) ligando o nitro e fazendo uma manobra praticamente impossível que cospe na cara das leis da física. O alívio é que nada desse exagero é apontado pelos personagens de forma dúbia, o que ajuda a manter o foco da narrativa.

E falando em narrativa, apesar de ser consistente em alguns pontos, não dá para deixar de falar também do quanto tudo parece bagunçado. Em uma hora, estamos rindo com Roman Pierce, em outra no carro com Jakob e o Little Brian dando várias patadas no irmão de Dom, para então voltar para Dom e ao que realmente interessa. Fica parecendo que o filme quer nos colocar dentro de um carro, dirigir por horas, só para, no fim das contas, nos deixar desorientados.

É por essa razão também que, quando o filme tenta nos apresentar seu trunfo, estamos cansados demais para nos importar com o que está acontecendo. Personagem dado como morto retornando dos mortos? Não importa. Han e Shaw se vendo pela primeira vez desde o incidente em Tóquio? Ninguém liga. Cena pós-crédito confirmando nossas suspeitas? Meh.

Velozes e Furiosos 10 foi planejado como esse grande projeto ambicioso, mas obviamente não soube ter cuidados com o roteiro a ponto de explorar as emoções e reações de suas personagens que seriam viscerais para prestarmos mais atenção e nos importarmos também. Mas não, estamos sempre na estrada (perdão pelo trocadilho) correndo de um vilão ou indo de forma inconsequente na direção dele quando sabemos que ele é um lunático capaz de tudo.

Numa visão geral, faz sentido porque a direção de Louis Leterrier seguiu por esse caminho. Isso aqui não é um filme, é uma lista de afazeres que, para ser concluída, precisa se igualar a outra grande produção do cinema que também transporta alguns desses elementos: os Vingadores, da Marvel. Isso mesmo. A sensação de risco, a ação, o frenesi e as micro-missões que parecem que vão dar em algum lugar são coisas que já vimos em Vingadores: Guerra Infinita (2018), e custo a dizer que é tudo um plano de Vin Diesel para transformar a franquia em algo maior do que ela é, a começar por Velozes e Furiosos 11.

A aventura, assim como um dos filmes mais icônicos da Marvel, irá retornar com todos os assuntos inacabados, personagens dados como mortos e resoluções óbvias demais que nos fazem questionar como podemos saber tanto sobre uma franquia que deveria ser apenas sobre carros. Agora se isso é uma ameaça ou não, apenas o tempo irá dizer.

Filme: Velozes e Furiosos 10

Direção: Louis Leterrier

Elenco: Vin Diesel, Jason Momoa, Michelle Rodriguez, Alan Ritchson, Rita Moreno, Brie Larson

Nota: 6,0

Velozes e Furiosos 10 está em cartaz nos cinemas brasileiros.

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