O Som da Liberdade: entenda a polêmica do filme voltado para cristãos

Matheus Martins

O filme Som da Liberdade é polêmico por vários motivos. Um deles é a sua suposta ligação com uma teoria da conspiração chamada QAnon, que afirma que existe uma rede mundial de satanistas, pedófilos e canibais que sequestram e exploram crianças. Essa teoria é apoiada por grupos de extrema-direita nos Estados Unidos, que veem o filme como uma forma de denunciar esse suposto mal.

O ator principal do filme, Jim Caviezel, é um simpatizante do QAnon e já participou de eventos e podcasts relacionados a esse movimento.

Outro motivo de polêmica é que o filme não seria baseado em uma história real, como afirma. O filme conta a história de Tim Ballard, um ex-agente federal que fundou uma organização chamada Operation Underground Railroad, que se dedica a resgatar crianças vítimas de tráfico sexual. No entanto, há evidências de que Ballard inflou os fatos e exagerou os resultados de suas operações, além de ter sido acusado de má conduta sexual por ex-colegas de trabalho. 

Alguns críticos também questionam a ética e a legalidade das ações de Ballard, que envolvem invadir países estrangeiros sem autorização e colocar crianças em risco.

Por esses motivos, o filme Som da Liberdade tem gerado muita controvérsia e debate entre o público e a crítica. Alguns o veem como um filme inspirador e corajoso, que expõe uma realidade cruel e escondida. Outros o veem como um filme enganoso e perigoso, que propaga uma teoria da conspiração infundada e prejudica o trabalho sério de combate ao tráfico humano.

Acusação de Tim Ballard

Outro fato que coloca o filme cristão em evidência é que o criador do filme, Tim Ballard, está sendo acusado de má conduta sexual por ao menos 7 mulheres.

O grupo de mulheres anônimas que trabalharam na Operation Underground Railroad (OUR), a organização fundada por ele para combater o tráfico humano, e alegam que Ballard as submeteu a assédio sexual, manipulação, aliciamento e má conduta sexual enquanto trabalhavam na organização. Elas afirmam que Ballard as fazia fingir ser sua esposa em viagens ao exterior, dormir na mesma cama e tomar banho com ele, além de enviar fotos dele em sua roupa íntima.

As afirmações foram feitas através da revista VICE que reuniu o número possível de relatos. Após ser questionado, Ballard nega todas as acusações e diz que se trata de uma tentativa de difamação e extorsão. 

Para todos os efeitos, a OUR anunciou que Tim se afastou do cargo no dia 22 de junho deste ano, ao lado de uma nota que afirma que a organização “e dedica a combater o abuso sexual e não tolera assédio sexual ou discriminação por parte de qualquer pessoa em sua organização”.

A acusação contra Ballard está sendo investigada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que ainda não se pronunciou sobre o caso.

O filme Som da Liberdade continua em cartaz nos cinemas brasileiros.

Desempenho e sucesso do filme

O filme Som da Liberdade tem sido um verdadeiro fenômeno nos cinemas brasileiros. Com um enredo que denuncia o tráfico e a escravidão sexual infantil nas Américas, ele manteve-se em primeiro lugar no Brasil durante sua segunda semana em cartaz. Desde a estreia, em 21 de setembro, o filme acumulou 17 milhões de reais em renda e atraiu 521.000 espectadores.

O sucesso no Brasil foi impulsionado por meio de ações de políticos da direita, como a pré-estreia em Brasília com a presença de nomes como Flávio Bolsonaro, Damares Alves e Mário Frias. Além disso, policiais militares do curso de formação de sargentos em Santa Catarina assistiram fardados à estreia do filme.

Som da Liberdade também teve um bom desempenho nos Estados Unidos, onde arrecadou mais de US$ 14 milhões em sua estreia, superando até mesmo a quinta aventura de Indiana Jones. O filme independente foi lançado em julho nos EUA e se baseia em uma história real, contando a trajetória do agente de segurança nacional dos Estados Unidos, Tim Ballard, que largou tudo para combater uma rede de tráfico infantil nas Américas. 

O roteiro utiliza como pano de fundo uma teoria disseminada pelo movimento conspiratório QAnon, que denuncia (sem provas) a existência dessa rede de tráfico infantil supostamente promovida pela esquerda.

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