Crítica: “One Piece” acerta a mão na fidelidade da obra de Oda

Matheus Martins

A gente sabe que as palavras “live-action” e “anime” são um campo perigoso, ainda mais quando tem a Netflix envolvida. Então quando surgiram os rumores de que a Netflix estava trabalhando em um live-action do incrível mangá e anime de Eiichiro Oda, os fãs certamente ficaram com receio.

O medo que o fiasco da versão americanizada de Death Note se repetisse deixou muitos receosos com o que a Netflix poderia oferecer em uma segunda tentativa.

A série já está aqui, com oito episódios exclusivos e nós do Pixel Nerd já temos nossa opinião a respeito. Confira:

A premissa de One Piece é conhecida: o jovem Monkey D. Luffy sempre sonhou em ser o Rei dos Piratas; característica que compartilha com tantos personagens de shounens espalhados aos montes por aí. Em busca de uma tripulação, o personagem tropeça em uma série de possíveis parceiros enquanto realiza missões e inspira o desejo de muitos.

É impressionante o quanto já nos primeiros minutos é possível perceber o quanto a Netflix acertou a mão nessa adaptação. Os visuais estão incríveis, o elenco bem organizado e o enredo, bem como o roteiro em si, estão todos em sincronia para o que é preciso formar uma história emocionante e empolgante.

O jovem ator Iñaki Godoy consegue entregar um carisma enorme para o famoso personagem do anime, sendo um arquétipo animado e deslumbrado com do grande e ambicioso sonho. Como muitos tiveram a oportunidade de pontuar em suas reviews, o ator parece ter bebido direto da fonte do anime para se inspirar no papel.

E por falar em beber na fonte, a atriz Emily Rudd, que interpreta Nami, é uma fã da obra de Oda. Ela já havia brilhado anteriormente no segundo capítulo da trilogia Rua do Medo, e retorna aqui com um visual diferenciado para dar emoção à complexa história de Nami, que possui um conflito interno e um segredo que pode colocar a tripulação do Chapéu de Palha em perigo.

Tanto o texto, quanto a execução de cenas, entra em uma concordância em determinada parte da leva de episódios que é impossível não se apaixonar por essa nova imaginação de One Piece. O roteiro faz o excelente trabalho de amarrar as histórias de cada membro da tripulação com seu passado de uma forma que entre em contraste com a problemática de cada episódio.

É uma tática que já vimos séries como Grey’s Anatomy fazer, mas tudo parece mais livre, apesar de ordenado, e emocionante de uma forma superior conforme cada personagem ganha uma nova coloração.

Os fãs vão ficar aliviados em entender que a série teve o cuidado em detalhar cada pedaço do extenso mundo de One Piece, sem tentar atualizar o contexto dessas mitologias para a modernidade de uma maneira forçada. Em um episódio em particular, quando vemos o tubarão se aliar a marinha para ter controle da vila de Nami, o texto faz uma leve alusão a pautas militantes, o que é surpreendente de ver, já que vilões (especialmente os caricatos como Arlong), ganham ainda mais dimensão e conceito.

Foi um toque bem sútil do roteiro que demonstra que é sim possível tocar em pautas sensíveis num tipo de obra que geralmente tem um público tão retrógrado.

Provavelmente haverão comentários sobre o “Poder do Protagonismo” de Luffy ao derrotar vilões que se mostram tão poderosos, mas o roteiro, de novo, faz o trabalho de demonstrar que por ter comido uma das frutas que tornam humanos especiais, Luffy não é esse mero protagonista batido que precisa de um problema para se fazer valer seu esforço. A série simplesmente entendeu que sete capítulos para terminar um arco de batalha seriam impossíveis de adaptar no formato da Netflix, e agiu rapidamente para contornar a importância desse elemento, desse DNA que One Piece carrega consigo.

Ademais, em muitas das suas soluções, como a luta contra o palhaço Buggy (Jeff Ward), envolvem esperteza, um toque de positividade e a ajuda do bando de piratas – outra característica que é fiel a obra de Oda.

Assistindo One Piece deu para ver que a Netflix colocou o olho em cima de produções como The Last of Us e fez escola, finalmente entendendo que não é só a identidade visual que faz um live-action ser primoroso.

É surpreendente ter que dizer isso em pleno 2023, mas One Piece da Netflix acerta a mão da fidelidade e nos deixa com um gostinho de quero mais. Estamos sedentos não só por uma segunda temporada, mas para ver também o que a produção do streaming tem reservado para outros live-actions de animes que estão atualmente em desenvolvimento.

Série: One Piece

Direção: Marc Jobst

Elenco: Iñaki Godoy, Emily Rudd, J J Jr. Mackenyu, Jacob Gibson, Taz Skylar, Peter Gadiot, Morgan Davies, Jeff Ward, Steven John Ward, Vincent Regan, McKinley Belcher III.

Nota: 10,00

A primeira temporada de One Piece está disponível na Netflix.

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