Crítica: “Homem-Aranha Através do Aranhaverso” é o melhor filme do personagem

Matheus Martins

Enquanto um lado da Marvel é composto por fases, crossovers, séries e produções ambiciosas que dão inícios a sagas icônicas (ou não), um outro lado da produtora de filmes é composto por uma parcela do cinema que é interessante, hipnótica e única. Um misto de autencidade que não custa os olhos quando precisa ser revisitado, e nem é tão complicado.

Eu não preciso assistir a todos os 45 filmes da Marvel para entender Homem-Aranha Através do Aranhaverso. Tanto o primeiro filme quanto o segundo desenrolam histórias que permitem que qualquer pessoa que sintonize qualquer um dos volumes imediatamente sinta que já conhece absolutamente tudo que precisa sobre Miles Morales, o segundo e mais famoso Homem-Aranha das histórias em quadrinhos.

Nós do Pixel Nerd assistimos ao filme e podemos garantir que é só uma questão de tempo para que a fama que o personagem alcança nos quadrinhos rapidamente pode evoluir para as telonas também, já que a animação demonstra o mesmo tipo de talento, praticidade e potencial que Guardiões da Galáxia Vol. 3 (último filme de James Gunn que também saiu esse ano). Em ambos os filmes, vemos os trabalhos de seus diretores e equipe de produção artística conseguir uma identidade própria diante dos nossos olhos.

Um dos primeiros pontos positivos sobre Através do Aranhaverso é o jeito como ele escolhe começar a sua história. Ao invés de termos uma entrada acompanhando Miles e o que ele aprontou nesse um ano e meio, começamos com Gwen em seu próprio universo, tendo sua dificuldade em se aproximar de pessoas e encontrar “sua banda”. O filme começa esse ponto de uma forma tão solta que demora um tempo até que se perceba que é na verdade uma janela do passado da personagem e não uma continuação direta da sua história.

Gwen é muito interessante, e tão engraçada quanto qualquer outra versão do Aranha que já foi feito para o cinema. Mas o que pesa aqui é a sua história: ela perdeu o seu “Peter Parker” e seu pai está encarregado em prendê-la porque acredita que a Mulher-Aranha/Gwen é a verdadeira responsável por sua morte. Para fugir dos intensos problemas que essa relação com seu pai é colocada, Gwen então embarca com o Homem-Aranha 99 e uma versão grávida da Mulher-Aranha para o Aranhaverso… lugar que vai leva-lá diretamente a Miles no futuro.

Embora não comece dessa forma, somos finalmente apresentados ao que Miles esteve fazendo: o personagem está tendo problemas na escola, alguns dlees causados pelo fato de estar escondendo dos seus pais que é o Homem-Aranha na cidade. Familiar? Ele e Gwen estão enfrentando o mesmo problema. E, de certa forma, logo esses dois paralelos acabarão se cruzando em um momento crucial do filme.

Apesar de não conseguir pegar todas as referências, o filme é ótimo em colocar a problemática e torna-lá o centro da questão. Miles chega ao ponto A, para depois descobrir que existe um ponto B, e precisa chegar ao ponto C para salvar vidas de pessoas inocentes. Essa correria o faz um pouco próximo ao Peter Parker de Tom Holland, que carrega todo esse altruísmo ao enfrentar o Doutor o Estranho e tentar salvar seus vilões. Aqui, o “Strange” de Miles é Homem-Aranha 2099 que possui uma visão muito determinista do destino; para ele, as coisas devem acontecer como devem acontecer para que não se abale o equilíbrio do Aranhaverso. Para Miles, no entanto, tudo pode ser resolvido com uma boa jogada de esperença; e o personagem fará o que for preciso para fazer isso, mesmo que envolva enfrentar todas as versões possíveis do Aranha.

Para pintar toda essa carga emocional que o filme precisa para que essa aventura se torne crível em tudo que quer passar, ele conta com sua direção artística. Por essa razão, uma pintura escorre no fundo quando Gwen revela sua identidade para o pai, o mundo se torna psicodélico quando Miles está enfrentando os Aranhaverso e completamente noir quando vemos que a batalha entre os personagens atinge o ponto de ebulição.

Muitos acham que foi covardia o filme segurar vários pontos cruciais e importantes de Através do Aranhaverso, usando argumentos que a história de Miles não teve a mesma conclusão que Gwen. Mas, deve-se lembrar que esses mesmos comentários teriam rechaçado a produção se Miles tivesse uma espécie de “final feliz” antes de tomar o rumo que tomou em seus minutos finais.

De todos os filmes do Aranha, que se preocupam em apresentar a história do cara mascarado, sua história, seu desenvolvimento e suas problemáticas, Homem-Aranha Através do Aranhaverso é um dos melhores da composição completa do herói. E deve melhorar ainda com a parte dois que vem por aí.

Filme: Homem-Aranha Através do Aranhaverso

Direção: Joaquim dos Santos, Kemp Powers, Justin K. Thompson

Elenco: Shameik Moore, Hailee Steinfield, Oscar Isaac, Daniel Kaluuya, Jake Johnson, Brian Tyree Henry, Issa Rae

Nota: 10,00

Homem-Aranha Através do Aranhaverso está em cartaz nos cinemas.

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