Crítica: “Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo” tenta nostalgia bagunçada

Matheus Martins

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Tentar adaptar um anime para o cinema ou televisão não tem sido exatamente uma das estratégias mais inteligentes. Desde Dragon Ball Evolution (2009), Hollywood tem desapontado nessa missão, transformando animações icônicas que são guardadas por carinhos há anos por fãs, em verdadeiros fracassos de bilheteria.

A mais recente tentativa é Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo, filme produzido pela Toei Animation, mesma empresa que produziu o anime original. A direção é de Tomasz Baginski, um cineasta polonês que já foi indicado ao Oscar por seu curta-metragem “The Cathedral”. O roteiro é de Kiel Murray e Josh Campbell, que trabalharam em filmes como Carros e 10 Cloverfield Lane, respectivamente.

Já conferimos o filme nas telonas e temos a nossa própria opinião à respeito dele. Confira abaixo a crítica do Pixel Nerd:

Para quem é fã de Cavaleiros do Zodíaco, não existe nenhum segredo à respeito do enredo da história: cinco cavaleiros de Atena precisam travar lutas contra inimigos e deuses poderosos que querem a cabeça da sua deusa. E a produção envolvida no filme também sabe disso, razão pela qual entramos no filme com uma cena icônica envolvendo dois cavaleiros de ouro (uma das classes mais altas no universo, aliás) sobrevoando o céu enquanto um tenta proteger Saori (ou Sienna) e outro tenta destruí-la. A cena é perfeita e deixa qualquer um que sabe o contexto que leva a aparição desses dois personagens bastante animados para o que está por vir.

É então que o filme dá uma guinada e nos leva diretamente para o futuro, para a história de Seiya (Mackenyu) – o cavaleiro mais famoso do anime e que também é bastante conhecido por ser o protagonista. Seiya perdeu sua irmã e se culpa até hoje por não ter sido forte o suficiente para mantê-la ao seu lado. A história é conhecida, apesar de ter algumas ressalvas: aqui no filme, é uma organização que leva Seika, e não uma parte da divisão feita por Mitsumasa Kido que separa diversos jovens orfãos com a missão de que eles retornem para o Japão com suas respectivas armaduras de bronze.

Essa não é a única diferença do live-action. No início, Seiya não faz ideia do que é um cosmos, que deuses existem, que outros jovens como ele tiveram quase o mesmo destino trágico parecido com o dele – e até mesmo esse destino é diferente visto que Seiya não foi para a Grécia. O jovem aparece em um ringue, sob a supervisão de Cassius que desgosta bastante da sua personalidade e companhia. Ao menos nisso a produção foi fiel.

Com tantas diferenças impostas logo nas duas primeiras cenas iniciais, os fãs devem se perguntar: para onde vamos depois daqui? E é exatamente aí que começam os problemas com o filme. Matsumasa (ou melhor, Alman) encontra Seiya em um beco escondido e eles tem uma breve conversa antes de serem seguidos por um exército de robóticos de armadura preta (não, não são os Cavaleiros Negros do Anime, ou ao menos eu espero que não sejam). Os dois fogem, são levados por uma nave dirigida por Tatsumi e, bem assim, Seiya é apresentado ao universo do qual realmente pertence.

Fica claro logo após várias cenas seguintes, frases, conexões de personagens como Seiya e Sienna, Guraad e Ikki, que o filme está tentando criar uma certa nostalgia ao ponto que apresenta uma nova abordagem, o que acaba por bagunçar completamente a experiência. Em um minuto, estamos assistindo um filme sobre um jovem que perdeu sua irmã e que é apresentado a um mundo onde armaduras mágicas existem e deusas perdem o controle. Em outro, é uma comédia com frases de impacto e sequências em slow motion que foram colocadas ao monte por algum motivo – quem achou que o efeito iria funcionar, está enganado, visto que esse foi o ponto que mais incomodou críticos do filme.

O roteiro do filme é bastante raso e para quem presta atenção em tudo que está acontecendo, há de se irritar com o fato de que Seiya vê uma cabeça flutuando no espaço e não tem o menor tipo de reação, quase como se visse a cena todo santo dia e não tivesse sido introduzido ao conceito doze minutos atrás. Os efeitos não são ruins, mas cansam e estragam boa parte do filme que escolhe justo esse ponto para se apoiar e se alastrar até o final.

Mas como nem tudo é feito de defeitos, a partir do momento que Marin aparece em cena, o filme começa a acertar em alguns aspectos. A interpretação da atriz (cujo nome não faço ideia de qual seja) mesmo atrás de uma máscara, é perfeita, assim como sua caracterização. Dá pra sentir a severidade pela qual a personagem é tão conhecida e arrisco em me dizer que se tivessem a introduzido antes, tudo teria dado certo no decorrer da história.

É uma pena que um projeto que tenha arrancado tantas esperanças dos fãs, nutrido tanto as expectativas, acabe apenas por se tornar mais um número dentro da estatística ruim pelas quais adaptações do gênero são tão conhecidas. Hollywood não sabe fazer uma adaptação de anime perfeita e está fadada a cometer os mesmos erros se não tentar melhorar.

Apesar de todos esses defeitos, se o projeto de franquia se tornar bem-sucedido nas bilheterias (o único ponto que importa agora), é esperado que a produção tenha mais carinho com uma saga tão importante para os fãs que adorariam ter ao menos uma chance de serem ouvidos.

Filme: Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo

Direção: Tomasz Bagiński

Elenco: Mackenyu, Madison Iseman, Diego Tinoco, Famke Janssen, Sean Bean, Mark Dacascos, Nick Stahl

Nota: 5,0

Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo está em cartaz nos cinemas brasileiros.

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