A franquia Pânico tem cerca de 27 anos de idade. São mais de duas décadas ligando para vítimas, causando terror por onde passa e empilhando uma montanha de corpos orquestradas por diversos assassinos de tempos em tempos.
Uma das figuras mais emblemáticas dessa jornada é o Ghostface. O “Cara de Fantasma” é sempre uma pessoa encapuzada que surge na surdina depois de assustar suas vítimas. Para ele, não basta matar, mas preparar o momento em que algum pobre coitado será cortado pela ponta da sua faca o diverte e alimente seu desejo assassino.
Outra figura importante dessa história é Sidney Prescott, vivida pela atriz Neve Campbell, que ficou conhecidíssima no papel. Apesar de não ser a primeira vítima do assassino, Sidney possui uma conexão forte por ter sido uma das sobreviventes do primeiro massacre de Woodsboro em 1996, o que deu início a todas as sequências de matança.
Para quem costuma passar pelos filmes de Pânico de relance, pode ficar em dúvida do porque Sidney é uma personagem tão importante para o assassino. Um leigo pode achar que ela é só mais uma das final girls (termo inventado para definir mulheres do gênero que enfrentam seus algozes), mas nada é tão simples assim. Sidney possui uma história, ela é a gênesis dessa história, e com certeza continuará sendo após tantos filmes que virão a seguir.
Por que o Ghostface sempre vai atrás de Sidney?
Atenção: o conteúdo abaixo possui spoilers da franquia de Pânico!
Para ter a resposta para essa pergunta, é preciso que se entenda uma coisa: não existe apenas um Ghostface. Ao todo, de acordo com a linha do tempo dos filmes (e não das séries, que expandem ainda mais o universo) são quase catorze assassinos no total, fora um off-screen do último filme que foi executado longe da câmera. Enfim, essa conversa é para outro dia e pode ser entendida melhor aqui.
A cada um dos filmes de Pânico, um novo indivíduo (ou indivídua) assume o manto do assassino e dá início a uma horda de assassinatos que podem acontecer tanto dentro, quanto fora de Woodsboro, cidade pacata onde Sidney Prescott nasceu.
Antes de sua vida se tornar um pesadelo, Sidney era a garota perfeita e educada que respeitava ao pai, Neil Prescott, e sofria pelo luto de sua mãe, Maureen Prescott, que havia morrido um ano antes dos eventos do primeiro filme.
Apesar de ser uma garota “pura”, ela tinha um namoro conturbado com Billy Loomis, um adolescente do seu ano da Escola de Woodsboro, e uma amizade com Tatum Riley, irmã mais nova do cadete Dewey Riley. Junto de Tatum e Billy, o círculo de amizade de Sidney era composto por Stuart Macher, namorado de Tatum, e Randy Meeks, um jovem obcecado por filmes de slasher e terror que também era do seu ano.
O namoro de Sidney e Billy estava mal balanceado, no ponto de vista do rapaz, já que ela estava um pouco menos à vontade em avançar o passo da relação para algo sexualmente, algo que frustra Billy e visivelmente o deixa irritado.
Não é para menos que Sidney estava tão retraída. A jovem sempre teve essa ideia de que sua mãe foi abusada e que o verdadeiro assassino dela foi Cotton Weary, um homem que ela afirmou para as forças policiais da cidade que deixou ela na porta de sua casa uma noite antes do seu assassinato.
Sidney, no entanto, como descobriria alguns anos mais tarde, estava redondamente enganada. Cotton não só não matou sua mãe, como foi incriminado pelo seu namorado, Billy, e Stuart, que estavam por trás de todo o esquema para acusarem Cotton e passarem por baixo da impressão para irem atrás de Sidney depois.
Na noite do aniversário da morte de Maureen, Billy e Stuart revelam a Sidney todo o plano esquematizado que tinham em mente. De quebra, Billy também revela que seu pai, Hank Loomis, e Maureen tinham um caso extraconjugal, o que levou ao abandono da mãe de Billy da cidade.
Afastado da mãe e com as mãos cheias de sangue pelo assassinato de Maureen, Billy se virou para os filmes slashers e sua doença compulsória pelos slashers para suprir o abandono da figura materna. Depois, ele foi atrás de Sidney e seus amigos e começou o banho de sangue em volta da vida de Sidney, que seria para sempre marcada pelo evento.
A Sra. Loomis
Um ano depois de deixar os acontecimentos de Woodsboro para trás, Sidney segue para estudar em Ohio, na Windsor College, onde procura se distanciar da imagem a qual foi associada na pacata cidade. Não é uma missão fácil, ainda mais depois que descobrimos que o Massacre de Woodsboro inspirou um filme inspirado na vida da mocinha.
Após ouvir nos jornais que durante uma sessão de “Facada” um casal foi morto, a polícia associa os nomes das vítimas às primeiras vítimas do Ghostface do ano passado, significando assim que há um novo assassino na ativa, e possivelmente com novas motivações.
Mesmo sob proteção da polícia, Sidney se vê em volta de mais uma teia de suspeitas e carnificina que parece não ter fim. Então, só mais algumas noites após a temporada de matança, dois novos assassinos se revelam para a nossa final girl; um sendo Mickey Altieri, seu colega no Windsor College que na verdade é um serial killer disfarçado e a própria Sra. Loomis, a mãe de Billy.
A mãe de Billy quer vingança por Sidney ter executado seu filho. Mesmo após tê-lo abandonado por conta do caso extraconjugal de seu marido, a Sra. Loomis entrou em uma espiral de vingança, perdeu um pouco de peso, fez plástica. Ela até mesmo adotou o nome de Debbie Salt para, assim como Mickey, passar despercebida.
Essa revelação nos faz entender que mais uma vez Sidney está pagando os crimes dos erros cometidos pela sua mãe. A próxima vez que um Ghostface irá atrás dela esconde um grande segredo sobre o passado de Sidney e de Maureen Prescott que define de uma vez porque o Cara de Fantasma sempre vai atrás dela.
Roman Bridger
Em Pânico 3, Sidney passa a se isolar em uma cabana onde ninguém sabe o paradeiro. Lá, ela ajuda vítimas de abuso e violência doméstica em uma espécie de linha de auto-ajuda. Embora esteja sã e salva, o assassino a obriga a aparecer novamente.
Hollywood continua a fazer filmes sobre a vida de Sidney, dessa vez trazendo Facada 3. Porém, quando um novo assassinato envolvendo Cotton Weary, uma das vítimas originais e parte do elenco do filme, e sua namorada acontece, o diretor dos filmes é obrigado a pausar as filmagens.
Logo, o cenário e os atores de Facada 3 se tornam alvo do jogo de mais um assassino empenhado em reviver o massacre de Woodsboro.
Quando tudo se torna cada vez pior de ignorar, Sidney se vê obrigada a confrontar o seu passado após enfrentar o fantasma de sua mãe e perceber que nada terá fim enquanto ela não por fim ao medo.
Então, mais uma vez, Sidney entra no jogo do assassino e o confronta durante o Terceiro Ato – a hora em que os assassinos apresentam seus monólogos e razões para terem ido atrás de Sidney depois de todo esse tempo.
Em Pânico 3, o assassino é Roman Bridger, o diretor de facada. Roman usou da sua influência e controle dentro do estúdio para matar o elenco e atrair Sidney para dentro do cenário onde há uma réplica da sua casa.
Mas Roman não é qualquer assassino. Ele é responsável por tudo que vem acontecendo a Sidney nos últimos três anos.
Veja só…
Antes da morte de Maureen, até mesmo antes do Massacre de Woodsboro, Maureen Prescott adotou o nome de Rina Reynolds, uma atriz em ascenção que dormiu com vários homens da indústria de Hollywood em busca da fama. No entanto, Rina apenas conseguiu fazer sucesso em filmes adultos, nunca podendo ter uma chance de chegar ao estrelato.
Anos mais tarde, Maureen se afastou do nome Rina e adotou o Prescott onde construiu a família perfeita com seu marido e filha em Woodsboro. Ela apenas não contava com a aparição de uma pessoa: Roman, na porta da sua casa, afirmando ser o seu filho biológico.
Rejeitando completamente o seu passado, Rina/Maureen bateu a porta na cara de Roman e deixou o jovem sem mãe nutrir um certo ódio por ela. Nutrido pelo desejo de vingança, Roman passou a seguir Maureen por anos, gravando seus affairs, especialmente aquele com o Sr. Loomis, o pai de Billy.
Antes da noite da morte de Maureen, Roman se aproximou de Billy e mostrou o conteúdo das filmagens para o jovem, que entrou numa espiral de raiva e ódio pelos Prescott.
Isso quer dizer que todas as mortes que vieram até aquele momento, e que viriam a acontecer depois, foram todas ocasionadas por Roman, o meio-irmão biológico de Sidney. Sem ele, não haveria Pânico, o Ghosface, o Massacre de Woodsboro e uma chacina de mais de duas décadas que assombram a vida da personagem vivida por Neve Campbell.
Embora Roman tenha conseguido tirar tudo de Sidney – seus pais, seus amigos, seus familiares, sua paz, sua vida – o tiro foi pela culatra. Os filmes de Facada a deixaram ainda mais famosa e a influência de Sidney na mídia repercutiu de forma grandiosa.
Porém, ninguém sabia quem era Roman. O bastardo de Maureen Prescott não era uma peça-chave para a grande estrela do filme que Sidney era. Com inveja da irmã, Roman decidiu atrair ela até o seu set de gravação e inverter os papéis antes que fosse tarde demais.
Nos filmes futuros da saga, a motivação para o assassino ir atrás de Sidney é um pouco menos pessoal, envolvendo fama e um amor doentio pela saga inspirada na vida dela. Ainda assim, o fantasma continua assombrando Sidney, que a vê como um ícone, uma lenda do sagrado e vil ascpeto slasher americano.
É impossível colocar Sidney como a protagonista em todos os filmes, e até mesmo a série Scream (2015-2016) conseguiu depender sem ela para criar uma mitologia em volta de um assassino querendo vingança.
Mas tirando este caso, enquanto a franquia existir e respirar, o fantasma sempre irá atrás de Sidney, aquela que é a grande fonte de tudo.