Por que Naruto usa o discurso para resolver conflitos?

Matheus Martins

A história do ninja Uzumaki Naruto é bastante conhecida dentro do mundo do anime, tanto para os personagens do mundo Shinobi quanto para quem assiste há anos a obra de Masashi Kishimoto. O personagem é filho do Quarto Hokage, Yamato, e possui dentro dele o espiríto da Kyuubi, a Raposa de Nove Caudas que é responsável por destruir a Vila da Folha no começo do anime.

No entanto, Naruto possui mais um superpoder que pode deixar alguns fãs do anime bem bravo: o de discursar. É sempre a mesma história – algum vilão que tacou o maior terror em uma temporada inteira, com um potencial gigante para executar centenas de vida, enfrenta o jovem Uzumaki, perde para ele (porque querendo ou não, ele não sabe apenas discursar) e aí é obrigado a ouvir o herói contar sobre a sua vida até que ele desista do seu plano de vingança contra uma nação tão corrupta. Todo mundo conhece a história.

E por que o dom de dar palestra de Naruto seria um problema para algumas pessoas? Bom, algumas pessoas argumentam que, apesar de Naruto emocionar, o recurso atrapalha o desenvolvimento de outros elementos como a luta. Pessoas querem ver shinobis usando todo o seu potencial em guerras sanguinárias, e mesmo que isso de fato aconteça algumas vezes, quando Naruto é excluído dessa narrativa porque assinou um contrato de fazer uma TED Talk a cada novo arco construído, isso decepciona boa parte do público. Além disso, outros fãs já perceberam que esse recurso se repete com o tempo: Zabuza, Gaara, Pain/Nagato. Parece que nada é mais forte do que um bom e belo tête-à-tête entre indivíduos que são craques no Ninjutsu.

Muitos fãs ficam indignados como Naruto consegue “enrolar” seus inimigos por meio da filosofia, fazer com que eles sejam razoáveis o bastante para parar um combate e contarem a triste história de infância que tornou eles assassinos frios e sanguinários capazes de matar qualquer um.

Essa ingenuidade presente em Naruto, um ninja que sabe que o mundo Shinobi é repleto de violência, faz qualquer um pensar que o roteiro puxa a história para um lado mais brando de forma conveniente, para sobrepor os valores de Naruto em cima de qualquer vilão, por mais que esse tenha levado mais de uma década para descobrir todas as coisas que poderia ter aprendido sozinho. No caso de Zabuza, ele e Haku tinham uma parceria de anos, mas justamente quando o Demônio do Gás Oculto é derrotado, resolve acatar as palavras de um Genin que nunca viu na vida.

Você fala demais. Suas palavras me calam fundo. Mais fundo que qualquer lâmina.

Zabuza Momoshi

Talvez a coisa mais fácil a aceitar é que o discurso é uma forma de Kishimoto de tornar a obra mais profunda do que outros animes Shounen como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco que pulam de cara para o confronto, salvo alguns grunhidos e texto expositivo sobre como seus inimigos são tão fortes. Muitas pessoas, quando assistem Naruto, se emocionam com a capacidade que o desenho é capaz de dialogar com assuntos sobre a vida, e muitos aprenderam através de Uzumaki a não desistir dos seus sonhos e aceitar as pessoas exatamente como elas são.

Então, dos males, o menor. Naruto é sim um palestrinha chato que usa sua experiência de vida para dar esporro em outro, mas ele também usa o discurso como uma forma de expressar sua vontade de fogo, que é o espírito de proteger seus amigos e sua aldeia. Dessa forma também, ele honra seus mestres e antecessores, que lhe ensinaram os valores do que é ser ninja dentro do anime e acredita que o discurso é o jutsu mais forte do seu arsenal.

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