Crítica: “Sobrenatural: A Porta Vermelha” promete muito e não entrega nada

Matheus Martins

Ao lado de tantas franquias de terror, Sobrenatural não passa despercebido quando queremos citar produções que causam jumpscares e vender a ideia de medo através de uma saga de filmes. Com A Porta Vermelha, quinto filme da franquia, não poderia ser diferente, além de conveniente, visto que o ator Patrick Wilson já é conhecido em outra saga do mesmo ramo, Invocação do Mal.

Insidious 5 se passa cronologicamente após o segundo filme da franquia, que pula A Origem (2015) e A Última Chave (2018). O longa começa com Josh e Dalton Lambert – família assombrada pela zona sobrenatural chamada de “Além” – em uma sessão de hipnose que busca fazer com que eles esqueçam os acontecimentos do último ano. Ao que tudo indica, a tática realmente funciona, mas por alguma razão há uma tensão no funeral da mãe de Josh como um sinal mal agouro.

Dalton, que começou a história como uma criança, agora é um adolescente crescido que precisa ir para a faculdade. Em meio a caminho até lá, é mostrado ao público que a situação entre pai e filho não é das melhores. Além de não terem muita comunicação, Josh e Dalton discutem o tempo todo, o que leva a uma briga cheia de remorso e mágoa entre os dois que só encontrará resolução lá para o final do filme.

Para um filme de terror, A Porta Vermelha demora muito a mostrar para o que veio. São vários minutos de tela desperdiçados onde somos apresentados a novos personagens e plots pretensiosos que buscam nos aproximar do filme original. Uma missão que não só é falha, como não é investida. Parece faltar uma empolgação em tudo, na escrita, nas sequências, no terror em si também. Em comparação com o primeiro filme da saga, em menos de quinze minutos somos apresentados ao terror de uma forma que convence. Aqui, não só tudo demora e se arrasta, como também não convence.

Dá para sentir que é um outro filme, mas não de uma maneira interessante ou renovada. É um filme desconecto, solto do material original e jogado pelos ares para quem quer que tenha gastado dinheiro com um ingresso para assistir isso. O grande erro do filme é se conectar com elementos da atualidade sem realmente propor algo de inventivo. A interpretação de Sinclair Daniel como uma estudante-possível-interesse amoroso de Dalton é legal, porque os primeiros filmes nunca exploraram a conexão do personagem com o elementos fora da casa, mas também é vazia e ocupa muito espaço.

Se a decisão narrativa tivesse escolhido trazer mais de Renai (Rose Byrne) para a tela, introduzido um pouco do seu lado no mistério, as coisas poderiam ser mais interessantes, um pouco clichês sim, mas ao menos com algum potencial. Ao invés disso, a direção de Patrick Wilson joga a personagem de escanteio de uma forma que chega a ser ofensiva.

Apesar de Dalton ter brilhado no começo da franquia, aqui o personagem mostra o mesmo nível de empolgação de Andi Matichak como a neta de Laurie Strode em Halloween. É um personagem sem vida que não carrega o mínimo de carisma o suficiente para se tornar o centro do enredo. Não dá para reclamar que o filme o deixa como um protagonista, mas ao mesmo tempo ele parece jogado, ganhando vida mais para o meio e se dispersando para o final.

O primeiro jump scare de verdade do filme vem de um momento sem construção: é literalmente um barulho alto em meio a uma classe de alunos. Nele, não dá para sentir que o personagem está realmente em perigo ou que alguma desgraça de fato irá acontecer.

Em compensação, já para a reta final, quando Dalton e uma nova amiga resolvem investigar os fenômenos que amedrontam o garoto (como o medo do escuro) tem uma cena em particular que realmente é capaz de assustar onde vemos as luzes piscando e o rosto de Josh mudando drasticamente para uma forma demoníaca.

Quando o terror finalmente se apresenta no filme, é tarde demais para se importar com o que está acontecendo e de fato não importa muito se você escolher grudar os olhos na tela. Não há neblinas assustadoras ou vozes distorcidas para fazer os pelos das nossas peles se arrepiar, então tudo bem olhar para a tela quando sentir que a tensão estiver crescendo. É realmente uma peça distinta dos outros da saga porque não possui nenhuma dessas coisas, nem mesmo nada.

Na busca de contar uma história filosófica, até que dá certo. Em flashbacks e visões fortuitas, vemos o passado ser uma parte importante e central durante vários momentos, o que combina com a tentativa do filme de concluir alguns traumas de certas personagens que deixam a casca e ficam mais soltos, como Josh por exemplo.

Dá para discordar e muito de quem defende que o filme tenta se desviar da tensão óbvia que é implantada em filmes como A Freira e Annabelle. Como um último filme para uma franquia que se consolidou com a ideia de um terror próprio dentro do seu nicho, Sobrenatural tem um fim que derrapa em todas as promessas que foram feitas e entrega bem menos do que se propôs.

Filme: Sobrenatural: A Porta Vermelha

Direção: Patrick Wilson

Elenco: Ty Simpkins, Patrick Wilson, Lin Shaye, Rose Byrne, Andrew Astor, Leigh Whannell.

Nota: 5,00

Sobrenatural: A Porta Vermelha está em cartaz nos cinemas.

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