Crítica: “Heartstopper”, segunda temporada traz leveza e temas sensíveis

Matheus Martins

A série Heartstopper retornou para sua segunda temporada com novos episódios. A produção original da Netflix, baseada nas HQs de Alice Oseman, foi um sucesso aclamado pela crítica e pelo público quando estrelou no ano passado.

Em seu retorno, a história de Nick e Charlie, dois amigos apaixonados, toma novos rumos em uma ano mais difícil: o casal, ainda não assumido, enfrenta as problemáticas não poderem se assumir para amigos e colegas.

Nós do Pixel Nerd já conferimos o novo ano da série e temos nosso olhar crítico sobre ela. Veja a seguir:

Após uma temporada apaixonada, Nick e Charlie retornam à realidade escolar: um lugar onde não apenas não podem se assumir, como também irão passar por fases turbulentas ao tentar esconder o namoro entre amigos, colegas e familiares. O foco dessa temporada é em Nick (Kit Connor), que, após se reconhecer como bissexual, sofre a pressão de sair do armário. Tarefa nada fácil, já que o jovem realmente não está preparado e Charlie (Joe Locke), seu namorado, não quer o apressar.

Embora o foco de Heartstopper seja Nick e Charlie, o romance está no ar em outros personagens da série: Elle e Tao, Tara e Darcy, Isaac e James, com acréscimos que destacam e montam a tapeçaria de dramas e temas que compõem a história de Oseman.

A série continua tão bem produzida quanto à sua primeira temporada. O velho clima escolar unido ao contexto em que essas personagens são colocadas traz vivacidade quando entram e contracenam em tela. A diferença é que, embora a cicatriz dos problemas esteja na forma como cada um se relaciona, no campo acadêmico, o grupo está se afetando e enfrentando problemas, consequentemente sendo colocados de castigo e tendo que confrontar suas figuras maternas e paternas.

Até o quarto ou quinto episódio da série, o drama entre Nick e Charlie é o que centraliza boa parte do clima desta temporada. É uma época de dificuldades, onde se afasta a beleza para olhar melhor os cacos que uma vida imperfeita proporciona para quem bate de frente com temas tão difíceis. Não só para a dupla, mas para Tara que confessa o amor por Darcy, para Tao que não sabe como se aproximar de Elle e que está buscando se entender melhor. Até o calado e culto Isaac recebe um olhar mais aprofundado, e temos um vislumbre de saber como ele sente ou pensa – além, é claro, da identidade sexual aroace do rapaz, que foi alvo de elogios pelo público.

Heartstopper sempre foi uma série sobre sexualidade. Embora criticada por retratar de forma fantasiosa a realidade de jovens LGBTQIAP+, quando Nick precisa a todo tempo atestar a sua bissexualidade (e não homossexualidade, necessariamente) para estranhos que descobrem seu romance com Charlie, ela não poderia ser mais real. É algo lindo de se observar, bem melhor que a nada sutileza presente na outra série do streaming Elite que faz o mesmo apenas para o choque visual.

Os detalhes que misturam elementos dos quadrinhos em determinados momentos da série continuam tão encantadores do que nunca, com reações e sentimentos flutuando pela tela de forma inteligente e sucinta. Um ponto em destaque, na minha opinião, é quando uma onda de arco-íris tenta se aproximar de Ben (Sebastian Croft) – um personagem bastante conflituoso, não só para a série em si, mas com seus próprios sentimentos – e ele se afasta antes que ela possa tocá-lo.

A nova temporada da série tem todo esse clima de feriado, embora os personagens não estejam necessariamente suspensos de suas aulas ou de seus problemas. Boa parte dessa culpa pode vir da viagem à Páris, que foi um grande foco na divulgação da série, mas o tema não ocupa espaço de uma forma brega ou forçada, tudo flui de forma muito natural. Aliás, é na cidade parisiense que grande parte dos momentos importantes para personagens rola, então esse é um senhor agrado.

Uma das coisas que mais ganham espaço nesse novo ano são os problemas enfrentados por Charlie, já mencionados pelo público que leu fielmente às HQ’s. É um tema sério, tratado de forma delicada e bastante real, ao invés de mero mecanismo para definir o namorado de Nick. Charlie continua sendo agradável com amigos, afável com familiares e confortando Nick, mesmo se tratando de uma pessoa que está enfrentando problemas tão graves quanto os demonstrados. Quando chega a hora de desempacotar esses problemas, a série escolhe desenvolver isso revelando novas camadas do personagem interpretado por Locke.

Hearstopper faz juz à sua fama e elogios, e promete ser uma das produções que, quando chegarem ao fim na plataforma da Netflix, é uma das quais mais sentiremos saudades.

Série: Heartstopper

Direção: Euros Lyn, Alice Oseman

Elenco: Joe Locke, Kit Connor, Yasmin Finney, William Gao, Sebastian Croft, Corinna Brown, Kizzy Edgel, Tobie Donovan, Olivia Colman, Rhea Norwood.

Nota: 10,00

A segunda temporada de Heartstopper está disponível na Netflix.

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