Essa série da Netflix acabou na terceira temporada e os fãs continuam assistindo

Matheus Martins

Imagine que uma série já tenha acabado há anos, mas os fãs estejam perdidos até hoje achando que ela continua viva?

Já vimos todo o tipo de caso onde, para se preservar um conteúdo legal que gostem, os fãs investiram em fanfics e imploraram para estúdios darem migalhas de suas produções já concluídas; as séries derivadas estão aí para provarem essa modalidade específica da televisão.

Porém, uma série em particular da Netflix continua respirando até hoje por meio de aparelhos, mas sua essência, que era pouca, mas que dava todo o sentido para que ela continuasse se perdeu em inúmeras tentativas dos criadores de produzirem ainda mais histórias apenas para lucrar em cima do nome pela qual a produção se popularizou.

Estamos falando de Elite, é claro. E a tempo desse artigo estar sendo escrito, não podíamos estar falando de outra série da vermelhinha que tenha rastejado tanto. O motivo? Ninguém sabe, mas a série espanhola já tem sua oitava e última temporada confirmada pelo streaming.

E embora se tenha motivos para comemorar com essa notícia, lembrar da trajetória que a série teve desde a sua chegada em 2018 vai explicar porque é tão difícil acreditar que ela conseguiu chegar tão longe.

Elite começa quandoba escola de Nadia, Samuel e Christian é demolida e, como uma forma de compensar os afetados pelo descaso, o trio é enviado para o Las Encinas – a escola de luxo onde, assim como indica o nome, apenas a elite tem a oportunidade de estudar e se formar com primor numa instituição que oferece as melhores oportunidades.

A chegada dos três muda a dinâmica da escola, principalmente para Marina, por quem Samuel acaba se apaixonando, mas quem também acaba morta numa trama que é jogada em nossas caras logo no final do primeiro episódio.

Apesar de parecer bem clichê, a série focou bem nessa distinção entre as duas classes e o que cada uma representava para a outra quando esses dois poros se chocavam. Em palavras resumidas, mesmo antes do mistério “Quem matou Marina?”, a série tinha segurado suas intenções ao qual havia estabelecido e seguido elas até o final da primeira temporada.

É claro que a produção não era perfeita; as cenas de sexo explicíto entre personagens chave davam o tom da intenção ds Netflix em fisgar telespectadores com seus próprios motivos. Apesar disso, a famigerada nudez e seminudes estava dentro dos parâmetros e não estava fazendo nada que já não tivesse feito antes.

Durante a exibição da segunda temporada, os fãs já estavam ligados no fato de que a série estava apelando para o único elemento excessivo que continuava a ganhar notoriedade entre os episódios. Você piscava, e uma cena de sexo acontecia. Você piscava, e um personagem da série tirava a roupa, se envolvia com alguém que não merecia, cometia algum erro ou saía andando depois de dizer um monte de asneiras e palavrões que eram jogados por mera intenção de chocar o público.

Os fãs também entenderam que a série estava querendo reciclar o formato whodunit em todos os seus anos, agora com mais variações do famigerado “Quem matou…?”, sendo um deles o “O que aconteceu com Samuel…?”, “O que aconteceu com fulano…?”, “Por que Ivan se….?”, dentre muitos outros.

Apesar da falta de criatividade, Elite tinha se encarregado muito bem de segurar uma história consistente e com uma linha temporal decente, até que deu seu último ar da graça (pelo menos para alguns) no terceiro ano em que voltamos para o Las Encinas.

Na terceira temporada, tivemos um vislumbre de tudo de bom que a série havia apresentado em seu primeiro ano: uma guerra de classes, um mistério interessante, cenas de sexo decentes e uma proposta com começo, meio e fim.

No primeiro episódio, descobrimos que Polo, o assassino de Marina, seria morto como uma forma de vingar a jovem que começou toda a confusão em primeiro lugar. Quem o matou? Dentre várias pessoas com motivos para odiá-lo, não é fácil atribuir a culpa apenas à uma pessoa, e foi exatamente o que a série usou para pintar sua terceira temporada.

Surpreendentemente, essa foi a melhor temporada de Elite. O caso entorno de Polo teve suas tensões aumentadas em vários graus, se focou muito em temas como a culpa, a vida, o pouco tempo que nos resta e a melhor forma de lidar com a dor da perda. Até mesmo algumas atuações estavam bem feitas, muito além do que o roteiro provavelmente exigia.

Os erros de antes continuavam, mas dessa vez bem-vindos em nome do que parecia ser o capítulo final da série. A cena de cada um dos “elites” tocando a arma do crime para despistar a polícia que havia feito um mal trabalhado desde o começo, e provavelmente era a maior culpada de tudo, vai morar para sempre na mente de muitos fãs. E poderia ter acabado aí, não podia?

Então vieram as temporadas quatro, cinco e seis. Os curtas entre personagens logo após o fim quarto ano. Os fãs podiam não estar preparados para dizer adeus, mas a equipe da série já estava adiantada. Contando exatamente a mesma história, Elite voltou à ativa com um novo mistério, novos personagens e mais dos inacreditáveis plots na vida de adolescentes que não conseguiam ter vidas normais.

Só que dessa vez, virou bagunça. A série intensificou as cenas de sexo explicítas, disse tchau para o dilema e consistência e deixou tudo nas mãos da mera polêmica do boca-a-boca. Ninguém suportava mais Elite, mas todos queriam entender o contexto de determinada cena que viralizou nas redes sociais.

Foi tudo que a produção da série precisou para continuar reciclando um produto da Netflix que dura há bastante tempo, mas que vendeu o que mais precisava para fazer sentido: a sua essência.

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