Crítica: “The Blackening” usa o esteriótipo ao seu favor

Matheus Martins

Filmes de terror do gênero slasher possuem uma abertura ainda maior para abordar diversos assuntos. Graças a a sua metalinguagem, eles podem referenciar as tropas de filmes clichês do gênero de maneira sutil usando o roteiro.

É isso que The Blackening, filme de Tim Story (Quarteto Fantástico, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado), aborda. Numa mistura de Sexta-feira 13 com Todo Mundo em Pânico, o longa estreou em cinemas norte-americanos em junho e alcançou uma nota positiva no site agregador de críticas Rotten Tomatoes.

No longa, um grupo de amigos decidem passar um final de semana em uma cabana e acabam caindo nas presas de um assassino. Sem ter para onde ir, a única opção é entrar no jogo sádico e sombrio chamado “The Blackening”.

O texto de The Blackening é bem composto, com piadas carregadas de sutileza e humor um tanto sombrio. As referências a outros filmes existem e são verbalizadas, dessa vez por uma lente do olhar da cultura preta que crítica a ingenuidade de pessoas brancas e chega a caçoar delas.

É importante entender que essa manobra não é apenas para ofender a raça, mas falar de raça dentro do contexto da história cinematográfica de pessoas pretas. Quem lembra de Pânico 2, os dois atores pretos, Jada Pinkett Smith e Omar Epps, morrem logo antes da cena de abertura, ironicamente após Maureen (personagem de Smith) mencionar a falta de presença de pessoas pretas em filmes do gênero.

A partir desse ponto, a crítica social se afasta um pouco para dar espaço para que as personagens da história se apresentem: Lisa (Antoinette Robertson), Allison (Grace Byers), King (Melvin Gregg), Dewayne (Dewayne Perkins), Shanika (X Mayo) e Nmandi (Sinqua Walls). A maior dinâmica do grupo, em termos de narrativa, fica entre Lisa, Dewayne e Nmandi. O melhor amigo gay de Lisa não aprova que ela esteja de volta com o ex, Nmandi, por acreditar que ela a tenha trazido diversas vezes e os dois estarem presos em um ciclo vicioso. Além do mais, quando eram jovens, o namorado da amiga fazia bullying com ele.

Para completar, a reunião de amigos é para comemorar e revisitar uma data do mês de junho no que eles ao menos se lembram terem sido a melhor festa da vida deles. Mas isso está prestes a mudar.

De uma maneira mordaz, The Blackening sabe a ponte de equilíbrio entre a hora para rir e a hora para contar história. Essa característica de abordar temas atuais e tão presentes na cultura sem deixar o roteiro piegas transformar o filme em muito mais do que um besteirol, se é que é. Imagine que você está assistindo Pânico e a acidez que os filmes da franquia geralmente integram está elevada ao cem aqui. Ele tem um circuito de piadas muito inteligentes, que embora apareçam o tempo todo, servem o propósito e deixam a trama cada vez mais engrandecida, as personagens conseguindo mais camadas.

O personagem de Melvin Gregg, King, muito bem composto é um saído do mundo do crime que escolheu seguir um caminho diferente do estereótipo da pessoa preta. Vale dizer, estereótipo reforçado pela cultura racista, que costuma visar pessoas pretas como criminosos enquanto do outro lado endeusa foras da lei caucasianos que ganham as massas por terem surtado e matado a vizinha, por exemplo.

A história chega ao ápice da sua crítica com o jogo que leva o título homônimo do filme e um vilão macabro e escrachado que pontua diversas perguntas sobre a história negra na filmografia. The Blackening é como essa reunião dos defeitos de uma Hollywood predominante branca, que embora esteja ajustando seus moldes, ainda continua tendo seus pilares mais firmes do que nunca.

Por um segundo, fiquei com medo que a revelação de quem fosse o assassino não tivesse um elemento surpresa, que é o tempero de filmes coma. mesma pegada, mas no fim das contas, o fim e acaba de forma simples e congruente, dentro das mãos de Tim Story.

The Blackening é um bom filme e será uma viagem engraçada para aqueles que pegarem suas sacadas. É um longe que se junta a seara de filmes do gênero que, entra ano, sai ano, estão sempre se reinventando.

Filme: The Blackening

Direção: Tim Story

Elenco: Antoinette Robertson, Grace Byers, Melvin Gregg, Dewayne Perkins, X Mayo, Sinqua Walls.

Nota: 9,00

The Blackening ainda não tem previsão de estreia no Brasil.

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