Por trás da Carreta Furacão | História e trajetório do grupo

Redator Pixel

Post atualizado: A Carreta Furacão chegou para marcar uma década, com bonecos de diferentes culturas colocando o quadril pra requebrar ao som das mais diversas músicas com batuque brasileiro.

Aqui em Florianópolis, ficamos sabendo que o grupo se apresentaria em uma festa open bar de faculdade.

Nós, na época estudantes de jornalismo, conseguimos uma entrevista com os astros da dança brasileira e registramos momentos incríveis.

Entrevista com o grupo Carreta Furacão

Assim começaram vários diálogos na semana em que foi anunciado que a Carreta Furacão faria um show em Florianópolis.

Amado por muitos, desconhecido por outros, o grupo que mistura dança, parkour e um visual surrealista fez a primeira apresentação de sua turnê na Ilha da Magia.

O Fofão que dançava nas ruas e escalava os muros de Ribeirão Preto, a cidade dos trenzinhos, agora sobe nos palcos ao redor do Brasil.

Fenômeno da internet, a Carreta Furacão ganhou bastante notoriedade com memes exaltando a estranheza e singularidade do grupo, que traz ao público um show de dança com personagens que fizeram a infância de muitos jovens dos anos 90.

Sendo mais uma das carretas e trenzinhos do interior de São Paulo, o grupo se destacou dos demais com um vídeo postado no Youtube em 2010, onde versões cabeçudas e assustadoras de Fofão, Popeye, Mickey, Capitão América e um Palhaço rebolam ao som do “Mestiço”, pagode do cantor Leandro Lehart.

O vídeo é de 2010, mas só agora teve repercussão nacional atingindo mais de 4 milhões de visualizações, algo que tornou o grupo um dos maiores memes no Brasil.

Além disso, outros vídeos e paródias surgiram com o tempo, fazendo os personagens se transformarem em fãs da banda de rock Linkin Park até protagonistas de animes, desenhos animados de origem japonesa.

Lucrando com o meme

A Carreta Furacão é parte da Dominium, empresa especializada em trenzinhos comandada pelo casal Wellington Cardoni e Fabiana Cardoni.

O grupo também é administrado pelo porta-voz, produtor e coreógrafo Jack Dancer, que fica responsável por organizar os seis dançarinos, que não tem seus rostos e nomes revelados.

Aproveitando o bom momento na internet, a equipe por trás do grupo resolveu lucrar com a fama, deixando de ser mais um trenzinho infantil para se tornar um sucesso nacional.

Devido as várias campanhas nas redes sociais para uma turnê nacional, os organizadores do grupo resolveram apostar na ideia e rodar os palcos do Brasil com o grupo de Ribeirão Preto.

Os primeiros locais a receberem a Carreta Furacão foram Florianópolis, na festa universitária InterNação, e Balneário Camboriú, em uma apresentação na boate 1007.

Depois dos shows em Santa Catarina, o grupo foi até São Paulo, onde fez uma apresentação polêmica patrocinada pelo Movimento Brasil Livre durante um protesto pró-impeachment.

Apenas nestas apresentações, a Carreta ganhou cerca de R$ 16 mil, um bom valor para quem trabalhava em festas infantis e aniversários.

Carreta Furacão em uma das imagens mais ícônicas de quando o grupo surgiu

Segundo o coreógrafo Jack Dancer, os dançarinos são bastante profissionais, pontuais e seguem as regras para fazer um bom trabalho, apesar da face descontraída e engraçada do grupo.

Quando entrevistamos os organizadores do grupo, um fato bastante curioso, e também horripilante, foi notado: nenhum dos dançarinos por trás das máscaras foi autorizado a falar com a nossa equipe.

Para manter um clima “Daft Punk”, o grupo não pode aparecer em frente as câmeras para não revelarem suas “identidades secretas”.

“Apesar da face engraçada, somos um grupo bastante profissional”

A jogada está ligada ao lado financeiro da Carreta Furacão.

Segundo os organizadores, o fato dos dançarinos não mostrarem o rosto não liga a imagem deles aos personagens, o que permite fazer substituições na equipe facilmente, uma vez que existe uma ampla gama de jovens interessados em ingressar no grupo, de acordo com os administradores.

Com isso, possivelmente nunca veremos quem são os heróis por trás dos heróis da Carreta Furacão e nem uma separação do grupo por intrigas internas, como vemos em diversas boybands.

A polêmica do Impeachment

Carreta Furacão em ato a favor do impeachment de Dilma Roussef

O grupo ainda tem muitos shows para fazer ao redor do Brasil, mas, com certeza, o mais polêmico foi o que aconteceu no domingo, 17 de abril, na Avenida Paulista, durante uma manifestação a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Uma semana antes da votação da câmara dos deputados para a aprovação do impedimento, o Movimento Brasil Livre começou uma campanha de financiamento coletivo para levar os dançarinos ao ato na Avenida Paulista.

Ao arrecadar os 11 mil reais necessários para levar o grupo do sul de Santa Catarina até São Paulo, o MBL confirmou que Fofão e sua trupe estariam rebolando contra comandante do Brasil no dia 17.

Com isso, o grupo de dança que brilha na internet enfrentou sua primeira batalha por causa de direitos autorais.

Orival Pessini, 71 anos, o criador do Fofão, proibiu que a Carreta Furacão levasse o personagem para a manifestação.

“Eu não autorizo o uso da minha imagem em nenhum tipo de evento político.”

Criador do Fofão não apoiava uso da imagem do personagem pela Carreta Furacão
Orival Pessini, criador do Fofão, morreu em 2016 – ele tinha câncer no baço

Em entrevista a Folha de S. Paulo, Pessini disse que ninguém pediu autorização para usar a imagem do personagem do Balão Mágico.

Além disso, também declarou que não gosta da forma como o Fofão é representado e que não está ganhando nada com o uso da imagem do personagem.

Apesar da briga, a Carreta Furacão se apresentou na Avenida Paulista, mas o aclamado Fofão não compareceu, atendendo ao pedido de Orival Pessini.

Segundo o coreógrafo Jack Dancer, o show no movimento pró-impeachment foi “mais um negócio” e não está ligado a posição política dos integrantes.

“Eles nos pagaram e nós vamos, Assim como em qualquer outra apresentação”, afirmou o coreógrafo em entrevista.

Por enquanto, o criador do Fofão foi o único a se posicionar contra o grupo em relação a direitos de uso.

Em um cenário hipotético onde grandes estúdios de cinema se importam com o uso de personagens em trenzinhos de dança, a Carreta enfrentaria sérios problemas.

A Disney é detentora dos direitos do Capitão América e do Mickey, dois dos heróis da Carreta Furacão.

A companhia é bastante rígida com os direitos de imagem na internet, principalmente no Youtube, mas possivelmente não vai interferir na turnê do grupo de Ribeirão Preto.

Enquanto isso não acontece, a Carreta Furacão segue fazendo shows, festas infantis e aniversários.

Sempre ao lema do pagode do Mestiço: seguindo em frente e olhando para o lado (afinal, uma bike pode aparecer a qualquer momento).

Além da Carreta Furacão

Apesar da fama e singularidade da Carreta Furacão, o grupo que não revela seus rostos para as câmeras não é o único a dançar e subir nos muros de Ribeirão Preto.

Em algumas cidades do interior de São Paulo, os trenzinhos são uma tradição e, além de alegrarem as crianças, servem como inspiração para muitos jovens.

Para explicar a história por trás das carretas e mostrar quem são os heróis que soam para tirar sorrisos do rosto das crianças, quatro estudantes de Audiovisual, do Centro Universitário Senac, de São Paulo, resolveram criar um Trabalho de Conclusão de Curso mostrando o interior dessa subcultura brasileira.

O que começou como TCC acabou se tornando o documentário “Rebolão, mas sua irmã gosta”, trazendo imagens e relatos de participantes dos trenzinhos.

O filme ainda não tem data de lançamento marcada, mas já ganhou um trailer, que pode ser visto acima.

Os idealizadores do projeto estão trabalhando em toda a produção do documentário: o roteiro e edição são do formando Gabriel Mendes Dias; a direção de produção e de arte por Gabriela Dias; produção executiva e assistência de direção por Mayra Dias; direção de som, roteiro e edição de Miguel Haddad.

Se você ficou interessado neste movimento que é muito mais do que simples bonecos assustadores dançando pagode, você pode acompanhar a página do documentário no Facebook, que traz constantes atualizações sobre a produção.

O site de jornalismo Risca Faca também explorou o mundo das carretas de Ribeirão Preto nesta reportagem, respondendo muitas das dúvidas que assolam a cabeça dos curiosos.

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